5 de jan. de 2021

sobre amor, romantismo, relacionamentos, normatividade e outros

 


Pessoas são complexas e, por conseguinte, relacionamentos são complexos desde que o tempo é tempo, desde que passamos a conviver em sociedade ou, se você prefere, desde Adão e Eva tretaram e foram expulsos do Éden.

Todos os modelos de relacionamento são uma construção ou desconstrução social, uma convenção que se aceita ou questiona (condenar é coisa de fascistas, se você condena qualquer tipo de relacionamento, afeto, sexo ou amor, melhor ir lá fazer arminha com o messias) conforme o entendimento de cada um de nós sobre o que é adequado sendo esse tipo de ato em si, um reflexo da bagagem sócio-cultural-familiar-religiosa da qual viemos, uns conseguem ter uma abertura de pensamento e compreender e até mesmo abraçar novos modelos de relacionamento, outros não conseguem romper com essa bagagem e preferem seguir modelos mais tradicionais, normativos e baseados em conceitos e regras normativas que ditam costumes desde que o mundo resolveu ser gerido e não vivido.

Dizer quem está errado e quem está certo em aceitar, questionar, viver, não viver quaisquer tipos de relacionamento não cabe a nenhum de nós, só se você prefere usar a forma de amar alheia como instrumento de subjugar, humilhar e excluir quem ama e se relaciona diferente do normativo maximizando a diferença em nome de uma igualdade que nivela a todos por baixo.
Os modelos tradicionais de relacionamento seguem existindo, jamais deixarão de existir pois são a base e pilar da sociedade mundial (raras exceções) e um excelente método de controle social, moral, político e econômico. Não digo que sejam modelos falidos porque se o fossem, já teriam sido extintos há séculos, a evolução é lenta mas implacável e, com isso em mente, quem ousa contestar tais modelos normativos, os padrões, age em nome da evolução da espécie e é execrado porque representa o novo e, como diz a canção, o novo sempre vem.

Mas, isso não quer dizer que os novos modelos de relacionamento irão sepultar os tradicionais e instaurar algum tipo de 'ditadura orgástica', podem ficar tranquilos que ninguém vai propor uma reforma agrária sexual ou contestar heranças. O que os novos modelos de relacionamento contestam é a visão obsoleta e viciosa de que amar alguém significa emitir nota fiscal, certificado de compra e termo de garantia de felicidade eterna e não se enganem, eu já fui totalmente conservador em termos de relacionamentos, amor e sexo e hoje, cheguei num ponto em que demoli essas crenças e me libertei das amarras que a sociedade desde sempre me infligiu.

A monogamia é bela enquanto item romântico, valorizada nas artes e mídia como valor máximo de lealdade e dedicação de uma pessoa para com outra o que é uma falácia vendida como ouro para manter as pessoas felizes e unidas, pelo bem da sociedade e da tradição, essas coisas que só fazem a gente andar para trás.

O conceito de monogamia é uma construção social perpetuada pela religião e sociedade para manter, acima de tudo, poder e dinheiro dentro dos mesmos círculos assim como a pobreza e a miséria igualmente presas em seus respectivos círculos. Criou-se um conceito de lealdade e traição culpando sentimentos naturais humanos e chamando de pecado e outros nomes o amor e o sexo que sentimos por outras pessoas que não sejam as que elegemos para amar num determinado momento e que deveriam, pela regra, ser a mesma pessoas que amaremos e sexualizaremos até o fim do nosso tempo de vida.

Isso é tão tóxico e perverso que chega às vias do sadismos, fico pensando se as classes inventoras dessa regra não ficam rindo a toa de nós que insistimos em aplicar esse modelo enquanto eles mesmo devem seguir outros modelos amparados pelo poder socioeconômico que lhes dá liberdade e liberalidade absolutos.

Ao insistirmos num modelo que prende uma pessoa a outra por laços e convenções, estamos matando o que de primordial existe em nós, o desejo e ele é responsável por quase tudo que nossa raça construiu, pense como seria se todos os pensadores e cientistas não pudessem dar vazão aos seus desejos? E, antes que venham questionar que são coisas muito distintas, digo que não, o desejo humano é amplo e diverso demais e enclausurá-lo apenas na dimensão do sexo e do amor é de uma limitação mental imensa.

Há uma maldade ímpar em tolher o desejo e o amor uns dos outros demandando que somos suficientes para atender e fazer uns aos outros felizes, satisfeitos e plenos, com isso, passamos a jogar a responsabilidade da felicidade no colo alheio e, quando essa pessoa falha em cumprir o acordo porque é humanamente impossível que ela possa ser responsável por nos fazer felizes, chegamos a culpa, a frustração e acusações de traição e falta de lealdade e amor quando, na verdade, todos são culpados por uma desgraça generalizada a partir do momento em que nos julgamos incapazes de chamar a responsabilidade de sermos felizes para nós mesmos.

Demandar do outro uma lealdade e contrato afeto-sexual é matar o amor em seu berço porque é muito pouco provável (não digo impossível) que durante nosso tempo de vida apenas uma pessoas consiga suprir tudo o que desejamos, sonhamos, sentimos, sexualizamos ou seja o que for e assim, voltamos ao parágrafo anterior onde a responsabilidade é culpa do outro, não nossa.

Recolher e cingir o amor e sexo a um modelo fixo e preso é a razão de cada vez mais precisarmos de psiquiatras e ansiolíticos, terapeutas que nos ensinem a amar e relacionar uns com os outros porque não temos a capacidade de entender que somos complexos e diversos demais para abarcar o amor e o sexo com apenas uma pessoa o que não significa que cada uma das pessoas que amamos, transamos e nos relacionamos, seja o mesmo tempo ou uma de cada vez, tragam uma importância única ou algum tipo de lição, aprendizado seja ele para o bem ou para o mal nos fazendo crescer e encarar alguns fatos.

Não podemos ser donos uns dos outros, para isso já existe a religião e os governos, se não pudermos ter liberdade de amar e transar como e com quem desejarmos estamos fadados e ficar batendo boca nas redes sociais e seguir fazendo o jogo de quem fica lá de cima olhando a gente se demolir. Demandar uma posse de algo que deveria ser universal é um crime hediondo.

E não pense que atesto com isso tudo que os novos modelos de relacionamento são putaria apenas, coisa de gente promíscua e que não valoriza a si e ao outro. Ledo engano esse causado pela visão monocentrada do amor e do sexo, amar e desejar mais de uma pessoa não é isso, não quer dizer que faremos de nossos corpos e almas monumentos hedonistas do prazer mas apenas que reconhecemos a liberdade absoluta de nossos corpos e de nossos afetos, que não nos vemos como amos e senhores uns dos outros mas como iguais, com os mesmos medos, amores e desejos, com o mesmo tesão e necessidade de sermos livres para amar e transar da forma que nos parece melhor e, ao mesmo tempo, de escolhermos a pessoa ou pessoas com quem desejamos ter mais do que um simples flerte ou sexo casual.

Há uma confusão quando se fala de relacionamentos abertos, poliamorosos e afins, que são pessoas que vivem em orgia constante e nada poderia ser mais distante da verdade. Podemos nos atrair e interessar por outras pessoas, ao mesmo tempo, em tempos diferentes e até nem mesmo termos alguém fixo mas, quando temos, aquela pessoas acaba se tornando um centro de tudo que vivemos e a vida que construímos com ela é maior do que qualquer outra coisa que porventura venhamos a ter com outras pessoas, ou pode até ser parte de outra coisa maior que venhamos a ter, quem sabe?

Novos modelos de relacionamento não são o fim do relacionamento mas um passo em direção a evolução dele, não quer dizer que jogamos o amor e o respeito na lata do lixo, o oposto disso pois todos que eu conheço que seguem esse modelo (eu incluso) seguem em relacionamentos longevos e harmoniosos na medida do humanamente possível e não foi a abertura ou a liberdade sexual que pôs me risco a relação ou o amor, se isso aconteceu não foi culpa disso mas de causas já pré-existentes, como dizem, impérios não caem da noite para o dia, eles começas a ruir por dentro.

Acima de tudo, o importante é encontrar o modelo de relacionamento que funciona para você e para a pessoa ou pessoas que você quer ter a seu lado, o combinado não sai caro.

O que sai muito, mas muito caro, é ficar julgando e condenando uns aos outros, que eu saiba, ninguém sai ganhando com isso...

Um comentário:

  1. A cada tipo de pé, um tipo de sapato. Se o pé muda ao longo da vida, o sapato também pode ser adaptado ou substituído, mas tudo pode dar certo, seja a manogamia ou outra configuração qualquer de relacionamento, se o pé encontra seu número ou se o sapato encontra o pé certo. O velho pode ser bom para muita gente, o novo pode ser bom para um monte de outras pessoas, e ainda vai ter gente que não se encaixa aqui, ali ou acolá. Já vi muita coisa no picadeiro da vida para saber que nada é exatamente o que parece para quem assiste.

    Pela liberdade de se viver como se desejar com quem desejar a mesma coisa sem qualquer necessidade de se justificar para terceiros. ^^ Nada melhor do que isso.

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