28 de abr. de 2022

o grande i(r)mão

Reality Shows viraram um fonte de entretenimento e principalmente grana para emissoras de TV e streaming, é impressionante a quantidade e variedade de shows desse tipo desde o consagrado BBB até shows dedicados e podólogos, cirurgias plásticas, obesidade, compras, leilões e por aí vai, pensa numa categoria, certamente haverá um show dedicado a ela.

A realidade da televisão é muito mais atraente que a das ruas e, através delas, demonstramos nossos gostos, preferências, insatisfações, desejos, medos e tudo mais, não ficaria admirado se dentro de mais alguns anos ou décadas ao invés de escolhermos nossos governantes e representantes pelo voto, o fizermos por um desses shows, trancamos os candidatos dentro de um casa e o vencedor será eleito presidente, parece loucura mas acho bem plausível e, de certa maneira, talvez melhor do que urna, pensem bem, isolar os candidatos sem apoio de suas equipes, pesquisas e mídias, veríamos bem como cada um deles é na verdade.

O problema desse tipo de entretenimento que, pessoalmente, acho tóxico, nocivo e totalmente preparado para apresentar resultados desejados, é tratar a realidade como algo maleável e não multifacetado, encerrar atrás de uma câmera um tipo de realidade que vai longe do que temos aqui fora.

Da mesma forma, formadores de opinião e influenciadores (talvez a pior invenção da internet) da era digital tratam, salvo algumas poucas exceções, temas espinhosos com a profundidade de uma poça d'água quando não são tendenciosos seja por desconhecimento das questões abordadas ou por serem paus mandados do establishment.

Tanto estes como seus parentes da TV padecem desses males e são apenas sintomas de uma patologia mais profunda resultante do avanço do conservadorismo e da polarização irreversível que vivemos. Através desses programas podemos dar vazão ao pior de nós sem, algumas vezes, sermos associados a assuntos ou ideias pouco elogiosas afinal, ficamos diluídos no meio de tantos outros opinando mas, esses programas deixam claro qual caminho a sociedade está seguindo vide a final do BBB atual onde apenas homens permanecem e o mais cotado para vencer é um homem, cis, branco e certamente Bolsonarista.

O grande trunfo do Bolsonarismo foi se inserir nessas brechas e delas fazer pequenos mundos onde a única realidade que vale é a deles, qualquer outra é execrada e vetada. Os influenciadores que flertam, intencionalmente ou não, como ideias de extrema direita acham nesses mundos terreno fértil e seguro para seguir com suas barbaridades sob o manto da liberdade de expressão e, sob o manto de perseguidos, alardear ainda mais suas ideias descabidas.

Se antes Reality Shows eram diversão inócua para esvaziar a mente, hoje são pequenas bastilhas de ideias pútridas e da extrema direita porque não promovem discussões efetivas mas a pasteurização de temas delicados tratados, assim como seus colegas de outras redes, com a relevância de um like.

Há exceções? Claro! Mas são poucas porque não adianta fazer um podcast de duas horas e meia para falar de política para toda uma geração que mal suporta consumir 140 caracteres e foi criada com o shuffle ligado, enquanto não tivermos uma linguagem mais assertiva e direta para explicar essas coisas o Bolsonarismo e seus seguidores estarão na vantagem pois ele dominam a narrativa, mesmo que ela não possua conteúdo, ela atinge seu público e fala exatamente do jeito que eles esperam, não adianta a esquerda bater nas teclas que todos já sabem porque os de fora não estão propensos a ouvir.

O fato é que estamos criando pessoas incapazes de se aprofundar em qualquer assunto, reféns de formadores de opinião que não tem opinião ou apenas ecoam opiniões que ouviram falar, quem promove discussão ou entendimento é chato ou esquerdista porque a realidade deve ser igual a da TV e não complexa como é.

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