19 de ago. de 2021
pequenos contos de isolamento
Quando acabou a quarentena, sai correndo nu pelas ruas e fui preso por mãos afoitas que não sabiam mais como era tocar um corpo. Cumpri perpétua que durou até o primeiro gozo.
Quando acabou a quarentena, abriu aquela champanhe barata que guardava feito relíquia sagrada. Ligou o som, aumentou o volume e bebeu, cantou, gritou, da janela, em uníssono com todos os outros que também celebravam. Ébrio, dançou pela casa, rodopiou, derramou a bebida no tapete cansado de guerra, proferiu palavras de ordem e já se acercando do cansaço, masturbou-se e dormiu. No dia seguinte, acordou de ressaca. Banho frio, café forte, jornais matutinos noticiando a volta do normal. Vestiu-se e munido de ânimo, abriu a porta para encarar essa nova normalidade que chegara, a vida morreu, longa vida a vida. Olhou para a rua e, com um tremor incontrolável, fechou a porta e voltou para dentro de casa. Despiu-se, encolheu-se no sofá enquanto a televisão lhe trazia aquele admirável mundo novo.
Quando acabou a quarentena, tomou banho, fez barba, escovou dentes, desodorante e perfume. Vestiu a melhor roupa, cueca nova, sapato novo, tudo zero afinal, ele a rua iriam desvirginar, carecia fazer a corte; há tempos estavam em namoro platônico, soltando suspiros pelos pulmões e asfalto. Deu uma última olhada no espelho só por garantia e, dono de segurança inabalável construída durante a quarentena, saiu ao encontro da amada. Morreu atropelado ao colocar os pés na rua, o sangue escorreu pelo asfalto quente, o trânsito nervoso saindo da quarentena reclamou, as pessoas aglomeraram para ver algo que não viam há tempos. Alguns juravam ter visto água correndo junto com o sangue. Talvez um encanamento aberto. Talvez a rua chorando o amado e pedindo desculpas afinal, era de sua natureza.
18 de ago. de 2021
as flores do jardim da nossa casa....
as flores do jardim da nossa casa...
morreram de saudade de você e eu arranquei todas e joguei fora porque pra morrer de saudade de você já basta eu.
17 de ago. de 2021
os morangos na parede
16 de ago. de 2021
o mundo é um polegar pra cima
o mundo é um polegar para cima, as mãos não tem mais cinco dedos mas cinco polegares, todos prontos para decidir entre vida e morte ou pior, esquecicancelamento eterno, hoje não matamos mais, pena de morte é obsoleta porque termina, acaba, fim da linha e não há mais como reviver ou condenar, morto não fala, pode ser crime ou vítima, foi-se, pode ser feito o que for e ninguém faz nada a respeito mas o vivo sim, sofre, carne e pele e ossos.
a necessidade de justiça expressa impera, impreca, cancelar é o esquecer sem deixar a memória ir embora e memórias foram feitas para serem diluídas, no tempo, depois virarem algo a ser degustado com gosto ou amargor mas não, no imediato que devora precisamos dos polegares e corações e ups, vida extra que compramos com os filtros e reels e memes e tiks e toks e tudo. entre like e dislike a vida vai correndo da gente porque ela virou algo que precisa encaixar e sempre foi de expandir, não foi a vida que ficou chata, pequena, iludida, falsa e sem sal, fomos nós imersos nas telas coloridas, pescoços curvados, olhos vermelhos, tela morta, sem descanso de tela, pausa ou break, enlatados, consumidos, engarrafados, consumo imediato, não consuma se o lacre estiver aberto, tudo precisa estar fechado, encapsulado, envolto em banners, anúncios, inserções e tempo para pular o anúncio.
e a hipocrisia enfim, igual ao meme, somos os memes que nunca param, fora do insta, do face, do tik, do pint, do tumb, tudo bem (?) sim claro porque não estaria (?) só pode estar porque a gente só fica sabendo através deles, não da gente mesmo, aquele ali não sou eu não, é uma cópia, esse aqui na timeline, feed sim sou eu, olha que beleza, olha como fico bem nesse filtro, com essa luz e esse bico, tem de ser com gesto senão não tem engajamento, engajar é preciso viver não é preciso aliás nunca foi, viver sempre foi impreciso porque se for preciso não é viver mas emular.
a vida que se emula é a vida que empaca feito mula.
12 de ago. de 2021
printing...
Quando você não tem mais certeza de que o jogo está a ser favor e não sabe o que fazer pois nunca foi e nem será um bom perdedor, o contrário disso, você só acredita na sua versão dos fatos, melhor estilo insista na mentira até que ela se torne verdade, o que você faz?
Aumenta a aposta pois não tem nada a perder e, se o circo pegar foro você vai é gostar.
Com o derretimento lento e persistente de sua popularidade, sustentada apenas dentro de um círculo barulhento de seguidores, a saída é colocar em cheque todo o sistema que colocou você onde está e se fez isso então qual o problema mas, lógica nunca foi nem será seu forte, não é mesmo?
Já que as certezas estão ruindo, coloquemos em cheque o sistema pois ele só pode ser falho se não corrobora sua versão dos fatos. O maior trunfo do Bolsonarismo é bater forte e com barulho sem precisar apresentar argumentos ou fatos, basta a palavra, basta o berro, basta suspeitar porque o bom fascista, além de cuzão, é um fanfarrão que só sabe atuar no grito, no latido, no berro, quando confrontado com suas falácias corta o papo, interrompe e sai sem dar satisfação porque não é ele que não tem embasamento, somos nós que não estamos entendendo e não queremos entender ou lhe dar ouvidos.
Com uma CPI nos calcanhares, Lula pairando sob sua cabeça feito ave de mau agouro e um governo débil e feito de fantoches, Bolsonaro faz o que sabe fazer melhor, grita, ameaça, faz a louca, prende e arrebenta, nada de novo, ele sempre foi assim, ele vai ameaçando para ver até onde pode ir sem ter de pagar o pato, distende as leis e a democracia para testar os limites e isso é um perigo pois essas coisas tem sim limites e, se não soubermos onde estão para impor, ele vai se aproveitar das brechas e entrar de sola com seu gado.
Bolsonaro conta com o caos, ele não zela pela ordem, deseja a bagunça, o barulho, a confusão porque somente assim ele pode seguir fazendo o que sabe fazer de melhor, mentir e enganar, onde há harmonia esse tipo de político não tem vez, fica de lado feito um palhaço que diverte mas, onde há desordem, ele se torna um animal perigoso, extremamente perigoso...
11 de ago. de 2021
retícula
Retícula película fina, segunda pele primeira, contato com o mundo de fora umbilicando sensações e sentimentos num mimetismo de mim que servia bem enquanto larva incubando.
A luz, sim, ela veio nos olhos, quis desviar mas ela é demais de bela, chama o nome da gente quando ninguém mais lembra dele e fui aos poucos rasgando a pela fina, de Hansen e ganhei de volta aquele mundo que eu havia me fechado no dia em que aquele outro me fechou o seu. Agora eu retornava mariposa única, ímpar e louco para voar não em círculos mas direto para a luz; a mesma luz de fato, não havia nela mesmo algo assim diferente mas meus olhos recém nascidos não viam assim, viam uma paleta de cores nunca vistas e que chamavam tão forte com som trovejando nos ouvidos sensíveis de inseto criança sedento da vida drosófila que me aguardava.
Fui, linha reta e entrei naquela luz e a devorei toda com a fome de quem ficou muito enclausurado apenas comendo o próprio corpo para não morrer na fome. Os náufragos aprendem a gerenciar seus recursos até o limite do suportável até que a humanidade descarta o humano e chama correndo o animal para fazer valer as leis mais antigas, com novo amor nunca foi diferente e a luz foi diminuindo aos poucos, assim apagando, perdendo primeiro viço e depois brilho, potencia até que era algo como vela lutando contra ventania pré-tempestade.
Qual a culpa que me cabe se estava faminto? Ou ser a sina do inseto chegar sempre assim tão perto da luz para queimar antes de devorá-la por completo? Quando ia saciar minha fome, me foi tirado o prato, acionaram o interruptor e a luz se foi deixando a mim cego, sem rumo e voando a esmo.
Sem luz, voltou a fome, ainda mais forte, viral, dentes arreganhados para mim que, cansado, podia fazer pouco para lhe atender os desejos salvo parar o voo e encontrar outro lugar para pouso e repouso. Isso feito, bastou trazer a fome para bem perto de mim, no colo mesmo, acarinhar e lhe dar aos poucos pedaços de mim para que ela regurgitasse uma resina fina, translúcida que fui aplicando sobre mim aos poucos até estar novamente no casulo protetor.
Agora, depois, através da pele fina que protege parece vir algo, não sei, difícil dizer ainda assim distante mas, acho que parece uma luz....
10 de ago. de 2021
a nudez do asfalto
nos amamos no asfalto quente derretendo piche e alcatrão em camadas de pneus rasgando peles e deixando os ossos a mostra para expor o tutano de amor que nunca fizemos, escuso, obscuro, escondido, de lado, não visto, sem nome, sem cara, sem cor, nafta feita de corpos e poeira de vida.
nos suprimos de vontade e desejo onde havia falta de sossego, ali no asfalto, com o inverno de faróis e luzes a esfriar os poros, com freios e embreagens mudando o ritmo da coisa, marcha lenta, marcha, em frente, soldado cabeça de papel se não marchar direito vai de volta para o umbral, armário, guarda roupa, cômoda, mesa de cabeceira, isolada, morta, feito asfalto abandonado em ruas nunca trafegadas.
as bocas lambendo o líquido quente, desviando dos escapamentos, eles estão ali para afogar, para matar, a faixa de pedestres que nunca usamos, o semáforo que nunca respeitamos, os bueiros que sempre usamos, os postes que sempre fugimos, na luz não há paz, só no asfalto, escuro, preto, espesso, grosso feito aquele leite que bebemos, daria para fritar um ovo, nossos ovos, nosso carne em bacon, nossa vitela vital servida para todos que por ali passavam.
e eu vi nosso sangue, e nossos pelos, e nossas mãos e nossos pés sem tocar o asfalto, quente, derretendo mas a gente não, lisos, sem mácula, feitos de um amor que tapa buracos, que derrete borracha, que amassa lataria, que faz ferver óleo de motor, que exala gás do corpo e inala gás carbônico.
nesse mundo feito de asfalto...
9 de ago. de 2021
seu reinaldo
seu reinaldo era um pai só que meu. ele me ensinou a cozinhar, a gostar de música, a gostar de comer, a gostar de comida, me ensinou muita coisa, deixou de ensinar outras tantas porque pai não consegue ensinar tudo, tenta mas não consegue porque nem ele sabe direito, faz o melhor, às vezes consegue, outras falha miseravelmente, assim é o jogo de pai e filho.
seu reinaldo tinha defeitos, muitos, mais do que eu consigo lembrar e contar, normal, pai não é deus ainda que ele seja chamado de pai, pai é gente, carne e osso que usamos como referência, como suporte, como adubo para o que crescemos. muitos de seus defeitos eu tenho, genética foda, perdoa não, outros eu aboli para deixar entrar os meus mesmo, adquiridos, criados, sou cheio deles graças a deus e ao pai, a maior dádiva paterna deve ser nos passar seus defeitos e com eles talvez a maneira de corrigi-los.
seu reinaldo fazia uma tora de palmito que eu aprendi a fazer também, até hoje quando faço acho que sou ele sovando a massa, preparando o recheio, abrindo com o rolo, forrando a forma e depois colocando alguma frase por cima com o que sobrou. acho que tem o mesmo gosto mas a dele tinha algo que a minha não tem pai, não sou pai de nada nem de ninguém, ele era, acho que isso ficava na massa e o sabor era diferente, de pai mesmo.
seu reinaldo tentou me fazer gostar de futebol mas não deu certo, eu já era viado desde cedo, desde pequeno, desde zigoto, acho que ele percebeu e nunca mais insistiu, acho que ele ficou triste quando assumimos nossa homossexualidade porque assumir ser gay não é só para você, é para todos, você sai do armário e leva família, cachorro, gato e papagaio junto, a família às vezes vem junto, às vezes não vem, fica no armário porque lá é mais confortável e a gente visita eles no armário de tempos em tempos, vê se eles querem sair, às vezes sim, às vezes não, tudo bem, deixa eles saírem quando for o momento.
seu reinaldo saiu comigo. não sei se ele aceitou bem, se gostou, se não gostou, nunca falamos muito sobre mas, ele sempre esteve lá, conheceu meus homens, nunca perguntou nada e os tratava como filhos, alguns pelo menos e sempre que percebia - sim, eles sabem - que era algo mais sério, admoestava o pretendente com a frase 'cuide bem do meu filho' deixando ele a e a mim em choque.
seu reinaldo já se foi mas ainda está aqui. eu sou ele. não há como negar. trejeitos, fala, maneirismos, gírias, já me disseram que eu sou ele e isso é bom eu acho. se temos de ser parecidos com alguém, tomara que seja com nossos pais tanto no melhor quanto no pior, melhor culpar a genética e a criação do que ter de aceitar que somos produtos falhos de nós mesmos...
5 de ago. de 2021
o canto mais escuro da casa
quatro paredes e um teto. janelas. portas. cimento. tijolos. vidro. alicerce de uma vida feita sob medida para medir tudo que tem medida porque a gente é de medir, tudo precisa de centímetros, milímetros, metros e termina em quilômetros.
essa é a lei. essa é a regra. essa é a norma. essa é a carta magna que rege os corações magros depois de anos de alimentação desregrada, artérias cheias e sangue vazio, vermelho de raiva, não de vida. pulmões cheios de pó, o ar saiu e nunca mais entrou, resta esse pó que entra em cada fresta, tijolo e deixa os vidros com marcas de dedos, digitais, falas táteis de um mundo que não é mais.
paredes tem ouvidos. portas tem línguas. janelas tem olhos. da alma não sei. olham para o vazio dentro. olham para o vidro quebrado dentro. olham para as dunas, para os pratos e talheres, para os copos e carpetes, para os restos mortais de uma vida que se viveu não se sabe porque vida tem de viver e estar viva e não simulacro de viver, vida é viva, se não é deve ser não-vida.
o telefone não toca mais e se toca, canta sua música para um campo de mudez que rega os restos de realidade que pululam pela casa que de casa teve dias mas hoje é mais casamata, relíquia de uma guerra perdida e de batalhas que seguem dia a dia porque se esqueceram de que a guerra já terminou.
a tv não liga mais, nunca ligou mas agora não liga mais. o toca discos toca ar sem notas, ruído branco, ruído de ratos cochichando pelos cantos, ruído de gotas na pia do banheiro, cheio de cacos de um vidro estranho que partiu, partido alto, partido tanto de quebrado como de ir sem voltar, só de ida.
quatro paredes e um teto.
no canto mais escuro da casa enterrei você com o resto da vida dessa casa que não soube quando chegou o não.
4 de ago. de 2021
eu quero ser o que você não foi para mim
eu quero ser o que você não foi pra mim porque se eu for o que você foi pra mim então eu preciso ser o que eu não fui pra você.
o trago que alagou a garganta. o cigarro que queimou minha mão. o choro que eu não senti. o choro que você negou. o sexo que eu não vi. o sexo que eu fiz sem ter você. o você que eu fiz sem ter sexo. o macarrão que você fritava. o almoço que eu perdi. o ciúme que nunca sentimos. o ciúme que nunca sumiu. o beijo que não saía. o beijo que vazava. o beijo de outras bocas que nunca era o seu. o beijo seu que vinha de outras bocas. as separações que acabavam voltando. as voltas que acabavam separando mais. as festas que não eram nossas. as festas que eram nossas. as festas que a gente buscava. o que a gente buscava nas festas. o que as festas buscavam, o que gente nunca achava. o que as festas nunca traziam. o vício que nunca tivemos. o vício que tínhamos um no outro. as músicas que você amava. as músicas que eu odiava. as músicas que eu fingia odiar. as músicas que você me fez odiar. as músicas que eu fiz você odiar. as músicas que a gente gostava e odiava. as músicas que a gente descobriu juntos. o show que nunca fomos, o show que fomos e que nunca ficamos. os presentes que nunca nos demos. os presentes que nos demos e esquecemos. os presentes que dávamos porque achávamos que eram prova de amor. o amor que não precisava de provas. os filmes que a gente não viu. os filmes que a gente viu. os filmes que a gente podia ter feito. os filmes que nunca fizemos. os prêmios que nunca ganhamos. os prêmios que ganhamos e esquecemos. o choro que vazou. o choro que venceu. o amor que morreu. a morte que veio. a morte que foi. a morte que matou mas deixou você ainda comigo. a lembrança que os anos não levam embora. a lembrança que com o passar do tempo não fica amarela. as cores que ficam mais vivas. as cores que ficam mais fortes. as cores que vivem em mim. as cores que você viu. as cores que eu vi. o estar lá quando não há mais ninguém lá. o estar lá quando for de chegar. o chegar quando estiver lá. o chegar quando for o momento, quando o momento chegar...
3 de ago. de 2021
o tédio é coragem que matamos com a vida adulta
talvez seja saudosismo, nostalgia, um tipo de saudade que a idade vai fomentando feito massa de pão que ela vai sovando quando somos imberbes porque sabe que a massa cresce mas leva tempo, muito tempo. talvez uma constatação de que os anos não dobram a gente, a gente é que vai dobrando os anos conforme eles se acumulam, vamos dobrando cuidadosamente um a um formando uma pilha de folhinhas amarelas que vão se amontoado num canto da gente feito poeira que a vassoura não consegue limpar.
tudo isso vai se formando num caldo que faz a gente começar a valorizar o que foi, não que o valor do que é não seja, não esteja e não valorize mas, o que foi parece feito de outra liga, material ou feitura, brilha diferente, tem uma luza própria que ofusca o agora com uma cegueira incapaz de ser curada, um perfume impossível de tirar do nariz, um gosto que não sai nem com água sanitária, um toque que não cicatriza mesmo depois de anos.
pode ser um atestado de senilidade ante a agilidade e rapidez que imperam, o hoje tem muito poder, o agora virou algo tão precioso, o momento virou um ouro raro, tudo tem de ser imediatamente processado, gostado, curtido, levado, sentido e tanta adrenalina vai para onde? cérebro fica encharcado de tensão e tudo precisa ser valorizado num segundo e seu milésimo e quando eu era das horas e dias as coisas pareciam durar mais, sentir mais, gozar mais porque não havia como saber e sentir sem arriscar, sem o medo de estar totalmente errado e sem qualquer tipo de manual, guia ou canal que pudesse dizer o que era e o que não era, vivíamos o mistério, o desconhecido, tudo se desdobrava a nossa frente como um tipo de véu espesso que íamos tirando apenas para descobrir outras camadas debaixo e não acabava nunca e a gente precisava ir tirando para saber o que viria depois.
eu sinto falta desse mistério, desse descobrimento, dessa sensação de não saber de nada e achar que sabia de tudo, dessa vida obscura que não se deixava observar, a gente precisava fazer a cirurgia de peito aberto e sem anestesia para senti o que estava acontecendo e depois resolvia o que fazer com a dor ou com o prazer que muitas vezes vinham juntos. sei que hoje esse mesmo mistério ainda está por aí, mesmo com tudo tão nas caras, mostra, vivo, aberto em milhões de feeds e likes mas ele está lá, o mistério segue firme e forte porque ele não tem medo de nada, nem do like nem do block, ele se reinventa e segue nos mantendo vivos porque sem ele a gente morre e se a gente morre qual vai ser o mistério?
2 de ago. de 2021
pequenos momentos rompantes
quando o carteiro chegou e meu nome gritou com uma carta na mão descarreguei o pente no filho da puta porque de notícias suas eu quero é distância
eu cheguei em frente ao portão, meu cachorro me sorriu latindo e eu mandei sacrificar porque cachorro sorrindo latindo não é coisa normal.
quando você se separou de mim quase que minha vida teve fim mas depois passou e dei graças e deus por você ter ido embora.
quando o inverno chegar eu quero estar junto a ti para ver você morrer de frio na minha frente.
eu tenho tanto pra te falar mas com palavras não sei dizer então toma aqui esse chumbinho que vai dar conta do recado.
lembranças aleatórias não relacionadas com a infância
Lembrança #10 Lembro de uma festa ou rave ou balada que eu ajudei um amigo a organizar num tipo de sítio eu acho. Estava separado do meu nam...
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Lembrança #10 Lembro de uma festa ou rave ou balada que eu ajudei um amigo a organizar num tipo de sítio eu acho. Estava separado do meu nam...
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seis horas, ave maria, rosário na mão para entrar no vagão cheio. vai com a turba, vai fundo, não tem volta, apenas vai. seis horas, ave...
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eu não, eu não e você eu sim, eu sim. essa dicotomia foi se arrastando pra dentro de nós com o tempo, matando aos poucos, pressionando se...