31 de mar. de 2020
O Louco
O Louco está lá, melhor, o colocamos lá pensando que por ser Louco iria ajudar a todos nós nesse hospício mas ele era Louco, não besta.
Aí, o Louco começou a falar umas coisas estranhas, que não eram as doideiras que estávamos acostumados a ouvir quando ele ainda era interno como nós. Eram coisas muito diferentes e até mesmo alguns de nós Loucos passamos a dizer que ele era mais louco do que a gente enquanto outros Loucos achavam que ele já não era mais Louco mas são e aplaudiam suas frases disparatadas como se fossem um alívio para os dementes.
O Louco acreditava tanto na coisas que falava que as entendeu como verdade e ele não era mais Louco, era o único normal no hospício e passou a mandar e desmandar como lhe aprouvesse, demitia funcionários que não iam de encontro a suas Loucuras, desdiziam delas ou o contradiziam ante os demais Loucos.
O Louco não aceitava quando o chamavam de Louco, mesmo sabendo que havia saído dali, daquele meio de doidos, ele não era mais Louco. Quem o chamasse de Louco era isolado, chamado de do contra, inimigo dos Loucos, vilão, Louco de pedra e muitas vezes, internado em solitária para não contaminar aos demais Loucos com suas Loucuras absurdas.
O Louco adorava aparecer, sempre fazia comícios no hospício mas apenas para seus Loucos seguidores, para os outros ele não falava nada porque dizia que eles eram Loucos e só deturpariam o que ele dissesse. O Louco amava propagar notícias Loucas como se fossem bençãos, dizia que era a única fonte de normalidade ali dentro, qualquer outra fonte era Louca e não confiável.
O Louco tinha acessos de raiva, dizia que não era pela Loucura mas porque o chamavam de Louco quando ele não o era. O Louco às vezes falava uma coisa e fazia outra e dizia a quem o contestasse que Loucos eram eles e que ele sabia exatamente o que estava fazendo.
Um dia, apareceu uma doença no hospício, não as da mente ou psiquê mas dessas que matam de verdade, contágio, praga, chaga, moléstia grave. O Louco disse que era mentira, que não era nada demais e que todos deviam seguir com suas vidas Loucas normalmente, que a histeria - salvo em casos congênitos ou patológicos - apenas faria mal a todos ali.
Mas os Loucos começaram a morrer e mesmo assim, O Louco seguia dizendo que não havia nada a temer, que era assim mesmo, Loucos nascem e morrem todos os dias, não era nada demais e a vida no hospício precisava seguir seu ritmo e rotina.
O Louco foi aos poucos perdendo sua voz junto aos Loucos, mesmo entre aqueles que apoiavam sua Loucura pois os Loucos morriam aos montes e até um Louco sabe quando a Loucura passa dos limites e vira caso de vida ou morte.
O Louco ainda tentou virar o jogo e tomar controle total do hospício mas não deu certo. O Louco foi aos poucos falando para cada vez menos Loucos até que, certo dia, percebeu que não havia mais ninguém a lhe ouvir e que ele estava sozinho no hospício.
Desesperado, o Louco saiu correndo pelos corredores e alas perguntando a todos que encontrava onde estavam seus amigos Loucos mas ninguém lhe respondia. Fugiam dele. Evitavam. Faziam de conta que ele não estava lá.
Quando finalmente alguém se dignou a lhe responder porque ninguém lhe dava atenção ouviu:
E porque deveriam? Você é Louco...
30 de mar. de 2020
Discurso para um país que já foi
Boa noite.
Desde que adotamos o isolamento vertical para enfrentar a crise do COVID-19, nossa economia tem apresentado claros sinais de melhora e recuperação e conseguimos controlar a expansão da epidemia em nossa pátria.
O isolamento de cidadãos de grupos de risco como idosos, doentes crônicos, homossexuais, pessoas de baixa renda e outras minorias mostrou-se uma decisão acertada, prudente e alinhada com os anseios de uma nação que precisa crescer, trabalhar e colocar o sustento de volta às mesas de todos os brasileiros.
Alguns políticos e governadores contrários a estas medidas, fomentadores do caos e da histeria e usando da crise para aumentar seu capital político foram devidamente demovidos de suas responsabilidades e substituídos por técnicos e militares capacitados e alinhados com a determinação de meu gabinete de que o Brasil não pode cair de joelhos ante um simples gripe.
Adotamos medidas severas de contenção, a cloroquina foi distribuída a todos os grupos de risco e pessoas doentes e tudo isso sem parar o país como muitos desejavam. Tivemos muitas mortes mas, por minha vivência de atleta e militar sei que numa batalha ou competição sempre teremos perdedores e alguns mortos, lamentamos tais perdas mas são um custo necessário para que a maioria siga com suas vidas e contribuindo para fazer de nosso país uma grande nação novamente.
O sangue destes patriotas tombados nessa luta contra essa doença será para sempre venerado, serão nossos eternos heróis e deles jamais esqueceremos assim como jamais esqueceremos dos inimigos do povo que se aproveitaram do caos, do pânico e do medo para minar uma presidência eleita democraticamente pelo povo.
Seguiremos com nossa luta para fazer de nossa amada pátria uma grande nação onde as famílias de bem, os cristãos e a morale bons costumes sejam sempre nosso norte e nossa luta jamais cessará para que isso ocorra.
A todos os patriotas, uma boa noite e obrigado.
E o que é isso?
Não sei, apertei esse botão aqui nesse negócio e ele começou a passar isso aí
Sério?
Sim, estranho não?
Muito, falei que não deveríamos ter vindo aqui, todos falam que não é um bom lugar.
Mas, se ninguém fala de quando isso aconteceu, eu quero saber você não?
E faz diferença?
Claro que faz!
Não acho, tudo isso foi há tanto tempo, dizem que nem aconteceu de verdade e que esse cara é uma invenção..
Não acho que seja, me parece bem real, eles não tinham como fazer algo assim de mentira, não naquela época.
Parece que não mas vai saber, faz tanto tempo, ninguém sabe ao certo, a gente sabe só que naquela época morreu quase todo mundo.
Verdade, quem sobrou viveu pouco para contar mas ainda acho que é verdade sim
Verdade ou não é melhor irmos antes que nos peguem aqui, você sabe que eles não gostam quando ficamos fuçando nessas ruínas.
Tem razão, vamos embora, isso tudo é besteira mesmo, vamos voltar e tentar achar algo para comer.
E saíram os dois para o país que um dia já foi...
Desde que adotamos o isolamento vertical para enfrentar a crise do COVID-19, nossa economia tem apresentado claros sinais de melhora e recuperação e conseguimos controlar a expansão da epidemia em nossa pátria.
O isolamento de cidadãos de grupos de risco como idosos, doentes crônicos, homossexuais, pessoas de baixa renda e outras minorias mostrou-se uma decisão acertada, prudente e alinhada com os anseios de uma nação que precisa crescer, trabalhar e colocar o sustento de volta às mesas de todos os brasileiros.
Alguns políticos e governadores contrários a estas medidas, fomentadores do caos e da histeria e usando da crise para aumentar seu capital político foram devidamente demovidos de suas responsabilidades e substituídos por técnicos e militares capacitados e alinhados com a determinação de meu gabinete de que o Brasil não pode cair de joelhos ante um simples gripe.
Adotamos medidas severas de contenção, a cloroquina foi distribuída a todos os grupos de risco e pessoas doentes e tudo isso sem parar o país como muitos desejavam. Tivemos muitas mortes mas, por minha vivência de atleta e militar sei que numa batalha ou competição sempre teremos perdedores e alguns mortos, lamentamos tais perdas mas são um custo necessário para que a maioria siga com suas vidas e contribuindo para fazer de nosso país uma grande nação novamente.
O sangue destes patriotas tombados nessa luta contra essa doença será para sempre venerado, serão nossos eternos heróis e deles jamais esqueceremos assim como jamais esqueceremos dos inimigos do povo que se aproveitaram do caos, do pânico e do medo para minar uma presidência eleita democraticamente pelo povo.
Seguiremos com nossa luta para fazer de nossa amada pátria uma grande nação onde as famílias de bem, os cristãos e a morale bons costumes sejam sempre nosso norte e nossa luta jamais cessará para que isso ocorra.
A todos os patriotas, uma boa noite e obrigado.
E o que é isso?
Não sei, apertei esse botão aqui nesse negócio e ele começou a passar isso aí
Sério?
Sim, estranho não?
Muito, falei que não deveríamos ter vindo aqui, todos falam que não é um bom lugar.
Mas, se ninguém fala de quando isso aconteceu, eu quero saber você não?
E faz diferença?
Claro que faz!
Não acho, tudo isso foi há tanto tempo, dizem que nem aconteceu de verdade e que esse cara é uma invenção..
Não acho que seja, me parece bem real, eles não tinham como fazer algo assim de mentira, não naquela época.
Parece que não mas vai saber, faz tanto tempo, ninguém sabe ao certo, a gente sabe só que naquela época morreu quase todo mundo.
Verdade, quem sobrou viveu pouco para contar mas ainda acho que é verdade sim
Verdade ou não é melhor irmos antes que nos peguem aqui, você sabe que eles não gostam quando ficamos fuçando nessas ruínas.
Tem razão, vamos embora, isso tudo é besteira mesmo, vamos voltar e tentar achar algo para comer.
E saíram os dois para o país que um dia já foi...
27 de mar. de 2020
Guilhotina
Sim meus amores, temos um GENOCIDA/ASSASSINO/NEOLIBERAL/COVARDE/BURRO/CRIMINOSO no poder.
Já sabíamos que ela era tudo isso não é? Desde sempre. Só não imaginávamos que ele teria o poder nas mãos e decidiria quem vive e quem morre em nome da ECONOMIA, para PROTEGER OS RICOS, EMPRESÁRIOS, EVANGÉLICOS e todos que mamam na santa teta do neoliberalismo conservador.
Gastam dinheiro com campanhas para forçar a população a se expor a um risco desnecessário em nome de uma eleição e de números. Atacam e ofendem quem segue abrindo os olhos de todos porque não querem que vejamos a catástrofe que se acerca se não levarmos a sério essa pandemia.
Sabemos que a economia está em perigo. Sabemos que a recessão de avizinha.
Sabemos que o desemprego vai aumentar.
Sabemos que muitos sofrearão além de suas capacidades.
Sabemos que muitos estão pagando um preço alto para manter a sociedade funcionando.
Sabemos de tudo isso.
Mas também sabemos que não se pode colocar um preço em vidas humanas. Vidas não sobem e descem com o pregão. Não tem alta do câmbio nem PIB.
Qual a quantidade de mortos que justifica salvar a economia? Cinco? Dez? Quinze? Mil? Dez mil? Vinte mil? Quem fará essa conta? Quem vai dar o nome para ser lavrado nos livros de história ao lado de famosos como Hitler, Stálin, Mussolini e outros?
Quando um Estado dá mais valor ao lucro, aos dividendos, exportações e importações e capital eleitoral, perdeu sua função e não merece mais nosso respeito, obediência ou lealdade. Precisa ser DEPOSTO e EXECRADO.
Esse é o Estado de JAIR BOLSONARO e sua família de dementes. Esse é o governo que só tem um objetivo: matar todos que não se enquadram no seu projeto de país. Esses são os assassinos que não tem medo ou vergonha de mostrar a cara.
Não dá mais.
Ou matamos eles ou eles nos matam.
Já sabíamos que ela era tudo isso não é? Desde sempre. Só não imaginávamos que ele teria o poder nas mãos e decidiria quem vive e quem morre em nome da ECONOMIA, para PROTEGER OS RICOS, EMPRESÁRIOS, EVANGÉLICOS e todos que mamam na santa teta do neoliberalismo conservador.
Gastam dinheiro com campanhas para forçar a população a se expor a um risco desnecessário em nome de uma eleição e de números. Atacam e ofendem quem segue abrindo os olhos de todos porque não querem que vejamos a catástrofe que se acerca se não levarmos a sério essa pandemia.
Sabemos que a economia está em perigo. Sabemos que a recessão de avizinha.
Sabemos que o desemprego vai aumentar.
Sabemos que muitos sofrearão além de suas capacidades.
Sabemos que muitos estão pagando um preço alto para manter a sociedade funcionando.
Sabemos de tudo isso.
Mas também sabemos que não se pode colocar um preço em vidas humanas. Vidas não sobem e descem com o pregão. Não tem alta do câmbio nem PIB.
Qual a quantidade de mortos que justifica salvar a economia? Cinco? Dez? Quinze? Mil? Dez mil? Vinte mil? Quem fará essa conta? Quem vai dar o nome para ser lavrado nos livros de história ao lado de famosos como Hitler, Stálin, Mussolini e outros?
Quando um Estado dá mais valor ao lucro, aos dividendos, exportações e importações e capital eleitoral, perdeu sua função e não merece mais nosso respeito, obediência ou lealdade. Precisa ser DEPOSTO e EXECRADO.
Esse é o Estado de JAIR BOLSONARO e sua família de dementes. Esse é o governo que só tem um objetivo: matar todos que não se enquadram no seu projeto de país. Esses são os assassinos que não tem medo ou vergonha de mostrar a cara.
Não dá mais.
Ou matamos eles ou eles nos matam.
26 de mar. de 2020
Alphabeto
Lembro de certa ocasião, há anos, quando eu ainda era um jovem despreocupado e amando outro homem de maneira louca e incerta, estávamos no meu carro que ia cheio de bixas e lésbicas.
Era um modelo que à época se costumava designar como GLS acrônimo de Grand Luxo Super até onde sei. Outro carro que estava cheio de amigos nossos emparelhou com o meu e o motorista daquele comboio hétero disse: 'E esse Fiesta GLS?'
Levei alguns segundos para associar o GLS do carro com o GLS de Gays, Lésbicas e Simpatizantes que então, abarcava com folga todo os segmentos do mundo gay e então, caímos na risada. Talvez essa piada hoje não fosse motivo de riso e certamente não faria sentido ante a sigla LGBTQIA+ ou qualquer outra que estejamos usado para designar todos os matizes do movimento.
Tudo isso me veio quando li matéria de João Silvério Trevisan publicada na edição 33 da Revista Serrote onde ele questiona os limites e limitações da sopa de letrinhas que passamos a usar para identificar as identidades de gênero e orientações sexuais.
Tomando como base essa matéria (cujo conteúdo pode ser visto aqui) surge uma provocação: até que ponto a extensão alfabética para dar voz a sexualidades e identidades não normativas ajuda a dar voz ou pulveriza a luta pelos direitos?
Há aqui um paradoxo, penso eu.
Ao adicionarmos mais letras estamos efetivamente dando voz, espaço e reconhecimento a cada segmento que surge e necessita, obviamente, de representação, voz e lugar de fala e não deseja e nem deve, penso eu, delegar sua luta a outros segmentos que não entendem suas demandas ou realidade.
A questão da representatividade deve ser respeitada pois se antes convivíamos todos sob três letras, GLS ou qualquer outra designação usada de fora para catalogar e identificar os gays, fazíamos isso como parte da maioria gay cis que adotava tal sigla como suficiente para determinar nosso clã enquanto as demais identidades e sexualidades seguiam marginais e sobrevivendo das migalhas que o GLS ia conseguindo aos poucos.
Com o avanço da luta pelos direitos gays, outras sexualidades e identidades começaram a sair da sombra generalizante do movimento e passaram a demandar direitos mais específicos que atendessem suas necessidades e anseios, nada mais justo e com isso, o GLS ficou pequeno para acomodar tanta gente a passamos o LGBT, LGBTQ, LGBTQ, LGBTQIA, LGBTQIA+ e outros mais que soam como algum tipo de equação matemática impossível de ser solucionada.
O outro lado dessa moeda é a pulverização da luta pelos direitos e isolamento de grupos o que acaba gerando uma fragmentação do discurso e rachaduras muita vezes irreconciliáveis dentro do próprio movimento enquanto, do outro lado, do lado normativo, seguimos sendo vistos apenas como viados, bixas, sapatões e travestis, não se iludam que eles saibam diferenciar cada uma das letras da sigla que criamos para nós.
Com isso, a vantagem acaba ficando totalmente do lado oposto que tem maior facilidade em legislar contra nós já que seu discurso sim é unificado e não reconhece nossas divisões e sub-divisões. Pensando assim, a provocação/sugestão de Trevisan de encontrarmos alguma outra sigla, palavra ou denominação que seja capaz de abraçar e representar todos nós em cada uma de nossas sexualidades e identidades e que ainda seja capaz de aceitar adições futuras é algo a se pensar profundamente.
Inclusive o termo HOMOSSEXUAL que carrega em si um machismo derivado além de estar estritamente ligado ao sexo e não a identidade de gênero, deveríamos repensar essa palavra, aposentá-la e colocar as cabeças pensantes de todo o movimento, TODO MESMO, para encontrar ou criar alguma outra que seja mais real e afeta a todas as matizes que compõe nosso arco.
Da mesma forma, precisamos repensar a forma de militância de modo a manter as individualidades de cada célula mas unificar o discurso para fazer frente ao avanço conservador que nos devora cada dia com mais voracidade. Não seria a hora de colocarmos as 'diferenças' de lado e fazer uma frente única? Recriar essa sigla extensa que para os normativos não faz sentido algum saindo com algo que fosse mais direto e representasse a todos nós independente de qual letra pertençamos?
Posso incorrer num erro grosseiro aqui afinal, sou homem, gay, branco, cis então me foge completamente a realidade de luta de outras sexualidades e identidades. Talvez meu discurso seja uma utopia ou até mesmo uma ofensa aos mais radicais ou puristas mas, expresso estas opiniões despido de qualquer desejo de roubar a luta de quem quer que seja e imbuído do mais sincero desejo de que nos unamos para lutar contra um inimigo comum que está se aproveitando de nossas rachaduras para infiltrar seu discurso de ódio e nossa destruição.
Não valeria a pena baixarmos as armas que estamos apontando uns contra os outros e apontá-las contra esse inimigo peçonhento que nos ameaça?
Era um modelo que à época se costumava designar como GLS acrônimo de Grand Luxo Super até onde sei. Outro carro que estava cheio de amigos nossos emparelhou com o meu e o motorista daquele comboio hétero disse: 'E esse Fiesta GLS?'
Levei alguns segundos para associar o GLS do carro com o GLS de Gays, Lésbicas e Simpatizantes que então, abarcava com folga todo os segmentos do mundo gay e então, caímos na risada. Talvez essa piada hoje não fosse motivo de riso e certamente não faria sentido ante a sigla LGBTQIA+ ou qualquer outra que estejamos usado para designar todos os matizes do movimento.
Tudo isso me veio quando li matéria de João Silvério Trevisan publicada na edição 33 da Revista Serrote onde ele questiona os limites e limitações da sopa de letrinhas que passamos a usar para identificar as identidades de gênero e orientações sexuais.
Tomando como base essa matéria (cujo conteúdo pode ser visto aqui) surge uma provocação: até que ponto a extensão alfabética para dar voz a sexualidades e identidades não normativas ajuda a dar voz ou pulveriza a luta pelos direitos?
Há aqui um paradoxo, penso eu.
Ao adicionarmos mais letras estamos efetivamente dando voz, espaço e reconhecimento a cada segmento que surge e necessita, obviamente, de representação, voz e lugar de fala e não deseja e nem deve, penso eu, delegar sua luta a outros segmentos que não entendem suas demandas ou realidade.
A questão da representatividade deve ser respeitada pois se antes convivíamos todos sob três letras, GLS ou qualquer outra designação usada de fora para catalogar e identificar os gays, fazíamos isso como parte da maioria gay cis que adotava tal sigla como suficiente para determinar nosso clã enquanto as demais identidades e sexualidades seguiam marginais e sobrevivendo das migalhas que o GLS ia conseguindo aos poucos.
Com o avanço da luta pelos direitos gays, outras sexualidades e identidades começaram a sair da sombra generalizante do movimento e passaram a demandar direitos mais específicos que atendessem suas necessidades e anseios, nada mais justo e com isso, o GLS ficou pequeno para acomodar tanta gente a passamos o LGBT, LGBTQ, LGBTQ, LGBTQIA, LGBTQIA+ e outros mais que soam como algum tipo de equação matemática impossível de ser solucionada.
O outro lado dessa moeda é a pulverização da luta pelos direitos e isolamento de grupos o que acaba gerando uma fragmentação do discurso e rachaduras muita vezes irreconciliáveis dentro do próprio movimento enquanto, do outro lado, do lado normativo, seguimos sendo vistos apenas como viados, bixas, sapatões e travestis, não se iludam que eles saibam diferenciar cada uma das letras da sigla que criamos para nós.
Com isso, a vantagem acaba ficando totalmente do lado oposto que tem maior facilidade em legislar contra nós já que seu discurso sim é unificado e não reconhece nossas divisões e sub-divisões. Pensando assim, a provocação/sugestão de Trevisan de encontrarmos alguma outra sigla, palavra ou denominação que seja capaz de abraçar e representar todos nós em cada uma de nossas sexualidades e identidades e que ainda seja capaz de aceitar adições futuras é algo a se pensar profundamente.
Inclusive o termo HOMOSSEXUAL que carrega em si um machismo derivado além de estar estritamente ligado ao sexo e não a identidade de gênero, deveríamos repensar essa palavra, aposentá-la e colocar as cabeças pensantes de todo o movimento, TODO MESMO, para encontrar ou criar alguma outra que seja mais real e afeta a todas as matizes que compõe nosso arco.
Da mesma forma, precisamos repensar a forma de militância de modo a manter as individualidades de cada célula mas unificar o discurso para fazer frente ao avanço conservador que nos devora cada dia com mais voracidade. Não seria a hora de colocarmos as 'diferenças' de lado e fazer uma frente única? Recriar essa sigla extensa que para os normativos não faz sentido algum saindo com algo que fosse mais direto e representasse a todos nós independente de qual letra pertençamos?
Posso incorrer num erro grosseiro aqui afinal, sou homem, gay, branco, cis então me foge completamente a realidade de luta de outras sexualidades e identidades. Talvez meu discurso seja uma utopia ou até mesmo uma ofensa aos mais radicais ou puristas mas, expresso estas opiniões despido de qualquer desejo de roubar a luta de quem quer que seja e imbuído do mais sincero desejo de que nos unamos para lutar contra um inimigo comum que está se aproveitando de nossas rachaduras para infiltrar seu discurso de ódio e nossa destruição.
Não valeria a pena baixarmos as armas que estamos apontando uns contra os outros e apontá-las contra esse inimigo peçonhento que nos ameaça?
25 de mar. de 2020
O GENOCIDA
O Genocida está entre nós, ganhou a eleição no grito, no tiro, na arminha, no ódio, no xingamento, na humilhação e no temor a deus pátria armada brazil great again pra gringo ver mamar chupar até o caroço.
O Genocida caga. Caga para quem não está lá a lhe lamber as botas de capitão do mato neoliberal pós trauma fálico de calibre duvidoso. Caga para quem não abaixa a cabeça e a mente para seus mandos e desmandos. Caga para quem não bate continência ante seu destempero com furos buracos sexo aberto de gozo fechado e medo de esporrar quando lhe atendem o pedido ufano de amar a ele que é a pátria. Apátrida caga na pátria que para ele é látria de merda onde seu ânus messiânico defeca todo dia com gosto e vontade de nos soterrar na merda de sua mente degenerada.
O Genocida não acredita em nada que não seja saído de sua mente e realidade virtual sem virtude. Ele só acredita que todos estão contra ele. Ele só acredita que todos querem ir contra ele. Ele só acredita que a verdade é rua onde a única mão que trafega é a sua. Ele só acredita em nação na ação de inação quando ele comanda com força e verbo seus comandados para salvar o país das mãos dos corruptores de países.
O Genocida não acredita em organismos mundiais, muito menos se forem microscópicos e vindos de uma ditadura comunista que deve ter engendrado essa pandemia para acabar com a família cristã que estupra mas não mata e tem nojo da empregada e da babá porque elas são a empregada e a babá e não querem viajar ao lado de quem não tem status nem ver filho de gente de cor na faculdade ao lado de seus rebentos brancos e imaculados de nomes suntuosos.
O Genocida faz uma conta de que velho é velho e que o novo sempre vem e sem vem, precisa de espaço e o velho tem de dar esse espaço porque velho não trabalha dá trabalho e velho só fica doente e toma remédio e joga dominó na praça e reclama da fila do banco e entope os hospitais e velho já é doente porque é velho então não é um vírus que mata ele mas o fato de ser velho então o velho precisa morrer para por carne na máquina e deixar ela bem azeitada fazendo hambúrguer de gente e deixando o empresário feliz e contente e rindo com o sobre desce da bolsa e do dólar enquanto o pobre chora com o sobe e desce do ônibus que não pode deixar de tomar.
O Genocida chama tudo que não conhece e despreza de histeria e falácia. Ele só acredita no que está a seu favor, se está contra ele deve ser coisa ruim e feita pelos inimigos da nação, danação eterna para os inimigas da pátriamadabrasilacimadetudodeusacimadetodos. Ele não tem medo de confronto afinal ele é macho alfa ômega que tem nas mãos os meios para por fim e começo nas vidas de todos nós. Ele não tem papas na língua bipartida porque dela só vaza apenas veneno patriota para colocar o país no rumo certo.
O Genocida não pensa na sociedade como um todo mas em partes. Nas partes que ele quer preservar, que lhe interessam, que lhe mantem teúda e manteúdamente. Ele quer a economia no ritmo porque se ela errar uma nota é a banda dele que vai parar de passar. Ele inverte porque para ele o certo é o que lhe faz sentido quando errado para todos os demais, é criatura da contramão, do contra, brasildeus acima de tudotodos.
O Genocida pensa que foi enviado por deus para salvar a nação, a família, o pai, a mãe e o irmão, a irmã, a sobrinha e a tia. Ele fez pacto com deus para levar seus cruzados pela terra brasilis em cruzada moral obrigatória de força e fé para banir o perigo de esquerda ou de qualquer outra direção que venha. Ele é um santo homem santo feito santo que se faz de santo para santificar o que o demônio tenta fazer para tentar o santo que sabe que de santo não tem nada, ôsana nas alturas do altar do mártir da facada neofake.
O Genocida está entre nós.
E nós que sabemos disso precisamos matar o Genocida antes que ele faça o que seu nome bem diz.
24 de mar. de 2020
Negócio da China
Eduardinho estava quieto e foi lá meter o dedo no Twitter.
Foi lá zoar com a China, COM A CHINA! Veja bem!
Papai ficou calado porque não vai passar pito no filho querido e o chanceler genérico foi lá e não contente ainda pisou em cima.
Povo de direita compro a briga com a China hahahaha, até parece e aí, nos comentários nas redes sociais ficam distorcendo a realidade no melhor estilo Bolsonaro e mandando quem fala a real enfiar a opinião no CU.
Acho vocês extremamente adultos quando falam TEU CU, denotam bem a mentalidade de eleitores do MITO e patriotas da pandemia ao defenderem seus ‘pontos de vista’ de forma tão articulada.
Igualmente, fico muito feliz de ver que vocês imitam seus família de milicianos favorita ao fazer piada e ficar achincalhando a China, isso se chama preconceito caso vocês não saibam é muito provavelmente não devem saber mas tudo bem porque apóstolo do mito não tem l muita cultura mesmo o oposto disso, odeia cultura.
Quanto ao seu ufanismo (procurem), suas fontes de informação limitam-se as que são outorgadas e chanceladas pelo clã do messias, qualquer coisa em oposição a isso é de esquerda e mídia oportunista porque para vocês só existem dois lados: o de vocês e o de quem está contra vocês, só lidam em absolutos e antes que falem da ditadura comunista ou esquerdista que promove o mesmo pensamento digo que estão certos pois todo excesso é nocivo.
Agora quem começou o ataque? Foi a China? Então por ter a pandemia iniciado lá a culpa é da ditadura comunista? E se amanhã um surto se iniciar nos EUA será culpa de quem? AMÉRICA GREAT AGAIN? A China responde por uma parcela significativa de nossas exportações, se vocês patriotas histéricos acham que podemos cagar e andar para a China que um potência mundial então sugiro irem estocando tudo que puderem e começar a pensar em dólar a $8,00 porque se a China decide romper conosco que somos um rascunho de pais comparados a eles estamos na merda.
A China que vocês odeiam e malham domou a epidemia e fez mais por sua população do que o governo atual que segue preocupado com índices econômicos ao invés de pensar na sobrevivência e segurança da sua população e isso porque eles sabem que se a economia naufragar, dificilmente seu messias se segura no cargo por muito tempo.
Ao atacar a China de forma infantil e desnecessária o garoto fez merda mas vocês, tomados do espírito cego do patriotismo e do ame-o ou deixe-o dos anos de chumbo preferem ver apenas a verdade dos brios nacionais feridos, as joias da coroa ultrajadas e passam a atacar a China como se ela fosse a encarnava do mal quando na verdade é o país que mais pode ajudar a todos nós a enfrentar essa crise toda que não foi causada por ela mesmo vocês adorando acreditar nesse arquivo X de quinta categoria porque é mais fácil do que encarar que seu governo é composto de incapazes e neoliberais que estão cagando para as minorias.
Quem está fazendo tudo por dinheiro? China? BAND? Não foram eles que cortaram os salários pela metade, revogaram pensões e ainda estão pensando em como tirar do sufoco a população, eles estão pensando nos banqueiros e empresários e por isso não querem quarentena ou isolamento porque isso vai contra os sonhos de economia de Guedes e sua turma mesmo que para isso seja preciso sacrifício de uma parte-a mais pobre claro- da população.
Vocês estão cegos de verde e amarelo, estão raivosos de mito, estão doidos porque seu messias acabou se revelando um falso profeta e fica mal reconhecer isso então, vamos seguir atacando quem está torcendo contra e apoiando o messias mesmo que ele esteja levando a todos nós para o cadafalso.
23 de mar. de 2020
É justo, justíssimo!
O pior da epidemia não é a doença em si pois ela seguirá seu fluxo até ser controlada ou encontrarem sua cura e tratamento.
O pior é a máscara humana que ante o esfacelamento do tecido social cai mais rápido do que as bolsas ao redor do mundo.
É simplesmente abjeto e beira o absurdo comentários como o de Roberto Justus, o supra sumo da elite branca, cis, HT, rica e tradicional cujo áudio remete ao pior momento da história humana, o nazismo.
Num discurso eugenista, elitista, nada empático e totalmente focado na seleção natural que deverá priorizar o mais fortes em detrimento dos mais fracos, Herr Justus deixa bem claro de que lado está sua solidariedade afinal, como irá ganhar seus milhões sem ter quem para ele trabalhe?
Alinhado com Bolsonaro e sua quadrilha de paspalhos neoliberais, Justus prevê uma recessão terrível e que trará grandes prejuízos a todos caso a 'histeria' e o 'pânico' não sejam controlados e a economia não siga funcionando normalmente e, para que isso ocorra, o sacrifício de alguns será preciso e não de forma simbólica mas literal.
O discurso de Justus está alinhado com o de Bolsonaro e sua tchurma que estão se cagando de medo da recessão que essa pandemia causará não pelo social mas pelo abalo político que causará justamente quando pretendiam se perpetuar no poder e implantar sua agenda conservadora e neoliberal no país.
Para eles, isso é uma gripe qualquer, um resfriado e se os velhos irão morrer, que morram, oras! Eles já estavam no fim da linha e muito provavelmente não foi essa epidemia mas outras doenças que irão matá-los. Da mesma forma, se os pobres morrerem também será um grande infortunio mas, como pensam eles, não se pode fazer um omelete sem quebrar alguns ovos.
O pensamento de Bolsonaro ao tratar essa crise como capital político é medonho e condizente com o caráter de um sociopata, Hitler bateria palmas se pudesse. Para Bolsonaro a economia vem antes de tudo porque é sua carta na mesa, seu capital de troca, sem ela ele está na corda bamba então, se for preciso matar parte da população, tudo bem!
A economia já está na merda, a crise já se instalou, a recessão já vem a galope e não apenas aqui mas no mundo e o momento é de zelar pela saúde pública e adotar medidas que ao menos amenizem a recessão que se acerca, tranquilizem a população e demonstrem que há efetivamente alguém no comando da nação e não um imbecil e seus filhos fazendo merda nas redes sociais e jogando queda de braço com governadores que, ainda que não sejam santos, estão tomando medidas efetivas para conter o contágio da população e um eventual colapso dos sistemas de saúde.
A galera que apoia o messias segue cega feito o gado que sempre foram, mugindo e espalhando que é tudo uma conspiração comunista, do PT e que a China é a grande responsável por tudo destilando ódio, xenofobia e preconceito alimentados pelo discurso inflamado do messias e seus filhos dementes. Preferem enfiar a cabeça no buraco olavista e bolsonarista ao invés de entender que o buraco onde estamos engoliu a todos sem exceção e só vamos sair dele com muita luta e resiliência.
Discursos como o Justus são reais, muito reais e ecoam tais teorias conspiratórias e pensamento eugenista que as elites bolsonaristas elegeram e seguem defendendo, se for para sobreviver alguém, que seja a melhor parte da sociedade, esse é o pensamento bolsonarista.
A epidemia vai passar, tenho certeza disso mas me pergunto quando iremos nos curar do vírus Bolsonaro que está nos matando a cada dia que passa e, seguindo nesse ritmo, ao final dos quatro anos, restará apenas ele para contar a história para os escombros do que um dia foi um país.
20 de mar. de 2020
O Brasil que deu certo
A menina não acreditava ou acreditava mas não queria ou fazia que sim mas na verdade nem sabia se deveria mesmo acreditar em tudo aquilo e munida dessas incertezas resolveu que para matá-las precisava era sair dali e ver com seus próprios olhos para não ter de usar os dos outros que poderiam ser mentiras feitas apenas para enganar.
Num momento de distração, burlou a vigia severa dos pais e ganhou a rua que já ia escura mesmo que ali dentro a diferença entre dia e noite fosse imaginária e determinada pela intensidade das luzes artificiais.
Poucos ainda zanzavam pelas ruas, voltando para suas casas depois de mais um dia de trabalho ou do pouco trabalho que ainda existia entre eles. Verificou a pequena mochila que carregava onde uma pequena ração de alimentos deveria ser capaz de lhe sustentar até atingir seu destino, comida era luxo por ali e desde que se dera por gente sabia que racionar era viver.
Atenta, seguiu seu caminho sem dar olhar a quem cruzasse seu caminho, despertar interesse ou perguntas era perigoso e poderia aguar seu plano de fuga. Lembrou repentinamente de um livro que lera, há tempos, um dos poucos que ainda circulavam por ali, ela uma das poucas que ainda conseguia fazer sentido das palavras escritas, os mais novos desconheciam a utilidade dos livros, julgavam um prazer mórbido lidar com papel.
Pensou como a história do livro era parecida com a sua, com a deles, com a de todos ali mas moveu o pensamento pois tinha mesmo de focar em encontrar o caminho para fora dali, aquela história de pessoas presas num parque no meio do país e forçadas a crer que o tempo ali havia parado era apenas isso, uma história, nada mais.
Para achar seu caminho foi folheando a memória, andar com pedaços de papel era um risco desnecessário então, havia memorizado a rota que descobrira num pedaço roto de papel que descobrira por acaso entre as coisas dos pais.
Foi seguindo seu caminho até dar de cara com uma porta de aço. Parou. Pensou. Voltou a folhear a mentelivromapa. Arregalou os olhos como quem lembra de um detalhe importante subitamente. Apertou o botão que se escondia sob camadas eternas de pó e ferrugem.
Um gemido de estômago vazio de séculos se fez. Ela assustou e pensou correr. Olhou para os lados e para trás mas ninguém parecia ter dado fé do barulho. O gemido foi se tornando um ranger fino como se alguém descascasse metal com uma lixa, depois como se alguém tentasse escorregar por cabos com as unhas e finalmente cessou.
Uma porta se abriu a sua frente, Escuro dentro e ela mesmo com medo olhou para trás e entrou. Quando entrou uma luz meio morta de tão velha meio que acendeu e ela, assustada, olhou ao redor. À sua direita uma placa de aço carcomido lhe dizia zero um do s tres q tro cinco s is ete oit nov dez. Vasculhou novamente a mentemapa e apertou o último botão.
A coisa gemeu de novo como se tentasse acostumar com ela dentro de suas entranhas ou fosse devorá-la e ela se encolheu num canto. A porta se fechou com um ruído ríspido e a coisa começou a subir devagar como se não desejasse sair de onde estava.
Sob a luz morta dentro subindo, ela ficou pensando em como seria ao sair, o que seria ao sair, quem seria ao sair. Seria tudo como havia pensado, como havia falado com aquelas pessoas, como sonhava quando os pais a punham para dormir e ela dormia acordada sonhando com aquele outro lugar?
A luz deu um lampejo mais forte e do outro lado da coisa ela pode ver um cartaz meio rasgado velho e descolorido onde se podia ler algo como BR S L ACIM DE UDO, EUS AC MA E TO OS. Franziu o cenho, lembrava vagamente daquilo, como se fosse algo enterrado que nos deparamos sem querer ao remexer em coisas velhas demais ou mortas. Riu.
A coisa parou. Chiado forte. Gemido de satisfação como se tivesse lembrado qual sua função e estivesse feliz por executá-la. A porta soltou um silvo longo e abriu como se estivesse sussurrando. Uma luz clara, leve e quente atingiu seu rosto junto com uma lufada de um ar que ela nunca havia respirado, Puro. Sem contaminar, Incólume. Inocente. Intocado. Selvagem.
Ela saiu. A porta se fechou atrás dela com um silêncio solene.
A coisa começou a descer de volta ao seu leito profundo e ela começou a andar pelo país que nunca vira alguém nenhum.
Num momento de distração, burlou a vigia severa dos pais e ganhou a rua que já ia escura mesmo que ali dentro a diferença entre dia e noite fosse imaginária e determinada pela intensidade das luzes artificiais.
Poucos ainda zanzavam pelas ruas, voltando para suas casas depois de mais um dia de trabalho ou do pouco trabalho que ainda existia entre eles. Verificou a pequena mochila que carregava onde uma pequena ração de alimentos deveria ser capaz de lhe sustentar até atingir seu destino, comida era luxo por ali e desde que se dera por gente sabia que racionar era viver.
Atenta, seguiu seu caminho sem dar olhar a quem cruzasse seu caminho, despertar interesse ou perguntas era perigoso e poderia aguar seu plano de fuga. Lembrou repentinamente de um livro que lera, há tempos, um dos poucos que ainda circulavam por ali, ela uma das poucas que ainda conseguia fazer sentido das palavras escritas, os mais novos desconheciam a utilidade dos livros, julgavam um prazer mórbido lidar com papel.
Pensou como a história do livro era parecida com a sua, com a deles, com a de todos ali mas moveu o pensamento pois tinha mesmo de focar em encontrar o caminho para fora dali, aquela história de pessoas presas num parque no meio do país e forçadas a crer que o tempo ali havia parado era apenas isso, uma história, nada mais.
Para achar seu caminho foi folheando a memória, andar com pedaços de papel era um risco desnecessário então, havia memorizado a rota que descobrira num pedaço roto de papel que descobrira por acaso entre as coisas dos pais.
Foi seguindo seu caminho até dar de cara com uma porta de aço. Parou. Pensou. Voltou a folhear a mentelivromapa. Arregalou os olhos como quem lembra de um detalhe importante subitamente. Apertou o botão que se escondia sob camadas eternas de pó e ferrugem.
Um gemido de estômago vazio de séculos se fez. Ela assustou e pensou correr. Olhou para os lados e para trás mas ninguém parecia ter dado fé do barulho. O gemido foi se tornando um ranger fino como se alguém descascasse metal com uma lixa, depois como se alguém tentasse escorregar por cabos com as unhas e finalmente cessou.
Uma porta se abriu a sua frente, Escuro dentro e ela mesmo com medo olhou para trás e entrou. Quando entrou uma luz meio morta de tão velha meio que acendeu e ela, assustada, olhou ao redor. À sua direita uma placa de aço carcomido lhe dizia zero um do s tres q tro cinco s is ete oit nov dez. Vasculhou novamente a mentemapa e apertou o último botão.
A coisa gemeu de novo como se tentasse acostumar com ela dentro de suas entranhas ou fosse devorá-la e ela se encolheu num canto. A porta se fechou com um ruído ríspido e a coisa começou a subir devagar como se não desejasse sair de onde estava.
Sob a luz morta dentro subindo, ela ficou pensando em como seria ao sair, o que seria ao sair, quem seria ao sair. Seria tudo como havia pensado, como havia falado com aquelas pessoas, como sonhava quando os pais a punham para dormir e ela dormia acordada sonhando com aquele outro lugar?
A luz deu um lampejo mais forte e do outro lado da coisa ela pode ver um cartaz meio rasgado velho e descolorido onde se podia ler algo como BR S L ACIM DE UDO, EUS AC MA E TO OS. Franziu o cenho, lembrava vagamente daquilo, como se fosse algo enterrado que nos deparamos sem querer ao remexer em coisas velhas demais ou mortas. Riu.
A coisa parou. Chiado forte. Gemido de satisfação como se tivesse lembrado qual sua função e estivesse feliz por executá-la. A porta soltou um silvo longo e abriu como se estivesse sussurrando. Uma luz clara, leve e quente atingiu seu rosto junto com uma lufada de um ar que ela nunca havia respirado, Puro. Sem contaminar, Incólume. Inocente. Intocado. Selvagem.
Ela saiu. A porta se fechou atrás dela com um silêncio solene.
A coisa começou a descer de volta ao seu leito profundo e ela começou a andar pelo país que nunca vira alguém nenhum.
19 de mar. de 2020
A festa das panelas
Pouco depois das dezenove e trinta começou, no convite dizia vinte e trinta mas os convidados chegaram mais cedo não que fosse problema, para aquela festa chegar antes não era crime mas sim chegar depois ou não chegar.
Primeiro aqui e ali um pam pam pam modesto, quase tímido mas decidido. Depois um outro talvez encorajado pelo primeiro e um outro mais convocado pelos já ingressos na festa que seria, excepcionalmente, feita das janelas posto que a doença real, não a imaginada, havia chegado também impondo uma clausura forçada aos convidados que, mesmo assim, não se intimidaram pois festa é festa não importa se na rua, casa, sacada, janela ou salão.
E o coro de panelas foi encorpado por gritos, palavras não de ordem mas de desgosto, gosto ruim de quem sabe que tudo está indo a pique mas não quer afundar sem proferir as últimas palavras nem deixar a música parar porque, como dizem, revolução sem música melhor nem fazer. Palavras de descontentes, que precisam gritar para que sua tristeza que não foi causada por eles seja ouvida e vista.
Já seria por volta das vinte e quinze quando a festa parece ter dado uma acalmada. Talvez uma pausa para engatar o grande momento, aquele em se apresenta a debutante nervosa que pela enésima vez tenta ser república, quando apagam as luzes para entrar o bolo cheio de velas ou aquele vídeo com memórias de um vida que parece nunca ter sido.
E então, vinte e trinta, tudo explodiu.
PAM PAM PAM PAM PAM PAM PAM PAM PAM PAM PAM PAM PAM PAM PAM PAM PAM
E tudo virou orgia de gritos e panelas e janelas tocando Chico e pessoas mandando frases e gentes pedindo paz e vozes gritando fora e urros de jamais e berros de ele nunca e risos e choro e luzes e fogos e cacofonia de sons cofiando os ouvidos que gozavam de tanto ouvir o que já deveria ter sido gritado antes.
Não sei quanto tempo. Acho que foi muito. Deve ter sido pouco ainda. Aos poucos o povo janela foi se acalmando, voltando para a quarentenacional, campos de concentração de vinte metros quadrados e abastecidos de fome de sonhos de tempos menos caducos e cambaleantes, espirrando com o braço no cérebro e a boca aberta num esgar de alegria.
Recolhidos. Felizes. Fomos jantar e ver a quantas andava o vírus mandão que mesmo sem ter sido eleito passou a governar com dna de ferro nossas vidas. Pensando no que vamos estocar amanhã mas já estocados de um pouco de esperança.
Ao longe, algum iluminado sacou um trompete e mandou um olê olê olá lula lula.....
18 de mar. de 2020
O doente imaginário
Quando uma pessoa é eleita presidente de um país, espera-se que além de governar bem ela tenha certa compostura pertinente ao cargo que ocupa afinal, estará representando toda uma sociedade ou boa parte dela e não apenas ela mas a ideia de nação, será a cara do país pelo período em que governar.
Obviamente que isso não é perfeito afinal, presidentes não são máquinas, são pessoas e, em sendo, estão sujeitos a falhar pouco ou miseravelmente com a diferença de que seus erros ecoam muito mais que os nossos pelas razões que acabei de expor.
Qual o parâmetro então para determinar quando um presidente erra demais?
Complicado mas, pensemos nesse vídeo do presidente concedendo uma entrevista. Não é de hoje que essas conversas ao pé do ouvido que ele concede são contraditórias, ele usa essa ocasião como plataforma de contato com seu eleitorado e despreza e ofende a imprensa que lá está quando esta lhe faz saia justa ou vem de algum jornal ou canal que ele odeia pelo simples fato de tocarem em feridas que todo político sambado está mais do que acostumado a terem abertas.
Primeiro veja o tom do presidente, ele está claramente desconfortável ao falar com os jornalistas, como se fossem algo muito pior que a pandemia que assola o país e cujo governo encabeçado por ele insiste em menosprezar;
Depois, em certo momento, alega que a histeria da pandemia vai prejudicar a economia, gerar desemprego, prejuízos e recessão mas, ao mencionar tais fatos, defende apenas os empresários e o governo que terão de arcar com rescisões, multas e amparo aos desempregados, nenhuma palavra de apoio ou consideração a quem vai sofrer muito mais com tudo isso, o desempregado em si.
Ainda no caminho da histeria pandêmica, alega que o pânico será usado como capital político por oportunistas, não digo que esteja de todo equivocado mas até agora, quem está fazendo isso é o presidente e seus seguidores.
Em outro momento, o presidente diz que a Itália é uma cidade-estado com muitos velhos e que velhos são fracos, debilitados e vão morrer mesmo então não tem o que fazer, que a Itália é tipo Copacabana que só tem velho e, se quisermos fazer uma interpretação livre ou subliminar, o presidente disse, a grosso modo, que velhos precisam morrer porque são um fardo e precisam dar lugar aos mais jovens e mais fortes para construir a nação que ele sonha para todos.
Outra pérola, segundo o presidente, a epidemia só vai passar quando parte da população adquiri naturalmente imunidade contra o vírus ou seja, seleção natural pura e simples, morte dos mais fracos e sobrevivência dos mais aptos só que nesse caso, quem está decidindo isso não é a natureza mas o governo que prefere lidar com a situação como se fosse um exagero descabido. Para não onerar ainda mais o Estado, deixemos que a natureza siga seu curso.
Depois ainda compara a pandemia com uma gestação, só se for uma gestação indesejada e impossível de ser abortada, como se a pandemia tivesse sido gestada em algum útero maligno (comunista talvez) e fosse o resultado de uma união profana.
A única razão que dou ao presidente é a de que realmente o pânico não irá nos salvar, muito pelo contrário mas mesmo essas palavras saídas de sua boca soam como escárnio e desprezo por uma situação que ele não tem capacidade de gerenciar, entender ou manusear.
Tenho certeza de que sobreviveremos a essa pandemia de um jeito ou de outro. Não tenho tanta certeza se sobreviveremos ao presidente que temos.
17 de mar. de 2020
FEBEAPA
Em uma sociedade democrática, todos tem o sagrado direito de manifestar-se livremente sobre qualquer assunto que desejem seja de forma individual ou coletiva, a carta magna assim o diz.
Então, os grupos que saíram às ruas no dia 15/03 para prestar apoio ao governo estão em pleno gozo de seus direitos, não cabe a nós ou a ninguém dizer o oposto já que, salvo a pandemia assim o proíba, dia 18/03 será a vez de outro grupo - eu incluso - tomar as ruas para protestar contra o presidente e seu governo de bananas.
O que mais surpreende não é a existência de manifestantes pró-Bolsonaro, eles sempre estiveram aí e nós sabemos disso mas, sua conduta travestida de ufanismo religioso familiar em conclamar pessoas às ruas num quadro de pandemia global que ameaça a todos sem exceção, como se esse patriotismo todo fosse blindar o sistema imunológico dos manifestantes ou, como já vi dizerem, quem tem deus no coração não vai pegar essa doença.
Amados.
Essa pandemia está gargalhando do patriotismo de vocês, está dando cambalhotas de rir do deus que vai proteger vocês da contaminação e está se mijando de dar risada do Brasil que vocês querem resgatar.
Não impressiona que grande parte dos manifestantes sejam senhores e senhoras idosas, de uma geração que cresceu pia de que a ditadura era boa, gerava empregos, não compactuava com a corrupção e zelava pela morale bons costumes. Agora resta saber se todos esses valores foram suficientes para impedir que vocês pegassem o vírus, dentro de alguns dias saberemos, não é?
Não surpreende também que as pessoas tenham ido às ruas com o lema esdrúxulo 'DESCULPE MAS EU VOU PRA RUA' ou coisas como 'O VÍRUS QUE MATA É O CORRUPÇÃO'. O capitão conclamou a tropa para irem, a adesão foi abaixo do esperado porque a tropa estava mesmo se cagando de medo de pegar a doença mas os que foram, tinham no messias seu norte afinal, ele mesmo ainda sob suspeita de estar infectado e contrariando orientação médica e de seu próprio governo, saiu para abraçar e dar a mão aos apoiadores como se a infecção fosse um preço baixo a pagar por um país melhor e para varrer do mapa os malfeitores do Congresso e STF.
Para os Apóstolos de Jair não há doença, foi uma invenção de esquerda para derrubar o capitão, veio da China comunista para corromper as pessoas de bem e tudo não passa de uma fantasia, seu messias assim o disse, oras!
Jair usou o coronavírus como moeda de troca para seus apoiadores, cagou e andou para sua responsabilidade como governante ao sair abraçando e pegando as pessoas e ainda teve a audácia de dizer que se foi infectado, o problema é dele. Oras, quem estava em quarentena era ELE! Qual parte de crime, sandice e insanidade vocês não percebem?
Capaz dos seguidores sentirem-se abençoados em serem infectados pois estavam cumprindo seu dever patriótico e contrair ou espalhar uma doença é um preço baixo a se pagar para arrumar o país. não é mesmo?
Mas o pior não é esse comportamento destrutivo e pouco digno de pessoas que vivem em sociedade.
Pior é o vírus da ignorância, estupidez e burrice que já infectou a todos os acólitos do messias, sem chance de cura, tratamento ou contenção. Pedir o fechamento do Congresso, do STF e de outras instituições democráticas, a instauração de um AI-5, intervenção militar e afins é passar atestado de doente mental em estado terminal.
Compreendo que as instituições democrática tenham contribuído para a derrocada de sua imagem e credibilidade se refastelando num sem fim de escândalos, legislando em benefício próprio e perdendo a conexão com o povo que deveriam representar e defender. A descrença geral nas instituições é consequência direta de anos e anos de desmandos e falhas grotescas mas, a bem da verdade, a culpa não descansa apenas sobre elas mas sobre nós afinal, nós somos responsáveis por formar tais casas, nós deveríamos ser mais atentos e cobrar leis e medidas que seja benéfica a todos mas, preferimos a abstenção e culpar a classe política por uma falha que é nossa também e depois, sair pedindo sua extinção como se fosse a melhor solução para todos.
Enquanto não entendermos e aprendermos que as instituições são um reflexo de nós como sociedade estaremos fadados a ser governados por imbecis, populistas, medíocres e ladrões apenas para depois, pedirmos o fechamento dessas mesmas instituições entregando o poder nas mãos de salvadores que irão, no momento seguinte, dar as costas a todos sem pensar duas vezes.
Podemos ter instituições longe do ideal, do que desejamos e que podem e devem sim melhorar e muito mas, prefiro ainda um cenário com elas desse jeito do que sua ausência pois a alternativa a isso é muito sombria e historicamente trágica mas, parece que as pessoas não querem saber disso, preferem uma saída rápida para suas frustrações e culpas ao invés de tecer uma crítica de si mesmas e cobrar como sociedade uma solução que atenda a todos de forma o mais igual quanto possível.
Quando isso vai acontecer?
Não sei dizer.
Fica complicado fazer qualquer previsão num país que ante uma crise mundial de saúde, economia em frangalhos e um desgoverno sem precedentes, prefere seguir comentando quem deve ser eliminado do BBB.
16 de mar. de 2020
A epidemia que nunca passou
Pandemia. Contágio. Vírus. Doença. Quarentena.
O tecido social delicado e indelével mostra toda sua fragilidade quando confrontado por uma praga que se alastra de forma global e irrestrita, coloca a prova o senso de sociedade, solidariedade e empatia, expõe o pior de nós enquanto espécie.
Enquanto bolsas caem das alturas, ricos se preocupam em não ficar menos ricos ou lucram com a desgraça mundial (e você pode ter certeza de que eles irão lucrar, e muito), governos se desdobram para evitar que a doença se espalhe pensando não na população mas no custo que a busca desenfreada por tratamento nos serviços de saúde precários traria aos cofres públicos, aos investimentos estrangeiros, ao dinheiro que deixaria de circular.
O custo dessa epidemia, digo o custo real, econômico, ainda será entendido e medido mas já sabemos que será alto, desenha-se um cenário de recessão global, falências, desemprego e encolhimento de economias, uma conta que vai acabar no colo das classes mais pobres certamente já que rico não vai pagar esse boleto.
O custo humano e social já estamos pagando quando nos recusamos a abrir mão de nosso conforto diário, da balada, do bar com a galera, do show, do cineminha pensando que a doença vai passar longe de nós. Pode até passar e espero que passe mas, e o outro? E quem não pode se dar ao luxo de desdenhar a doença? E quem não tem a opção de ficar em quarentena confortável em seu apartamento de vários metros quadrados, abastecido, com acesso a internet e streaming e gerente cuidando de seus investimentos?
O ser humano é uma criatura abjeta, basta ver uma situação como esta pandemia para comprovar que seu único pensamento é em si, individual, solo, único. Tudo bem o outro morrer desde que eu não morra ou não tenha de abrir mão do meu conforto e privilégios.
Então, quando um casal de idosos que viajam para Búzios, tem médico próprio, plano de saúde e moram num bairro de classe média alta segue com sua diaristas trabalhando em casa mesmo estando ambos infectados, há quem diga que ela precisa seguir trabalhando pois foi a profissão que escolheu para si, que diaristas não são mais escravas e que o referido casal demonstrou empatia ao fornecer luvas, máscaras e outros meios de proteção.
Não. Apenas não.
O preço dessa doença ainda não foi sentido pois as classes mais baixas ainda não começaram a se infectar, quando começarem teremos então uma boa noção do que essa pandemia vai custar a todos nós. Pobre não pode se dar ao luxo de ficar de quarentena, não pode ficar em casa porque precisa trabalhar, tem conta para pagar e não tem opção. Não viaja para Búzios ou tem médico pessoal.
Enquanto a elite segue confinada em suas torres, o pobre segue pegando coletivo e trens lotados, não tem isolamento, não tem escolha. Pobre não faz home office amores, pobre não tem como estocar comida nem licença remunerada, pobre tem de lutar todo dia contra o vírus da desigualdade ou morre.
Achar que empatia é fornecer luva e máscara e dizer para a pessoa vir só uma vez por semana é cagar para a vida alheia, fazer troça com a saúde do outro. Empatia não é estocar comida e comprar todo o álcool em gel, isso é mesquinharia em seu aspecto mais grotesco. Estamos em momento de pensar COLETIVAMENTE e deixar o INDIVIDUAL um pouco de lado.
Empatia é deixar quem lhe presta serviços em licença remunerada até que a situação se acalme. É comprar apenas o que falta entendendo que o o seu estoque é a fome do outro. É abrir mão daquele lazer porque ele pode representar a morte do outro. É pensar que a doença não conhece classe, posse ou status, ela vai infectar todos sem exceção e sem dó mas podemos, como pessoas, minimizar seu impacto pensando uns nos outros e não em nossas necessidades pessoais.
Epidemias como essa são e serão cada vez mais comuns num mundo globalizado, conectado e mutante, cabe a ciência tentar prever e prevenir, aos governos controlar, dar apoio, cuidar e gerenciar e a nós, atuar como seres pensantes e aptos para a vida em sociedade.
Já a epidemia de egoísmo, desigualdade e pobreza segue fazendo vítimas como sempre e seguirá assim mesmo depois que essa de agora for superada. Contra essa epidemia social não há vacina, não há remédio, não há contenção e ela fica mais evidente quando temos doenças graves como o coronavírus entre nós.
O coronavírus é patológico, o outro é sociológico.
O tecido social delicado e indelével mostra toda sua fragilidade quando confrontado por uma praga que se alastra de forma global e irrestrita, coloca a prova o senso de sociedade, solidariedade e empatia, expõe o pior de nós enquanto espécie.
Enquanto bolsas caem das alturas, ricos se preocupam em não ficar menos ricos ou lucram com a desgraça mundial (e você pode ter certeza de que eles irão lucrar, e muito), governos se desdobram para evitar que a doença se espalhe pensando não na população mas no custo que a busca desenfreada por tratamento nos serviços de saúde precários traria aos cofres públicos, aos investimentos estrangeiros, ao dinheiro que deixaria de circular.
O custo dessa epidemia, digo o custo real, econômico, ainda será entendido e medido mas já sabemos que será alto, desenha-se um cenário de recessão global, falências, desemprego e encolhimento de economias, uma conta que vai acabar no colo das classes mais pobres certamente já que rico não vai pagar esse boleto.
O custo humano e social já estamos pagando quando nos recusamos a abrir mão de nosso conforto diário, da balada, do bar com a galera, do show, do cineminha pensando que a doença vai passar longe de nós. Pode até passar e espero que passe mas, e o outro? E quem não pode se dar ao luxo de desdenhar a doença? E quem não tem a opção de ficar em quarentena confortável em seu apartamento de vários metros quadrados, abastecido, com acesso a internet e streaming e gerente cuidando de seus investimentos?
O ser humano é uma criatura abjeta, basta ver uma situação como esta pandemia para comprovar que seu único pensamento é em si, individual, solo, único. Tudo bem o outro morrer desde que eu não morra ou não tenha de abrir mão do meu conforto e privilégios.
Então, quando um casal de idosos que viajam para Búzios, tem médico próprio, plano de saúde e moram num bairro de classe média alta segue com sua diaristas trabalhando em casa mesmo estando ambos infectados, há quem diga que ela precisa seguir trabalhando pois foi a profissão que escolheu para si, que diaristas não são mais escravas e que o referido casal demonstrou empatia ao fornecer luvas, máscaras e outros meios de proteção.
Não. Apenas não.
O preço dessa doença ainda não foi sentido pois as classes mais baixas ainda não começaram a se infectar, quando começarem teremos então uma boa noção do que essa pandemia vai custar a todos nós. Pobre não pode se dar ao luxo de ficar de quarentena, não pode ficar em casa porque precisa trabalhar, tem conta para pagar e não tem opção. Não viaja para Búzios ou tem médico pessoal.
Enquanto a elite segue confinada em suas torres, o pobre segue pegando coletivo e trens lotados, não tem isolamento, não tem escolha. Pobre não faz home office amores, pobre não tem como estocar comida nem licença remunerada, pobre tem de lutar todo dia contra o vírus da desigualdade ou morre.
Achar que empatia é fornecer luva e máscara e dizer para a pessoa vir só uma vez por semana é cagar para a vida alheia, fazer troça com a saúde do outro. Empatia não é estocar comida e comprar todo o álcool em gel, isso é mesquinharia em seu aspecto mais grotesco. Estamos em momento de pensar COLETIVAMENTE e deixar o INDIVIDUAL um pouco de lado.
Empatia é deixar quem lhe presta serviços em licença remunerada até que a situação se acalme. É comprar apenas o que falta entendendo que o o seu estoque é a fome do outro. É abrir mão daquele lazer porque ele pode representar a morte do outro. É pensar que a doença não conhece classe, posse ou status, ela vai infectar todos sem exceção e sem dó mas podemos, como pessoas, minimizar seu impacto pensando uns nos outros e não em nossas necessidades pessoais.
Epidemias como essa são e serão cada vez mais comuns num mundo globalizado, conectado e mutante, cabe a ciência tentar prever e prevenir, aos governos controlar, dar apoio, cuidar e gerenciar e a nós, atuar como seres pensantes e aptos para a vida em sociedade.
Já a epidemia de egoísmo, desigualdade e pobreza segue fazendo vítimas como sempre e seguirá assim mesmo depois que essa de agora for superada. Contra essa epidemia social não há vacina, não há remédio, não há contenção e ela fica mais evidente quando temos doenças graves como o coronavírus entre nós.
O coronavírus é patológico, o outro é sociológico.
11 de mar. de 2020
Faca na caveira
Pode não parecer mas a democracia é um tecido frágil sujeito a desfazer-se ante qualquer vento mais forte ou mares um pouco mais agitados.
Geralmente, ela morre sem que nos demos conta ainda que os sinais de que morreria fossem claros e inequívocos, poucos de nós conseguem ter a clareza necessária para antever tal fim, a maioria segue pagando os boletos, vivendo a vida como se lutar pela democracia fosse dever dos outros afinal, deve haver gente cuidando disso não é mesmo? As instituições não estão ai para isso!
Errado.
As instituições são tão fortes quanto o povo que representam, se o povo que representam é inerte então pouco poderão fazer para sustentar o regime democrático, se o povo for consciente, terão mais força para combater quaisquer ameaças.
Quando temos um presidente da república que flerta abertamente com o autoritarismo testando diariamente os limites da democracia e das instituições, temos um quadro muito perigoso. Bolsonaro está aos poucos implantando seu projeto de governo, seu sonho absolutista e de seu clã; fala ou faz uma coisa e analisa como repercutiu, se colou, ótimo, bola pra frente, não colou? Bom, fala que a imprensa esquerdista deturpou tudo e que ele não consegue governar pois as instituições estão fazendo chantagem, a velha política que ele tão cruzadamente disse que iria combater.
Ao conclamar as pessoas para as manifestações de dia 15 próximo, mesmo dizendo que não se trata de incitar o povo contra as instituições, ele está jogando mais gasolina no fogo, incitando seu nicho de eleitores a irem contra as instituições que lutam por todos inclusive eles próprios, esta jogando seus peões no tabuleiro para forçar a mão do oponente e colocá-lo na parede e, pior cenário, ter justificativa para finalizar seu golpe e centralizar o poder nas mãos de seu clã e dos satélites de deus que estão cada vez desejosos de implantar a teocracia nacional.
Bolsonaro germinou em terreno mais que fértil, semeou sua esperança oca nos campos dos descrentes que olhavam para as instituições e viam apenas quadrilhas a pilhar o pais, beneficiar minorias e promover uma orgia nacional para acabar com o patriarcado e famílias de bem. Essas mesmas pessoas seguem devotas do messias e acreditando que ele precisa de liberdade para fazer o país voltar a ser grande, ame-o ou deixe-o, nunca saíram dos idos de 64 mas esquecem que sem a democracia e suas instituições impera a lei do cão e, nesse caso, a lei do poder e o poder desconhece amigos ou apoiadores, só reconhece inimigos.
Ante um crescimento econômico pífio, desemprego alto e desvalorização recorde da moeda, as promessas de Bolsonaro começa a virar vento e assim, ele precisa de um bode expiatório seja ele o coronavírus, o congresso, o STF, senado ou quem seja, desde que ele possa desviar a atenção e apontar outros como culpados por sua total incapacidade de governar democraticamente.
A democracia pode não ser perfeita, certamente não é mas, é por enquanto o melhor regime que temos até que consigamos pensar em algo mais justo, ela implica mito diálogo, negociação, trocas, concessões, enfim, política, uma arte cada vez mais depreciada e odiada pois é associada a roubo, falcatruas e corrupção quando deveria ser encarada com seriedade e dignidade. Fazer política é a arte de saber negociar, de dialogar, de persuadir, é um jogo complexo e muito dinâmico e, obviamente, pode ter suas falhas mas, prefiro seguir com ele do que a alternativa sombria.
Esta situação de pré-golpe que vivemos é culpa de todos, sem exceção. Na medida em que passamos a descrer da política e deixar as decisões nas mãos de outros estamos deixando o caminho aberto para oportunistas como Bolsonaro. Fazer política não é apenas saber como e em quem votar, deveria ser parte do cotidiano nosso entender, estar a par e participar das decisões políticas do país. Fazemos política todos os dias, não somente quando há eleição, fazemos política quando vamos na feira e barganhamos, fazemos política quando reclamamos de algo que nos incomoda, com nossas amizades e relacionamentos, no trabalho, pense bem, tudo que fazemos são atos políticos, a política não está restrita ao poder constituído, ela está em nós mas preferimos fazer de conta que não está e assim, elegemos sem saber direito como ou porque, não acompanhamos ou cobramos e depois não sabemos porque as coisas estão tão ruins.
Se tivermos mesmo um golpe branco como se desenha, todos seremos culpados, sem exceção, mesmo não tendo votado no messias seremos culpados porque somos um povo isolado em nós mesmos, não temos uma noção de social e coletivo e achamos que enquanto estiver bom para mim, não me importa. Pergunte a qualquer um em quem votou nas últimas eleições e porque votou naqueles candidatos, garanto que todos ou a grande maioria não vai lembrar ou se lembrar, dizer porque votou naqueles candidatos.
Brasileiro é um povo criança, acha que tudo é festa, carnaval e glitter, não é culpa nossa, somos um povo jovem demais ainda em termos históricos mas gostaria muito de ver que começamos a amadurecer ainda que a realidade mostre o oposto disso. Talvez seja preciso que passemos por uma nova ditadura, seja ela militar, de costumes, teocrática ou qualquer uma, pata entendermos nosso papel de sociedade e como agir enquanto povo eleitor e dono da nação.
Enquanto isso, vamos vigiar essa faca que está bem acima de nossas caveiras.
Geralmente, ela morre sem que nos demos conta ainda que os sinais de que morreria fossem claros e inequívocos, poucos de nós conseguem ter a clareza necessária para antever tal fim, a maioria segue pagando os boletos, vivendo a vida como se lutar pela democracia fosse dever dos outros afinal, deve haver gente cuidando disso não é mesmo? As instituições não estão ai para isso!
Errado.
As instituições são tão fortes quanto o povo que representam, se o povo que representam é inerte então pouco poderão fazer para sustentar o regime democrático, se o povo for consciente, terão mais força para combater quaisquer ameaças.
Quando temos um presidente da república que flerta abertamente com o autoritarismo testando diariamente os limites da democracia e das instituições, temos um quadro muito perigoso. Bolsonaro está aos poucos implantando seu projeto de governo, seu sonho absolutista e de seu clã; fala ou faz uma coisa e analisa como repercutiu, se colou, ótimo, bola pra frente, não colou? Bom, fala que a imprensa esquerdista deturpou tudo e que ele não consegue governar pois as instituições estão fazendo chantagem, a velha política que ele tão cruzadamente disse que iria combater.
Ao conclamar as pessoas para as manifestações de dia 15 próximo, mesmo dizendo que não se trata de incitar o povo contra as instituições, ele está jogando mais gasolina no fogo, incitando seu nicho de eleitores a irem contra as instituições que lutam por todos inclusive eles próprios, esta jogando seus peões no tabuleiro para forçar a mão do oponente e colocá-lo na parede e, pior cenário, ter justificativa para finalizar seu golpe e centralizar o poder nas mãos de seu clã e dos satélites de deus que estão cada vez desejosos de implantar a teocracia nacional.
Bolsonaro germinou em terreno mais que fértil, semeou sua esperança oca nos campos dos descrentes que olhavam para as instituições e viam apenas quadrilhas a pilhar o pais, beneficiar minorias e promover uma orgia nacional para acabar com o patriarcado e famílias de bem. Essas mesmas pessoas seguem devotas do messias e acreditando que ele precisa de liberdade para fazer o país voltar a ser grande, ame-o ou deixe-o, nunca saíram dos idos de 64 mas esquecem que sem a democracia e suas instituições impera a lei do cão e, nesse caso, a lei do poder e o poder desconhece amigos ou apoiadores, só reconhece inimigos.
Ante um crescimento econômico pífio, desemprego alto e desvalorização recorde da moeda, as promessas de Bolsonaro começa a virar vento e assim, ele precisa de um bode expiatório seja ele o coronavírus, o congresso, o STF, senado ou quem seja, desde que ele possa desviar a atenção e apontar outros como culpados por sua total incapacidade de governar democraticamente.
A democracia pode não ser perfeita, certamente não é mas, é por enquanto o melhor regime que temos até que consigamos pensar em algo mais justo, ela implica mito diálogo, negociação, trocas, concessões, enfim, política, uma arte cada vez mais depreciada e odiada pois é associada a roubo, falcatruas e corrupção quando deveria ser encarada com seriedade e dignidade. Fazer política é a arte de saber negociar, de dialogar, de persuadir, é um jogo complexo e muito dinâmico e, obviamente, pode ter suas falhas mas, prefiro seguir com ele do que a alternativa sombria.
Esta situação de pré-golpe que vivemos é culpa de todos, sem exceção. Na medida em que passamos a descrer da política e deixar as decisões nas mãos de outros estamos deixando o caminho aberto para oportunistas como Bolsonaro. Fazer política não é apenas saber como e em quem votar, deveria ser parte do cotidiano nosso entender, estar a par e participar das decisões políticas do país. Fazemos política todos os dias, não somente quando há eleição, fazemos política quando vamos na feira e barganhamos, fazemos política quando reclamamos de algo que nos incomoda, com nossas amizades e relacionamentos, no trabalho, pense bem, tudo que fazemos são atos políticos, a política não está restrita ao poder constituído, ela está em nós mas preferimos fazer de conta que não está e assim, elegemos sem saber direito como ou porque, não acompanhamos ou cobramos e depois não sabemos porque as coisas estão tão ruins.
Se tivermos mesmo um golpe branco como se desenha, todos seremos culpados, sem exceção, mesmo não tendo votado no messias seremos culpados porque somos um povo isolado em nós mesmos, não temos uma noção de social e coletivo e achamos que enquanto estiver bom para mim, não me importa. Pergunte a qualquer um em quem votou nas últimas eleições e porque votou naqueles candidatos, garanto que todos ou a grande maioria não vai lembrar ou se lembrar, dizer porque votou naqueles candidatos.
Brasileiro é um povo criança, acha que tudo é festa, carnaval e glitter, não é culpa nossa, somos um povo jovem demais ainda em termos históricos mas gostaria muito de ver que começamos a amadurecer ainda que a realidade mostre o oposto disso. Talvez seja preciso que passemos por uma nova ditadura, seja ela militar, de costumes, teocrática ou qualquer uma, pata entendermos nosso papel de sociedade e como agir enquanto povo eleitor e dono da nação.
Enquanto isso, vamos vigiar essa faca que está bem acima de nossas caveiras.
10 de mar. de 2020
E o palhaço, o que é?
Quando o palhaço é presidente e o presidente é palhaço, quem toca fogo no circo para os outros ficarem rindo?
[pausa]
Dólar, dólar, dólar, se tu vais a cinco quem fica na metade do caminho entre Disney e o inferno somos nós, aqui já estamos abraçando o capeta há tempos já, abraçar o capeta é o passatempo preferido do brasileiro depois de matar bixa, bater em mulher e mandar preto, favelado e pobre pra cadeia. Tudo em nome de deus, da moral e bons costumes, família transtornada brasileira, música pra matar brasileira. Lá vem o cruzado patriota dos confins da terra mãe em seu alazão clonado, estandarte europeu e espada de cromo, voz imberbe como se chupasse as mamas do país em busca de um leite esgotado.
[interregno]
Patriotas. Patetriotas. 15/03 nas ruas, lambendo os beiços e o rabo do messias, cruz de malta, de leite de macho maltado, ejaculado na boca dos servos idólatras que só tem boca para beber o leite fétido do sêmen jorrado dessa fonte pútrida. Fecha congresso, fecha senado, fecha stf, fecha tudo seu milico, bate continência pro capitão, do mato, do asfalto, do planalto. Fecha tudo talquei e abre essas pernas sociedade que vou lhe estuprar, arrombar, abrir, deflorar, acharam eu era a bela viola mas por dentro sou cão sarnento, rábido, rápido, criado na base de notícias falas e confusão geral, alimento dos deuses que vocês criaram em cada tweet, like e repost. Ave César! Affff César...
[break]
Mas e Marielle? Uma banana
E o PIB? Banana nanica
E o dólar? Banana ouro
E o Queiroz? Banana da terra
E o PT? Banana maçã
E a imprensa? Banana split
E o governo? Bananas
[appendix]
[pausa]
Dólar, dólar, dólar, se tu vais a cinco quem fica na metade do caminho entre Disney e o inferno somos nós, aqui já estamos abraçando o capeta há tempos já, abraçar o capeta é o passatempo preferido do brasileiro depois de matar bixa, bater em mulher e mandar preto, favelado e pobre pra cadeia. Tudo em nome de deus, da moral e bons costumes, família transtornada brasileira, música pra matar brasileira. Lá vem o cruzado patriota dos confins da terra mãe em seu alazão clonado, estandarte europeu e espada de cromo, voz imberbe como se chupasse as mamas do país em busca de um leite esgotado.
[interregno]
Patriotas. Patetriotas. 15/03 nas ruas, lambendo os beiços e o rabo do messias, cruz de malta, de leite de macho maltado, ejaculado na boca dos servos idólatras que só tem boca para beber o leite fétido do sêmen jorrado dessa fonte pútrida. Fecha congresso, fecha senado, fecha stf, fecha tudo seu milico, bate continência pro capitão, do mato, do asfalto, do planalto. Fecha tudo talquei e abre essas pernas sociedade que vou lhe estuprar, arrombar, abrir, deflorar, acharam eu era a bela viola mas por dentro sou cão sarnento, rábido, rápido, criado na base de notícias falas e confusão geral, alimento dos deuses que vocês criaram em cada tweet, like e repost. Ave César! Affff César...
[break]
Mas e Marielle? Uma banana
E o PIB? Banana nanica
E o dólar? Banana ouro
E o Queiroz? Banana da terra
E o PT? Banana maçã
E a imprensa? Banana split
E o governo? Bananas
[appendix]
hétero não sofre com piadinha infame
hétero não leva lâmpadas na cara
hétero não esconde seu amor
hétero não precisa calar seu amor
hétero não precisa pedir desculpas por existir
hétero não precisa ter medo de ser feliz
hétero não precisa medir suas palavras
hétero não precisa dizer que não sente nada
hétero não precisa comungar em pecado
hétero não precisa entrar na justiça pra casar
hétero não precisa dar nomes ao seu amor
hétero não precisa inventar coisas do amor
hétero não precisa mentir sobre a vida
hétero não precisa esconder as feridas
hétero não precisa fingir nessa vida
hétero não precisa rezar pelo simples
hétero não precisa ler a lei para ter justiça
hétero não precisa ter medo dos canas
hétero não precisa fugir dos sacanas
hétero não precisa enterrar sentimentos
hétero não precisa ter medo do sexo
hétero não precisa advogado pra garantir seu amor
hétero não precisa de moeda corrente
hétero não precisa ter medo de gente
hétero não precisa chorar calado
hétero não precisa sorrir falso
hétero não precisa ter medo da gente
só precisa aceitar que a gente
só quer ser gente igual a todas as gentes
hétero não leva lâmpadas na cara
hétero não esconde seu amor
hétero não precisa calar seu amor
hétero não precisa pedir desculpas por existir
hétero não precisa ter medo de ser feliz
hétero não precisa medir suas palavras
hétero não precisa dizer que não sente nada
hétero não precisa comungar em pecado
hétero não precisa entrar na justiça pra casar
hétero não precisa dar nomes ao seu amor
hétero não precisa inventar coisas do amor
hétero não precisa mentir sobre a vida
hétero não precisa esconder as feridas
hétero não precisa fingir nessa vida
hétero não precisa rezar pelo simples
hétero não precisa ler a lei para ter justiça
hétero não precisa ter medo dos canas
hétero não precisa fugir dos sacanas
hétero não precisa enterrar sentimentos
hétero não precisa ter medo do sexo
hétero não precisa advogado pra garantir seu amor
hétero não precisa de moeda corrente
hétero não precisa ter medo de gente
hétero não precisa chorar calado
hétero não precisa sorrir falso
hétero não precisa ter medo da gente
só precisa aceitar que a gente
só quer ser gente igual a todas as gentes
9 de mar. de 2020
O Carandiru nosso de cada dia
Creio que todos estejam a par do caso de Suzy, escrevi sobre ele aqui.
Numa reviravolta novelesca e que está alimentando a fábrica de ódio das redes sociais, o crime e sentença de Suzy vazaram numa clara infração de seus direitos constitucionais e sim, detentos ainda tem direitos mesmo que você torça o nariz para isso.
Quem vazou? Difícil saber, pode ser sido a própria Globo sedenta por mais números de audiência, Bolsonaristas cruzados imbuídos do dia 15/03 e que defendem o extermínio como solução para tudo ou até mesmo notícias falsas criadas para gerar ruído e confusão.
Partamos do pressuposto de que os fatos sejam reais e que Suzy tenha sido autora dos crimes horríveis que perpetrou e pelos quais está pagando, estão agora crucificando Dr. Drauzio apenas por ser o que todos nós deveríamos ser mas nunca somos, humanos. Ele é um MÉDICO, não é juiz nem advogado, não estava lá para entender porque ela cometeu os crimes que cometeu ou traçar um perfil dela enquanto criminosa, estava lá para mostra a realidade das pessoas trans encarceradas e sua luta pela sobrevivência e reintegração.
O crime de Suzy precisa ser entendido num contexto mais amplo considerando sua orientação sexual e identidade de gênero além de possíveis problemas psicológicos e psiquiátricos e sempre tendo em mente o trauma da família que sofreu uma perda irreparável. Associar seu crime a sua sexualidade é ratificar o discurso de ódio contra toda a população LGBTQIA+ da mesma forma que pregar que bandido bom é bandido morto, lembre que a Lei de Talião tem o péssimos hábito de acabar por deixar a todos nós em um país de cegos.
Seja como for que a informação tenha vazado, agora os cruzados do messias estão revestidos de seu ódio contra todos os criminosos e, obviamente, pregando a quem quiser ouvir que os gays são todos pedófilos, pervertidos e estupradores, Suzy lhes deu a munição que precisavam e está pagando outra sentença além da que já paga, a do tribunal virtual e neste, não há apelação ou recurso possível.
Muito provavelmente, toda a rede de apoio que se fez após a matéria do Fantástico irá se desfazer no ar com esse novo fato que veio a luz verdadeiro ou não porque Suzy já foi considerada culpada e condenada pelos juízes da internet e, se havia passado oito anos sem qualquer contato humano com o mundo exterior tenho quase certeza que passará o dobro disso isolada e repudiada.
Não estou defendendo bandido ou justificando seus crimes, se ela os cometeu há de pagar por eles como dita a lei mas fazer com que ela passe por outro julgamento onde ela nem mesmo pode se defender diz muito sobre nós como pessoas e como sociedade, fácil chutar cachorro morto. O uso descarado que a mídia social faz dessas pessoas como alimento das polarizações que vivemos faz bem apenas para nós que estamos livres e podemos nos odiar online todos os dias, o dia todo, para Suzy e outros encarcerados, a vida segue amargar como sempre foi só que pior pois agora as feridas que estavam quase fechando estão novamente abertas e não apenas de seu lado mas pelo lado da vítima também ou seja, estamos acabando com a vida de mais de uma pessoa a cada comentário.
Agora, pedir a cabeça ou o cancelamento de Drauzio é um absurdo sem tamanho e uma estratégia nojenta dos conservadores e Bolsonaristas abjetos que o estão usando como bode expiatório para sua agenda fascista seguir adiante. Drauzio nunca foi aos presídios tratar apenas detentos que cometeram ofensas leves, ele sempre tratou todos sem distinção pois seu juramento assim o diz, não importa se é um traficante, pedófilo, estuprador, assassino; se é rico, pobre, gay, trans, ou seja lá o que for, ele está la porque é um médico e um ser humano melhor do nós pois está dando ajuda e apoio a pessoas que não teriam isso em outro lugar independente de um julgamento abstrato de merecimento.
Drauzio está lá porque aqui de fora nós só lhes enviamos ódio, ressentimento, asco e esquecimento e lá dentro. eles só tem mais do mesmo e ninguém mais fará isso por eles mas, o tribunal das bestas online já condenou Drauzio porque esse tribunal não tem humanidade, só tem ódio. O júri online já proferiu sua sentença de que ele gosta de bandido, de que a Globo é um lixo (e estamos vendo vocês promovendo boicote e sem tirar o olho do BBB) e está promovendo bandido e pedófilo, como se Drauzio tivesse por obrigação cuidar apenas de quem é bom e, nesse caso, quem define quem é bom e quem é mau? Vocês com o teclado ou smartphone nas mãos?
Estamos vivendo esses tempos horrendos em que pessoas com atitudes humanas são execradas e aquelas que pregam o ódio, morte, preconceito e raiva são ovacionadas em pé. Em que um condenado não paga apenas uma pelo seu crime porque na internet ele não prescreve jamais. Em que o entendimento de uma situação se dá em cento e quarenta caracteres, sem contexto, sem bagagem, sem ver o quadro mais amplo. Em que as informações vazam conforme o benefício que podem causar ou o dano que possam infligir. Em que a veracidade dos fatos se dá pela quantidade e likes ou retweets e não pela análise profunda e reflexão. Em que jamais seremos perdoados enquanto houver wifi e um teclado por perto.
O Carandiru nosso de cada dia.
Numa reviravolta novelesca e que está alimentando a fábrica de ódio das redes sociais, o crime e sentença de Suzy vazaram numa clara infração de seus direitos constitucionais e sim, detentos ainda tem direitos mesmo que você torça o nariz para isso.
Quem vazou? Difícil saber, pode ser sido a própria Globo sedenta por mais números de audiência, Bolsonaristas cruzados imbuídos do dia 15/03 e que defendem o extermínio como solução para tudo ou até mesmo notícias falsas criadas para gerar ruído e confusão.
Partamos do pressuposto de que os fatos sejam reais e que Suzy tenha sido autora dos crimes horríveis que perpetrou e pelos quais está pagando, estão agora crucificando Dr. Drauzio apenas por ser o que todos nós deveríamos ser mas nunca somos, humanos. Ele é um MÉDICO, não é juiz nem advogado, não estava lá para entender porque ela cometeu os crimes que cometeu ou traçar um perfil dela enquanto criminosa, estava lá para mostra a realidade das pessoas trans encarceradas e sua luta pela sobrevivência e reintegração.
O crime de Suzy precisa ser entendido num contexto mais amplo considerando sua orientação sexual e identidade de gênero além de possíveis problemas psicológicos e psiquiátricos e sempre tendo em mente o trauma da família que sofreu uma perda irreparável. Associar seu crime a sua sexualidade é ratificar o discurso de ódio contra toda a população LGBTQIA+ da mesma forma que pregar que bandido bom é bandido morto, lembre que a Lei de Talião tem o péssimos hábito de acabar por deixar a todos nós em um país de cegos.
Seja como for que a informação tenha vazado, agora os cruzados do messias estão revestidos de seu ódio contra todos os criminosos e, obviamente, pregando a quem quiser ouvir que os gays são todos pedófilos, pervertidos e estupradores, Suzy lhes deu a munição que precisavam e está pagando outra sentença além da que já paga, a do tribunal virtual e neste, não há apelação ou recurso possível.
Muito provavelmente, toda a rede de apoio que se fez após a matéria do Fantástico irá se desfazer no ar com esse novo fato que veio a luz verdadeiro ou não porque Suzy já foi considerada culpada e condenada pelos juízes da internet e, se havia passado oito anos sem qualquer contato humano com o mundo exterior tenho quase certeza que passará o dobro disso isolada e repudiada.
Não estou defendendo bandido ou justificando seus crimes, se ela os cometeu há de pagar por eles como dita a lei mas fazer com que ela passe por outro julgamento onde ela nem mesmo pode se defender diz muito sobre nós como pessoas e como sociedade, fácil chutar cachorro morto. O uso descarado que a mídia social faz dessas pessoas como alimento das polarizações que vivemos faz bem apenas para nós que estamos livres e podemos nos odiar online todos os dias, o dia todo, para Suzy e outros encarcerados, a vida segue amargar como sempre foi só que pior pois agora as feridas que estavam quase fechando estão novamente abertas e não apenas de seu lado mas pelo lado da vítima também ou seja, estamos acabando com a vida de mais de uma pessoa a cada comentário.
Agora, pedir a cabeça ou o cancelamento de Drauzio é um absurdo sem tamanho e uma estratégia nojenta dos conservadores e Bolsonaristas abjetos que o estão usando como bode expiatório para sua agenda fascista seguir adiante. Drauzio nunca foi aos presídios tratar apenas detentos que cometeram ofensas leves, ele sempre tratou todos sem distinção pois seu juramento assim o diz, não importa se é um traficante, pedófilo, estuprador, assassino; se é rico, pobre, gay, trans, ou seja lá o que for, ele está la porque é um médico e um ser humano melhor do nós pois está dando ajuda e apoio a pessoas que não teriam isso em outro lugar independente de um julgamento abstrato de merecimento.
Drauzio está lá porque aqui de fora nós só lhes enviamos ódio, ressentimento, asco e esquecimento e lá dentro. eles só tem mais do mesmo e ninguém mais fará isso por eles mas, o tribunal das bestas online já condenou Drauzio porque esse tribunal não tem humanidade, só tem ódio. O júri online já proferiu sua sentença de que ele gosta de bandido, de que a Globo é um lixo (e estamos vendo vocês promovendo boicote e sem tirar o olho do BBB) e está promovendo bandido e pedófilo, como se Drauzio tivesse por obrigação cuidar apenas de quem é bom e, nesse caso, quem define quem é bom e quem é mau? Vocês com o teclado ou smartphone nas mãos?
Estamos vivendo esses tempos horrendos em que pessoas com atitudes humanas são execradas e aquelas que pregam o ódio, morte, preconceito e raiva são ovacionadas em pé. Em que um condenado não paga apenas uma pelo seu crime porque na internet ele não prescreve jamais. Em que o entendimento de uma situação se dá em cento e quarenta caracteres, sem contexto, sem bagagem, sem ver o quadro mais amplo. Em que as informações vazam conforme o benefício que podem causar ou o dano que possam infligir. Em que a veracidade dos fatos se dá pela quantidade e likes ou retweets e não pela análise profunda e reflexão. Em que jamais seremos perdoados enquanto houver wifi e um teclado por perto.
O Carandiru nosso de cada dia.
6 de mar. de 2020
Bananas e Circo
Salve senhor das bananas, mestre dos palhaços, rei do gado, bufão maior.
Nossas caras estão aí para que estapeie, para que enfie suas bananas e frutas ácidas sem dó ou piedade.
Goza em nossas fuças com seu talkey emérito, ejacula teu ódio em nós ó divino messias, abençoa nossas vidas com a piada do absurdo ó messias mito bananal.
Leva o palhaço que sabe que é palhaço para fazer de conta que não és o palhaço que sabemos que és e para mostrar que os palhaços somos nós aqui sedentos por suas bravatas.
Fala tuas mentiras que elas são doces ao nossos ouvidos, surdos de tanto recusar a verdade. Fala tuas ofensas que isso no dá mais vontade de sermos brasileiros, mais senso de pátria e de sermos um povo abençoado por Deus e amparado pelo Demônio.
Deus não é brasileiro. Nunca foi. Se fosse não teríamos um picadeiro de horrores onde você é o mestre de cerimônias. Não teríamos um palhaço caído e falido como maior dignatário da democracia nacional. Não teríamos vergonha de usar nossas cores nem de falar que somos a terra que um dia Deus abençoou e que, pelo jeito, esqueceu.
Jair. Jair. Jair.
Agora eu entendo porque nós trata assim, tens RIA no nome, já era um palhaço nato mas sem circo e ai, conseguiu a maior tenda que qualquer palhaço já conseguiu.
Vendeu seus ingressos e nós, crentes de que veríamos o maior espetáculo da terra, lotamos teu circo.
Só que não tem pipoca.
Não tem guaraná.
Não tem cachorro quente.
Não tem bala, doce nem balão.
Só tem a gente deste lado maquiado e com nariz vermelho, rindo pra não chorar.
5 de mar. de 2020
O Astro
Quando li isso aqui, achei que era balela mas, lendo a matéria, constata-se que é verídico.
Não sei por onde começar a explicar o absurdo de tal situação. Será possível que está assim tão complicado encontrar profissionais qualificados que é preciso recorrer aos astros para fazer uma contratação? Ou estamos diante de uma nova forma de processo seletivo onde suas características astrológicas serão o fiel da balança para sua contratação ao invés de experiência profissional, formação e habilidades?
Se for assim, então aqueles signos considerados mais difíceis estarão fadados ao desemprego eterno ou a se tornarem 'empreendedores' como se já não bastasse o governo e sociedade para promover a precarização do trabalho com a praga do empreendedorismo.
Eu pessoalmente não creio na astrologia ainda que reconheça que essa 'pseudociência' (não confundir com ASTRONOMIA) tem milênios de história e deve ser respeitada como forma de estudo, conhecimento e auto-conhecimento mas eu não consigo crer que a elevação de uma estrela ou o trânsito de um planeta pode influenciar minha vida, atitudes, comportamento ou determinar meu destino, nem mesmo traçar as características de minha personalidade ou falhas de comportamento. Acho uma saída fácil para desculpar nossos erros e falhas enquanto pessoas dizer que somos como somos porque nosso signo assim o determina ou dizer que essa ou aquela pessoas tem os problemas que tem porque é desse ou daquele signo.
Claro, estou fazendo uma generalização quase grotesca e, como já disse, a astrologia merece sim respeito como 'ciência' do auto-conhecimento afinal, algo que está ainda vivo e presente depois de mais de quatro mil anos ou mais merece um mínimo de respeito e, se você crê e segue, lhe faz bem e lhe dá as respostas ou parte das respostas que busca, muito que bem!
Creio que meu problema com a astrologia é a questão de colocar a fé, algo que sou contrário a fazer quando confrontado com qualquer conjunto de crenças, regras, preceitos, normas, homilias ou coisas telúricas que foram construídos pelo homem e fique claro, é uma opinião minha, pessoal e eu posso e muito provavelmente estou enganado, quem sabe?
Outro ponto que me incomoda é a questão do horóscopo e sei que até mesmo alguns astrólogos torcem o nariz quando falamos disso. Dia desses, falava com um amigo que me contava sobre as previsões para seu signo e, involuntariamente, acabei desmontando sua crença naquelas previsões argumentando que o horóscopo nunca fala nada claramente, sempre lhe dá 50% de chance de que algo vá ou não acontecer ou seja, se ele acertar ótimo, se errar, também.
Pegue qualquer enunciado de horóscopo e veja como eles jogam com seu emocional e jamais afirmam qualquer coisa, apenas jogam possibilidades que lidam com o aleatório de nossas vidas e com nosso emocional. Assim, se você lê que pode haver problemas no trabalho e algo realmente acontecer, vai dizer que o horóscopo esteva certo, que os astros previram isso ao invés de tentar entender porque e como aconteceu esse problema que, muito provavelmente, teve uma causa real muito clara.
Da mesma forma, quando os astros apontam coisas boas e elas realmente acontecem, temos o sentimento de recompensa, de que o universo ou os deuses e deusas estão sorrindo para nós quando poderíamos apenas pensar que tais acontecimentos são reflexos de ações que tivemos ou, porque não, puro acaso ou sorte.
É mais o menos como dizer que hoje está um dia lindo mas pode ser que chova à tarde, entender? Qualquer uma das afirmações é verídica se ocorrer. O que mais me espanta é ver como as previsões diferem entre si, se meu signo é regido por um ou mais astros, ascendentes e coisas assim e tais fatos são, pelo que entendo, imutáveis, então, diferentes astrólogos deveriam ter a mesma interpretação de meu destino já que não poderiam alterar os desígnios astrais que me regem.
Não é o que acontece.
Hoje, para escrever este texto, li pelo menos quatro horóscopos distintos e cada um preconizada uma coisa diferente para mim, qual deles tem a razão? Qual deles fala a verdade? Se for seguir todos minha vida vai virar de cabeça pro ar.
Obviamente que o horóscopo é apenas parte da astrologia, desmerecer esse estudo dos astros e seus efeitos sobre nós e nossas vidas apenas porque or jornais, revistas e internet pululam com as mais absurdos desígnios e previsões seria tomar uma parte pelo todo.
Desde sempre tivemos uma necessidade de encontrar respostas, é humano apenas, esse desejo nos fez conceber os mais belos sonhos além dos mais terríveis pesadelos. Nessa busca, voltamos nossos olhos para os céus e passamos a buscar nos astros as respostas que tanto ansiamos, se eles realmente estão respondendo, não sei dizer. Se estão velando por nossos destinos, muito menos. Se estão nos ajudando ou atrapalhando, menos ainda. Deixo tais respostas para os astrólogos e estudiosos sérios do assunto que tem meu profundo respeito assim como as pessoas que seguem tais crenças.
No frigir dos ovos, não creio em bruxas mas que elas existem, ah, isso existem sim!
Não sei por onde começar a explicar o absurdo de tal situação. Será possível que está assim tão complicado encontrar profissionais qualificados que é preciso recorrer aos astros para fazer uma contratação? Ou estamos diante de uma nova forma de processo seletivo onde suas características astrológicas serão o fiel da balança para sua contratação ao invés de experiência profissional, formação e habilidades?
Se for assim, então aqueles signos considerados mais difíceis estarão fadados ao desemprego eterno ou a se tornarem 'empreendedores' como se já não bastasse o governo e sociedade para promover a precarização do trabalho com a praga do empreendedorismo.
Eu pessoalmente não creio na astrologia ainda que reconheça que essa 'pseudociência' (não confundir com ASTRONOMIA) tem milênios de história e deve ser respeitada como forma de estudo, conhecimento e auto-conhecimento mas eu não consigo crer que a elevação de uma estrela ou o trânsito de um planeta pode influenciar minha vida, atitudes, comportamento ou determinar meu destino, nem mesmo traçar as características de minha personalidade ou falhas de comportamento. Acho uma saída fácil para desculpar nossos erros e falhas enquanto pessoas dizer que somos como somos porque nosso signo assim o determina ou dizer que essa ou aquela pessoas tem os problemas que tem porque é desse ou daquele signo.
Claro, estou fazendo uma generalização quase grotesca e, como já disse, a astrologia merece sim respeito como 'ciência' do auto-conhecimento afinal, algo que está ainda vivo e presente depois de mais de quatro mil anos ou mais merece um mínimo de respeito e, se você crê e segue, lhe faz bem e lhe dá as respostas ou parte das respostas que busca, muito que bem!
Creio que meu problema com a astrologia é a questão de colocar a fé, algo que sou contrário a fazer quando confrontado com qualquer conjunto de crenças, regras, preceitos, normas, homilias ou coisas telúricas que foram construídos pelo homem e fique claro, é uma opinião minha, pessoal e eu posso e muito provavelmente estou enganado, quem sabe?
Outro ponto que me incomoda é a questão do horóscopo e sei que até mesmo alguns astrólogos torcem o nariz quando falamos disso. Dia desses, falava com um amigo que me contava sobre as previsões para seu signo e, involuntariamente, acabei desmontando sua crença naquelas previsões argumentando que o horóscopo nunca fala nada claramente, sempre lhe dá 50% de chance de que algo vá ou não acontecer ou seja, se ele acertar ótimo, se errar, também.
Pegue qualquer enunciado de horóscopo e veja como eles jogam com seu emocional e jamais afirmam qualquer coisa, apenas jogam possibilidades que lidam com o aleatório de nossas vidas e com nosso emocional. Assim, se você lê que pode haver problemas no trabalho e algo realmente acontecer, vai dizer que o horóscopo esteva certo, que os astros previram isso ao invés de tentar entender porque e como aconteceu esse problema que, muito provavelmente, teve uma causa real muito clara.
Da mesma forma, quando os astros apontam coisas boas e elas realmente acontecem, temos o sentimento de recompensa, de que o universo ou os deuses e deusas estão sorrindo para nós quando poderíamos apenas pensar que tais acontecimentos são reflexos de ações que tivemos ou, porque não, puro acaso ou sorte.
É mais o menos como dizer que hoje está um dia lindo mas pode ser que chova à tarde, entender? Qualquer uma das afirmações é verídica se ocorrer. O que mais me espanta é ver como as previsões diferem entre si, se meu signo é regido por um ou mais astros, ascendentes e coisas assim e tais fatos são, pelo que entendo, imutáveis, então, diferentes astrólogos deveriam ter a mesma interpretação de meu destino já que não poderiam alterar os desígnios astrais que me regem.
Não é o que acontece.
Hoje, para escrever este texto, li pelo menos quatro horóscopos distintos e cada um preconizada uma coisa diferente para mim, qual deles tem a razão? Qual deles fala a verdade? Se for seguir todos minha vida vai virar de cabeça pro ar.
Obviamente que o horóscopo é apenas parte da astrologia, desmerecer esse estudo dos astros e seus efeitos sobre nós e nossas vidas apenas porque or jornais, revistas e internet pululam com as mais absurdos desígnios e previsões seria tomar uma parte pelo todo.
Desde sempre tivemos uma necessidade de encontrar respostas, é humano apenas, esse desejo nos fez conceber os mais belos sonhos além dos mais terríveis pesadelos. Nessa busca, voltamos nossos olhos para os céus e passamos a buscar nos astros as respostas que tanto ansiamos, se eles realmente estão respondendo, não sei dizer. Se estão velando por nossos destinos, muito menos. Se estão nos ajudando ou atrapalhando, menos ainda. Deixo tais respostas para os astrólogos e estudiosos sérios do assunto que tem meu profundo respeito assim como as pessoas que seguem tais crenças.
No frigir dos ovos, não creio em bruxas mas que elas existem, ah, isso existem sim!
4 de mar. de 2020
Transparente
Creio que todos tenham vista a matéria do Dr. Drauzio no Fantástico de domingo último, caso não, clique aqui.
Não vejo TV aberta, não por preconceito nem nada mas simplesmente porque não há nada nela que me agrade ou mereça minha atenção, prefiro gastar meu tempo com outras coisas mas, eventualmente, aparecem matérias como essa que precisam ser vistas, compartilhadas e gerar uma reflexão em cada um de nós.
Depois de ver a matéria, a palavra que apareceu em minha mente foi PRIVILÉGIO. Sim. Essa mesma e em maiúsculas. Damos tanto por certo e imutável em nossas vidas que passamos a desvalorizar os pequenos milagres e benesses que usufruímos passando a um atitude de contestação permanente e insatisfação constante.
O carro que não temos, o emprego que não gostamos, o dinheiro que não temos, a roupa que não podemos comprar, a comida que não gostamos, as pessoas que não amamos, as filas que pegamos, o transporte que atrasa, a sociedade que não melhora, o governo que nada faz, futilidades que assomam um valor absurdo no mar de pseudo-problemas que gostamos de mergulhar.
Matérias como essa fazem pensar, provavelmente teremos esse momento de epifania por alguns momentos em que aquelas realidades tão desoladoras nos batem na cara para, logo em seguida, voltarmos às nossas lamúrias diárias e reclamações fúteis, normal, somos apenas humanos e eternamente insatisfeitos.
Mas, se pudermos nos apegar a esse sentimento e fazê-lo durar mais do alguns minutos, empregar o sentido de privilégio em nosso cotidiano e passarmos a perceber que fazemos parte da pequena parcela de pessoas que possuem acesso às oportunidades, vantagens e benefícios que a sociedade infelizmente reserva apenas a poucos, talvez possamos fazer nossas vidas e o mundo um lugar menos pior.
Pode parecer piegas, clichê, coisa de guru de auto-ajuda mas não, pense na história daquelas pessoas da matéria que, além de estarem encarceradas, são pessoas trans ou seja, carregam mais de um estigma que dificilmente a sociedade irá perdoar e, mesmo assim, elas estão vivas, tem alguma esperança e lutam para viver dia a dia pois para elas, o amanhã é algo tão incerto quanto o hoje e menos incerto do que ontem.
Para elas, as pequenas conquistas são de valor imenso, não dão nada por certo porque sabem que a vida, num estalar de dedos, pode fazer tudo virar pó ainda mais se você faz parte de qualquer minoria social que, tradicionalmente, terá menos chances, menos reconhecimento, menos oportunidades e mais preconceito, mais discriminação, mais ódio, mais nojo, mais julgamento, mais exclusão, e mais de tudo que é ruim, nocivo e humilhante.
Pense no caso de Suzy - não desmerecendo a história das demais - há mais oito anos sem receber uma visita seja de amigos ou família, sequer uma carta, um postal, nada. Pare um momento e pense se de súbito, seus amigos e familiares deixassem de falar com você por apenas uma semana, isso, apenas uma semana, como você se sentiria? E se fossem anos? O que você faria?
Pois ela está lá, isolada, náufraga social há oito anos, OITO ANOS, sem ninguém, sem uma pessoa para conversar, tocar, trazer notícias de fora, sem ter alguém que venha lhe dizer que te ama e que está lá te esperando, que te dê forças, que te apoie, que seja amigo, família, parente.
Suzy sossobrou o navio da vida e acabou sozinha naquela ilha para onde mandamos quem não queremos mais ver, lembrar ou ter por perto. Suzy é mais uma entre as centenas de milhares de náufragos que enfiamos nas cadeias porque bandido bom é bandido morto seja real ou figurativamente. Não importa quem está lá desde que lá permaneça.
Suzy é a nova leprosa, ela e suas amigas são a nova epidemia não o coronavírus, uma epidemia que vem matando mais e mais a cada ano incentivada por autoridades que preferem fazer vista grossa e direta ou indiretamente incentivam esse massacre. Suzy e suas amigas são vítimas caladas de uma estatística que só aumenta e de uma sociedade que prefere vê-las mortas do que ajudando a fazer um país melhor mesmo que seja por apenas viverem suas vidas.
Eu te peço desculpas, Suzy. Por mim, por aqueles que eu conheço e por todos mais por esses oito anos de hiato social. Te peço desculpas por sermos tão cegos e hipócritas, por sermos tão escrotos e individualistas. Te peço desculpas por reclamar de banalidades, por me sentir um nada, por me sentir injustiçado ou preterido na vida. Te peço desculpas por reclamar daquela comida que não gostei, por fazer pouco daquela pessoa que vi na rua, por falar mal de quem não conheço, por julgar sem entender.
Eu te peço desculpas, Suzy. Por estar aqui fora achando que estou livre e ter pena de você que está aí presa e sozinha há oito anos. Quem está preso sou eu, Suzy. Quem está sozinho sou eu, Suzy. Quem está precisando aprender algo sou eu, Suzy.
Saia daí e venha nos ensinar, por favor!
Não vejo TV aberta, não por preconceito nem nada mas simplesmente porque não há nada nela que me agrade ou mereça minha atenção, prefiro gastar meu tempo com outras coisas mas, eventualmente, aparecem matérias como essa que precisam ser vistas, compartilhadas e gerar uma reflexão em cada um de nós.
Depois de ver a matéria, a palavra que apareceu em minha mente foi PRIVILÉGIO. Sim. Essa mesma e em maiúsculas. Damos tanto por certo e imutável em nossas vidas que passamos a desvalorizar os pequenos milagres e benesses que usufruímos passando a um atitude de contestação permanente e insatisfação constante.
O carro que não temos, o emprego que não gostamos, o dinheiro que não temos, a roupa que não podemos comprar, a comida que não gostamos, as pessoas que não amamos, as filas que pegamos, o transporte que atrasa, a sociedade que não melhora, o governo que nada faz, futilidades que assomam um valor absurdo no mar de pseudo-problemas que gostamos de mergulhar.
Matérias como essa fazem pensar, provavelmente teremos esse momento de epifania por alguns momentos em que aquelas realidades tão desoladoras nos batem na cara para, logo em seguida, voltarmos às nossas lamúrias diárias e reclamações fúteis, normal, somos apenas humanos e eternamente insatisfeitos.
Mas, se pudermos nos apegar a esse sentimento e fazê-lo durar mais do alguns minutos, empregar o sentido de privilégio em nosso cotidiano e passarmos a perceber que fazemos parte da pequena parcela de pessoas que possuem acesso às oportunidades, vantagens e benefícios que a sociedade infelizmente reserva apenas a poucos, talvez possamos fazer nossas vidas e o mundo um lugar menos pior.
Pode parecer piegas, clichê, coisa de guru de auto-ajuda mas não, pense na história daquelas pessoas da matéria que, além de estarem encarceradas, são pessoas trans ou seja, carregam mais de um estigma que dificilmente a sociedade irá perdoar e, mesmo assim, elas estão vivas, tem alguma esperança e lutam para viver dia a dia pois para elas, o amanhã é algo tão incerto quanto o hoje e menos incerto do que ontem.
Para elas, as pequenas conquistas são de valor imenso, não dão nada por certo porque sabem que a vida, num estalar de dedos, pode fazer tudo virar pó ainda mais se você faz parte de qualquer minoria social que, tradicionalmente, terá menos chances, menos reconhecimento, menos oportunidades e mais preconceito, mais discriminação, mais ódio, mais nojo, mais julgamento, mais exclusão, e mais de tudo que é ruim, nocivo e humilhante.
Pense no caso de Suzy - não desmerecendo a história das demais - há mais oito anos sem receber uma visita seja de amigos ou família, sequer uma carta, um postal, nada. Pare um momento e pense se de súbito, seus amigos e familiares deixassem de falar com você por apenas uma semana, isso, apenas uma semana, como você se sentiria? E se fossem anos? O que você faria?
Pois ela está lá, isolada, náufraga social há oito anos, OITO ANOS, sem ninguém, sem uma pessoa para conversar, tocar, trazer notícias de fora, sem ter alguém que venha lhe dizer que te ama e que está lá te esperando, que te dê forças, que te apoie, que seja amigo, família, parente.
Suzy sossobrou o navio da vida e acabou sozinha naquela ilha para onde mandamos quem não queremos mais ver, lembrar ou ter por perto. Suzy é mais uma entre as centenas de milhares de náufragos que enfiamos nas cadeias porque bandido bom é bandido morto seja real ou figurativamente. Não importa quem está lá desde que lá permaneça.
Suzy é a nova leprosa, ela e suas amigas são a nova epidemia não o coronavírus, uma epidemia que vem matando mais e mais a cada ano incentivada por autoridades que preferem fazer vista grossa e direta ou indiretamente incentivam esse massacre. Suzy e suas amigas são vítimas caladas de uma estatística que só aumenta e de uma sociedade que prefere vê-las mortas do que ajudando a fazer um país melhor mesmo que seja por apenas viverem suas vidas.
Eu te peço desculpas, Suzy. Por mim, por aqueles que eu conheço e por todos mais por esses oito anos de hiato social. Te peço desculpas por sermos tão cegos e hipócritas, por sermos tão escrotos e individualistas. Te peço desculpas por reclamar de banalidades, por me sentir um nada, por me sentir injustiçado ou preterido na vida. Te peço desculpas por reclamar daquela comida que não gostei, por fazer pouco daquela pessoa que vi na rua, por falar mal de quem não conheço, por julgar sem entender.
Eu te peço desculpas, Suzy. Por estar aqui fora achando que estou livre e ter pena de você que está aí presa e sozinha há oito anos. Quem está preso sou eu, Suzy. Quem está sozinho sou eu, Suzy. Quem está precisando aprender algo sou eu, Suzy.
Saia daí e venha nos ensinar, por favor!
3 de mar. de 2020
Contágio
O tecido social que nos cerca é algo tão frágil que não nos damos conta, vivemos escorados num conjunto de regras, normas, convenções e regras que estão apenas sugeridas em nosso inconsciente coletivo e que jogaremos ao chão ao menor indício de que teremos de lutar pela sobrevivência.
Acha que não?
Veja essa epidemia nova que se espalhou pelo mundo, por mais que as autoridades de saúde e governos locais e mundiais atestem que não há razão para pânico, as pessoas já começas a estocar alimentos, água, remédios e produtos como álcool em gel e máscaras simplesmente desapareceram das farmácias. Talvez justamente porque essas autoridades e governos pedem calma seja porque todos estamos apavorados afinal, desde quando governos e autoridades realmente informam a sociedade com fatos reais e verídicos? Partimos do pressuposto de que estão mentindo e de que a situação é bem pior do que reportam e que os pedidos de calma são para proteger os mais ricos e as elites.
Claro que uma epidemia como essa precisa de toda nossa atenção, precaução e atenção e prefiro crer que as autoridades e governos estão mesmo empenhados em conter o vírus, minimizar seu impacto e encontrar uma cura ou vacina o mais rapidamente quanto possível mas, o efeito cascata já se faz sentir ainda mais nos tempos de hoje quando as pessoas podem viajar mais e de forma mais rápida facilitando a disseminação da doença.
Eventos como esse sempre me deixam assustado pois é uma crença pessoal minha de que nosso fim não virá do céu ou alguma guerra sem fim mas de alguma doença terrível que vai dizimar com facilidade grande parte de nós e jogar nossa sociedade no lixo da história e no esgoto da civilização pois não há civilidade ou solidariedade que resista ao instinto de sobrevivência.
O maior estrago que uma epidemia dessas pode fazer é, além do custo em vidas obviamente, dizimar as estruturas sociais frágeis que nos unem basta ver como mercados e bolsas regiram ao vírus se espalhando pelo planeta e como as pessoas começaram a entrar em pânico por uma doença que nem é assim tão fatal.
São esses acontecimentos que metem medo em mim, que me fazem descrer de nosso raça e entender que somos animais acima de tudo, no frigir dos ovos é cada um por si e o mundo contra todos, não acho que esse vírus será nosso fim mas a cada nova epidemia que eclode passo a ter mais e mais certeza de que esse será nosso fim e de que aqueles que sobreviverem, estarão imersos num desses mundos pós-apocalípticos que o cinema vira e mexe nos apresenta.
Quem viver, verá.
Acha que não?
Veja essa epidemia nova que se espalhou pelo mundo, por mais que as autoridades de saúde e governos locais e mundiais atestem que não há razão para pânico, as pessoas já começas a estocar alimentos, água, remédios e produtos como álcool em gel e máscaras simplesmente desapareceram das farmácias. Talvez justamente porque essas autoridades e governos pedem calma seja porque todos estamos apavorados afinal, desde quando governos e autoridades realmente informam a sociedade com fatos reais e verídicos? Partimos do pressuposto de que estão mentindo e de que a situação é bem pior do que reportam e que os pedidos de calma são para proteger os mais ricos e as elites.
Claro que uma epidemia como essa precisa de toda nossa atenção, precaução e atenção e prefiro crer que as autoridades e governos estão mesmo empenhados em conter o vírus, minimizar seu impacto e encontrar uma cura ou vacina o mais rapidamente quanto possível mas, o efeito cascata já se faz sentir ainda mais nos tempos de hoje quando as pessoas podem viajar mais e de forma mais rápida facilitando a disseminação da doença.
Eventos como esse sempre me deixam assustado pois é uma crença pessoal minha de que nosso fim não virá do céu ou alguma guerra sem fim mas de alguma doença terrível que vai dizimar com facilidade grande parte de nós e jogar nossa sociedade no lixo da história e no esgoto da civilização pois não há civilidade ou solidariedade que resista ao instinto de sobrevivência.
O maior estrago que uma epidemia dessas pode fazer é, além do custo em vidas obviamente, dizimar as estruturas sociais frágeis que nos unem basta ver como mercados e bolsas regiram ao vírus se espalhando pelo planeta e como as pessoas começaram a entrar em pânico por uma doença que nem é assim tão fatal.
São esses acontecimentos que metem medo em mim, que me fazem descrer de nosso raça e entender que somos animais acima de tudo, no frigir dos ovos é cada um por si e o mundo contra todos, não acho que esse vírus será nosso fim mas a cada nova epidemia que eclode passo a ter mais e mais certeza de que esse será nosso fim e de que aqueles que sobreviverem, estarão imersos num desses mundos pós-apocalípticos que o cinema vira e mexe nos apresenta.
Quem viver, verá.
2 de mar. de 2020
Deus não está aqui
Desde que nos separamos de nossos parentes primatas na cadeia evolutiva e adquirimos consciência de que éramos parte atuante do mundo ao nosso redor, buscamos, como espécie, um sentido ou explicação para essa viagem doida que é viver.
Para explicar fenômenos naturais, astronômicos e as mazelas nossas e do mundo, passamos a atribuí-los a entidades superiores que ou nos recompensavam ou castigavam conforme nosso comportamento, fé ou ausência dela, ou apenas porque lhes apraz fazer com que nós, meros mortais, soframos para seu divertimento e lazer. Desse amálgama de crenças e conjuntos de ideias surgiram a grande maioria das religiões atuais e, porque não dizer, com elas boa parte das desgraças e guerras no mundo.
Não questiono a fé que penso ser algo mais etéreo e inerente ao humano independente se a temos numa divindade, divindades, entidades ou seja lá o que for, penso a fé como algo que transcende qualquer conjunto de crenças e delas independe já podemos associá-la a qualquer coisa terrena da mesma forma.
O que me desagrada são as religiões pois foram feitas por homens que, por sua vez, são falhos pois são humanos e assim, as religiões também o são. Acho pouco provável que as escrituras sagradas de qualquer religião tenham sido escritas por algum tipo de divindade, ditados por alguma entidade divina ou coisa que o valha, para mim, são obras ficcionais de qualidade extremamente convincente ou questionável servindo mais como parábolas e simbologias para determinar um conjunto de regras que os crentes devem seguir e os castigos caso não o façam.
Não admira que cada religião tenha dentro de si tantas divisões e sub-divisões já que tais conjuntos de escrituras estão sujeitos a interpretações por seus seguidores, quando um deles ou um grupo deles passa a discordar ou entender de forma diferente o que as escrituras pregam, temos o cisma, a heresia, o protesto e a divisão e daí por diante. Igualmente, não é raro que essas diferentes visões colidam ou tenham arestas o que acaba por causar boa parte das guerras, fomes, perseguições, chacinas, crimes e todo tipo de horror em nome do que cada um entende ser a verdadeira fé.
Não condeno quem segue ou crê em alguma religião, se lhe dá algum alento e conforto, ajuda e entender as vicissitudes da vida e o fardo cotidiano a ser carregado, fico feliz por você mas, quando a religião passa a servir de alicerce para mater, odiar, perseguir, discriminar, ofender, separar, isolar e desmerecer o outro então temos um grave problema e, infelizmente, grande parte senão a maioria das religiões parecem estarem felizes e em paz consigo e seus acólitos apenas quando perpetrando ou disseminando tais atos.
A religião é a droga mais pesada já inventada pelo homem, inventada sim pois como disse mais acima não veio de uma sarça ardente nem de algum ser etéreo que apareceu do nada ou reviveu depois de morto, veio do inconsciente coletivo que necessitava de algum tipo de almofada emocional que permitisse lidar e explicar com as coisas ruins que se passavam e, por osmose, dar graças pelas coisas boas no melhor estilo comportamental.
Somos criaturas alimentadas por estímulos, condicionados desde sempre, fomos adestrados pela tecitura social a saber que, se nos comportamos bem, teremos recompensas, se nos comportamos mau, seremos punidos de acordo e na proporção de nosso erro ou ofensa. A religião trabalha exatamente estes conceitos prometendo o paraíso e vida eterne para aqueles que são bons e o inferno e danação para quem não agir bem, elas embutem a noção de pecado para poluir nossa moral e substituí-la por outra que vai de encontro com as regras da religião lidando com a culpa como moeda de troca, o pecado como salário do medo e a absolvição como recompensa.
Obviamente que não podemos colocar todas as religiões nos mesmo balaio, há exceções mas são casos raros e que acabam pendendo mais para a filosofia do que uma crença em si, podemos dizer então que as religiões em si não são más, apenas os homens que as fizeram mas, se tais homens são falhos então as religiões também o são e então, nas brechas dessas falhas é onde o humano encontra terreno fértil para dar vazão a seu lado mais horrendo.
Por isso eu creio que deus não está aqui, nunca esteve e nunca estará, se você procura deus, o melhor caminho seria olhar para dentro de si mesmo.
Para explicar fenômenos naturais, astronômicos e as mazelas nossas e do mundo, passamos a atribuí-los a entidades superiores que ou nos recompensavam ou castigavam conforme nosso comportamento, fé ou ausência dela, ou apenas porque lhes apraz fazer com que nós, meros mortais, soframos para seu divertimento e lazer. Desse amálgama de crenças e conjuntos de ideias surgiram a grande maioria das religiões atuais e, porque não dizer, com elas boa parte das desgraças e guerras no mundo.
Não questiono a fé que penso ser algo mais etéreo e inerente ao humano independente se a temos numa divindade, divindades, entidades ou seja lá o que for, penso a fé como algo que transcende qualquer conjunto de crenças e delas independe já podemos associá-la a qualquer coisa terrena da mesma forma.
O que me desagrada são as religiões pois foram feitas por homens que, por sua vez, são falhos pois são humanos e assim, as religiões também o são. Acho pouco provável que as escrituras sagradas de qualquer religião tenham sido escritas por algum tipo de divindade, ditados por alguma entidade divina ou coisa que o valha, para mim, são obras ficcionais de qualidade extremamente convincente ou questionável servindo mais como parábolas e simbologias para determinar um conjunto de regras que os crentes devem seguir e os castigos caso não o façam.
Não admira que cada religião tenha dentro de si tantas divisões e sub-divisões já que tais conjuntos de escrituras estão sujeitos a interpretações por seus seguidores, quando um deles ou um grupo deles passa a discordar ou entender de forma diferente o que as escrituras pregam, temos o cisma, a heresia, o protesto e a divisão e daí por diante. Igualmente, não é raro que essas diferentes visões colidam ou tenham arestas o que acaba por causar boa parte das guerras, fomes, perseguições, chacinas, crimes e todo tipo de horror em nome do que cada um entende ser a verdadeira fé.
Não condeno quem segue ou crê em alguma religião, se lhe dá algum alento e conforto, ajuda e entender as vicissitudes da vida e o fardo cotidiano a ser carregado, fico feliz por você mas, quando a religião passa a servir de alicerce para mater, odiar, perseguir, discriminar, ofender, separar, isolar e desmerecer o outro então temos um grave problema e, infelizmente, grande parte senão a maioria das religiões parecem estarem felizes e em paz consigo e seus acólitos apenas quando perpetrando ou disseminando tais atos.
A religião é a droga mais pesada já inventada pelo homem, inventada sim pois como disse mais acima não veio de uma sarça ardente nem de algum ser etéreo que apareceu do nada ou reviveu depois de morto, veio do inconsciente coletivo que necessitava de algum tipo de almofada emocional que permitisse lidar e explicar com as coisas ruins que se passavam e, por osmose, dar graças pelas coisas boas no melhor estilo comportamental.
Somos criaturas alimentadas por estímulos, condicionados desde sempre, fomos adestrados pela tecitura social a saber que, se nos comportamos bem, teremos recompensas, se nos comportamos mau, seremos punidos de acordo e na proporção de nosso erro ou ofensa. A religião trabalha exatamente estes conceitos prometendo o paraíso e vida eterne para aqueles que são bons e o inferno e danação para quem não agir bem, elas embutem a noção de pecado para poluir nossa moral e substituí-la por outra que vai de encontro com as regras da religião lidando com a culpa como moeda de troca, o pecado como salário do medo e a absolvição como recompensa.
Obviamente que não podemos colocar todas as religiões nos mesmo balaio, há exceções mas são casos raros e que acabam pendendo mais para a filosofia do que uma crença em si, podemos dizer então que as religiões em si não são más, apenas os homens que as fizeram mas, se tais homens são falhos então as religiões também o são e então, nas brechas dessas falhas é onde o humano encontra terreno fértil para dar vazão a seu lado mais horrendo.
Por isso eu creio que deus não está aqui, nunca esteve e nunca estará, se você procura deus, o melhor caminho seria olhar para dentro de si mesmo.
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