30 de abr. de 2020

E daí?

E daí? Isso aí esta super dimensionado, é histeria.

E daí? Teve outras gripes que mataram muito mais, qual o problema?

E daí? 2009 e 2010 teve crise semelhante e não teve tanto pânico.

E daí? Esse vírus trouxe uma certa histeria, o remédio não pode ser pior que a doença, senão mata o paciente.

E daí? Não vai ser uma gripezinha que vai me derrubar.

E daí? O povo vai saber que for engando pelos governadores e pela mídia.

E daí? Não dá pra fazer mais do que estamos fazendo.

E daí? Tenho passado de atleta, não sentiria nada, talvez uma gripezinha ou resfriadinho.

E daí? Há uma histeria, querem quebrar o Brasil, não acho que vai chegar a esse ponto de morrer muita gente.

E daí? Muitas mortes nem são devido ao coronavírus mas estão colocando que é.

E daí? Todo mundo vai morrer um dia, vai fazer o que?

E daí? Vai morrer gente? Vai! Mas faz parte da vida, uns vão morrer mesmo, vai fazer que?

E daí? Vírus é igual chuva: você vai se molhar mas não vai morrer afogado.

E daí? Povo está com frescura, tá com medinho de pegar vírus.

E daí? O vírus parece que está indo embora.

E daí? Não sei da quantidade de mortos, não sou coveiro oras!

E daí? Quer que eu faça o que? Eu sou Messias mas não faço milagre!

E daí? E daí? E daí? E dai? E daí?

Mas não tinha ninguém pra ouvir ou responder ou chamar de mito. Ele pregava para um país desolado, povoado de gente morta.

29 de abr. de 2020

Distopandêmico

Mais um dia.

Normal. Absolutamente. Normal.

Acordo com o despertador que toca todos os dias a mesma nota monocórdica e, em seguida, automaticamente começa a despejar as notícias que deveriam chamar-se velhicias já que são as mesmas de ontem, semana passada, mês passado e amanhã, semana que vem, mês e ano que vem.

Bom dia, cidadão! Estamos hoje no dia 11894 de nossa Quarentena. A quantidade de pessoas infectadas é 2.909.478.365,6 e a quantidade de mortos até o momento 12.899.765,87. O Governo está trabalhando arduamente para manter a pandemia sob controle, sua participação é muito importante!

Vou ao banheiro e aciono o temporizador, esta semana meu distrito pode usar até 8 minutos de água por unidade habitacional, o temporizador já foi atualizado com essa quantidade, tudo é automático, nós somos, aperto o botão e entro no chuveiro já com a escova de dentes, não há pia pois é um desperdício de água, fazemos tudo no chuveiro onde, agachado, os tubos sanitários se acoplam automaticamente para colher fezes e urina enquanto escovo os dentes. Não, não ha vaso sanitário ou qualquer coisa parecida, um gasto excessivo, desnecessário, os tubos fazem um trabalho muito melhor e usando quase nenhuma água.

O Governo informa que traidores da pátria foram presos e fuzilados na data de ontem. A operação foi um grande sucesso resultando na apreensão de alimentos orgânicos, carne e outros artigos que poderiam contaminar muitas pessoas e matar compatriotas. As autoridades seguem seu trabalho e você, cidadão, pode ajudar denunciando quaisquer atividades suspeitas.

Em seguida, a água fria cai em quatro jatos fortes enquanto de um orifício central escorre um fio de uma gosma branca que usamos para a assepsia geral. Tudo deve ser cronometrado, se nos perdemos em divagações podemos ficar sem banho ou sair dele sem tirar todo o líquido que faz a limpeza. O temporizador emite bipes agudos quando o tempo está por esgotar-se, geralmente aceleramos o processo para evitar não sermos capazes de terminar o banho, o meu já está apitando.

O Governo de sua excelência Jair IX segue trabalhando arduamente para combater não apenas a pandemia mas os inimigos do país. Faça sua parte! Economia é força, obediência é sabedoria, denunciar é amar!

Saio do banho e fico em frente aos jatos de ar quente para secar-me, não há toalhas, desperdício de tecido, os jatos duram exatos 17 segundos durante os quais devo colocar-me de frente e costas para que eles removam toda água. Nu, volto para o quarto-sala-cozinha-utilitário onde já me espera a roupa que usarei no dia. Não há necessidade de guardar roupas, elas são descartáveis e diariamente, recebemos por tubos pneumáticos as que usaremos, embaladas à vácuo, higienizadas e esterilizadas e que deverão ser descartadas ao final do dia na cremalheira central de cada prédio antes de regressar à minha unidade.

O Governo informa uma safra recorde de multi-grãos e sinteproteínas. Isso representa um ganho para nossa sociedade e uma possível solução da crise de abastecimento causada pela pandemia, as autoridade seguem trabalhando para que todos possamos ter o suficiente para viver bem. Lembrem-se: O que é muito para um, é pouco para todos. Economia é força!

O despertador toca novamente avisando que devo me apressar, já começo a me atrasar, não sei como está o tempo lá fora porque não há janelas, todo o ar que respiro vem através de tubos e encanamentos que filtram o ar algumas centenas de vezes até chegar aos meus pulmões. Não há brechas ou espaços nos cantos ou beiradas, tudo é vedado hermeticamente e selado para garantir um ambiente seguro e totalmente esterilizado.

O Governo de Jair IX informa que as celebrações online do aniversário de sua excelência serão transmitidas online no horário de 21:00 logo após os autos de aclamação. Não esqueçam de ouvir atentamente ao pronunciamento, sua atenção é compulsória e as penalidades previstas em lei serão aplicadas aos faltantes.

Apressado, tomo meu desjejum que também já está pronto. Todos os dias, um cardápio balanceado é entregue por um sistema de bandejas autômatas, preparado para atender às minhas necessidades nutricionais diárias, não podemos comprar alimentos, há risco de contaminação, os pratos são entregues em horários pré-determinados e concebidos por nutricionistas que conhecem a fundo o funcionamento do corpo humano e a melhor dieta para otimizar seu desempenho.

E agora, novos números da pandemia...

Já estou atrasado, o despertador informa junto com as mesmas notícias de sempre. Aperto um botão na parede e recebo os itens de segurança que usarei no dia: luvas isolantes, máscaras de tripla camada, óculos protetores, touca protetora e minha dose diária de antiretrovirais, não, não são uma cura, apenas um tratamento paliativo que pode evitar a contaminação ainda que, quase semanalmente, mudem as drogas ante alguma nova mutação do vírus, ele parece mudar mais rápido do que podemos criar novas drogas.

O Governo informa que encontra-se avançado o estudo de antiretrovirais de última geração que, segundo apontam as pesquisas, poderão derrotar o vírus definitivamente! Os testes em humanos devem iniciar dentro de alguns anos. Há esperança! O Governo é de fé!

Estou pronto. A porta sem maçanetas abre ante minha presença, só voltará a abrir quando eu regressar ao fim do dia para repetir todo o processo só que ao inverso, descartar as roupa e equipamentos de proteção, passar pela câmara de descontaminação antes de entrar em minha unidade completamente nu e, uma vez lá dentro, ir direto para o chuveiro. Depois, comer ouvir mais notícias no despertador e aguardar a hora de apagarem as luzes, economia, estamos em pandemia, os recursos são escassos, precisamos fazer sacrifícios. é assim, não podemos ser egoístas nesse momento.

O Governo do excelso Jair IX informa que a pandemia será derrotada com o apoio de todos. Cada um de nós deve fazer sua parte! Acreditem! Nosso país é forte, é unido, somos um povo determinado e os sacrifícios que pedimos a todos são os mesmos que nossos governantes fazem de bom grado! Pátria amada! Somos seus filhos e de nosso líder Jair IX!

28 de abr. de 2020

Digital

Olá! Tudo bem?

Estou aqui para te falar que vou desativar meu feed porque haters estão postando vários comentários em desaprovação a live que fiz da party com algumas BFFs para comemorar a vida durante essa pandemia toda e também a minha darling ex-BBB muito fofa e querida.

Gente! Eu errei, my bad, jamais quis desmerecer ou ofender as vítimas da pandemia, eu mesma fui infected com essa doença horrorosa mas venci e estou aqui para provar que se você leva uma vida saudável, com boa alimentação e exercícios, você também pode vencer o vírus!

Estão dizendo que foi um erro de branding, um approach errado, que fiz um downsize da situação e ainda sai falando 'FCK LIFE', acho que o que houve mesmo foi um plot twist e uma interpretação errada do meu speech. Quis dizer que vida merece ser vivida, CHOOSE LIFE, então f**** a vida poque ela é uma só ne gente? Tem de viver como se não houvesse um tomorrow, tem de ser now, entendem?

Agora, meus partners e sponsors estão cancelando os contratos, revisando os budgets, dizendo que meu alcance diminuiu e que a proximidade não conta mais, parece que meu target mudou e que os stakeholders ficaram preocupados com o marketshare ante a repercussão negativa da minha live.

Sei que meu approach foi equivocado e só posso pedir novamente desculpas, SORRY! Aprendi a lição e vou usar esse time-off para repensar tudo, mudar meus conceitos e refletir. Tenho certeza de que meus followers entenderão, eu, que venci a obesidade e o vírus, vencerei mais esse challenge e voltaremos a nos ver e falar em breve.

Aos haters eu só deixo meu lamento de que usem as redes e seu network para disseminar o ódio, a gente erra, precisamos de perdão e afeto, de compreensão, acabei de doar cestas básicas para uma day care perto de casa e vou seguir firme e forte no meu propósito de trazer qualidade de vida e inspiração para todos meus followers.

Só vou dar um break, volto logo meus amados, vida que segue.

Love u, be safe!

24 de abr. de 2020

De sonhos lúcidos e coisas etéreas

A música sempre se renova, como dizia a canção, o novo sempre vem mas, ele só chega porque usou o que veio antes, nos ombros de quem precedeu se dá a ascensão.

Quanto a quem são esses antecessores, podemos discorrer sobre o assunto até o final dos tempos sem chegar a um consenso, tudo bem, cada um de nós terá um par de artistas que são nossa referência, aqueles que levaremos para a tumba, embalaram nossa vida e sempre recorremos em qualquer momento da vida seja para rir ou chorar.

Entre as bandas que eu amo e que foi uma das razões para conhecer meu marido, está o Cocteau Twins.


Originários da Escócia, são uma banda que, de certa forma, nunca atingiu o mainstream o que é dizer pouco sobre eles afinal, o que é maninstream? Vender milhões de discos? Videos cheios de efeitos especiais? Ser uma celebridade ou influenciador digital? Alheios a isso tudo, Cocteau Twins tem uma base sólida e fiel de fãs que ultrapassam gerações, seu legado na música já foi documentado e reconhecido e quem ouve ao menos uma de suas músicas, jamais será mesma pessoa.

Os discos que produziram moldaram uma geração e criaram um estilo musical que influenciou bandas como Beach House, M83, Medicine e muitos dos artistas pop da atualidade. O som único moldou o que se convencionou chamar de 'dream pop', 'ethereal' 'shoegaze' e outros nomes que passaram a definir aquele tipo de som nunca antes ouvido.

Mas afinal, qual a relevância deles? Porque o CT tem um séquito de fãs irredutíveis que até hoje sonham com uma possível reunião da banda (acabaram em 1997) e consomem avidamente todo e qualquer material que exista sobre a banda? Poucos artistas possuem seguidores tão devotados.

Talvez seja a voz inigualável de Liz Fraser cantando em um idioma que não entendemos, com jogos de palavras e possuída por algum espírito milenar que fala através dela. Já disseram que sua voz seria a voz de Deus, eu concordo, se Deus tiver uma voz tem de ser a dela. Texturas ininteligíveis, frases abstratas, sem sentido e que fazem todo o sentido, pronúncia única que transforma palavras em magia pura e uma aparência de quem repentinamente caiu dos céus para andar entre os mortais, com seus olhos quase transparentes e ar de pureza imaculada, inviável a mãos humanas.

Pode ser o talento de Robin Guthrie e suas guitarras sobrepostas, cheias de efeitos e que mostraram ser possível reinventar o instrumento depois de Hendrix. Guthrie é capaz de nos deixar atônitos, perplexos, em êxtase ou choque, depende de como toca sua guitarra. As texturas que produz, seus riffs e melodias abordam os ouvidos de forma ímpar e atingem o cérebro feito uma camada de xarope doce que vai, aos poucos, corroendo a consciência e nos inundando de especiarias e temperos que jamais poderíamos conceber. Guthrie descobriu outro caminho das Índias e nos levou até lá para nunca mais voltar, quem ouve sua música está fadado a ser seu eterno refém.

Talvez seja o baixo de Simon Raymonde, o segundo baixista da banda (Will Heggie foi o primeiro durante a fase pós-punk da banda e responsável pelos baixos incríveis de 'Garlands' e 'Head over heels'  saindo em seguida para formar o Lowlife) e suas linhas marcadas, harmônicas, profundas, que se incorporam às guitarras de Guthrie muitas vezes fazendo com que soe feito outra camada de guitarras ou relembrando Peter Hook e seu baixo melódico. O contraponto exato ante a delicadeza da voz de Liz e seus arpejos e construções vocais inusitadas.

Fato é que o conjunto desses três transformou a música, nunca mais houve uma banda igual e talvez não vejamos em nosso tempo de vida algo parecido. Você pode gostar de música mas, gostar de Cocteau Twins é mergulhar fundo na alma do som, deixar-se levar por um rio de sensações que doman o corpo sem pedir licença, sentar-se a uma mesa de banquete em que pequenas pérolas são servidas e explodem na boca ao serem mordidas, trazendo sabores que paralisam os sentidos e nos fazem chorar de prazer.

Cocteau Twins não é uma banda para poucos e digo isso não de forma arrogante ou elitista. Para apreciar Cocteau Twins, você precisa ser mais do que humano, precisa estar além de impressões terrenas e convenções pop rock seja o que for. Você precisa gostar de alquimia, baixar a cabeça e admitir que não sabe nada e deixar a banda lhe conduzir pelos meandros da música que não é deste plano e quem sabe, conseguir o feito de transformar vida em ouro.

Eles ao menos, conseguiram.

PS: se quiser conhecer um pouco mais da banda, fiz uma playlist no Spotify.

23 de abr. de 2020

O país do futuro


Diga-me com quem andas e te direi quem és.

Ainda que tal frase não contemple todas as possíveis interpretações considerando que nem sempre com quem andamos pode, necessariamente, representar quem somos ainda mais em tempos de redes sociais e convívio isolado sob ameaça constante de um contágio, tal citação expressa de forma coerente outra afirmação de que os iguais, acabam por atrair-se.

Atá aí, nada demais.

É do humano agrupar-se desde antes de sermos bípedes, de polegar opositor, falantes e sedentários então, fazer parte, tomar parte, ser parte, existir em grupo é condição inerente de nossa definição como pessoas, através do grupo temos nossa validação como gente, como seres existentes, o grupo nos corrobora o fato de estarmos aqui e sem ele, somos apenas uma ideia de gente, uma concepção criada, inventada e dada como real apenas por nós e pela percepção unilateral de nós mesmos. Sem a validação do outros, não existimos.

Agora, tomemos então essa campanha do 'governo federal' para geração de empregos num cenário pós-pandemia (como se fosse preciso disso para gestar um programa que dê cabo do desemprego, enfim) já que os números mais otimistas, esbarram nas casas de milhões para contar os desempregados.

O Brazil é um país pluricultural, diverso até sua raiz, multi-étnico, somos o resultado de uma receita de ingredientes incertos e até hoje, creio que ainda corremos atrás de algo que seja ou possa ser chamado de identidade nacional.

Mas, para os governantes, somos um país europeu, branco até no DNA e a foto que ilustra a campanha é um grito forte de como o atual governo pensa a sociedade e deixa bem claro para quem está governando. Que temos um governo racista, misógino, homofóbico, conservador e negacionista nunca foi dúvida mas, ao ver o governo levando a termo seu projeto de implantar uma sociedade utópica é simplesmente de revirar o estômago.

Num país que ainda luta para reconhecer sua população afrodescendente e onde grande parte ainda se considera como branca e renega qualquer miscigenação ou origem que não seja caucasiana, que tem entre a população afrodescendente os maiores índices de mortes violentas e encarceramento, é clara a mensagem que a foto transmite: a sociedade não é para vocês, é para os brancos, cis, heterossexuais de classe média alta, os mesmos que saem em carreata em plena pandemia, dizem que o vírus em um complô vermelho e pedem os militares no poder e AI-5.

Logo, aparecerá algum bode expiatório, um estagiário ou assistente assumindo a culpa e dizendo que usou a foto do Google ou que a agência é responsável, que não foi feita pesquisa e que não viram ou deram fé o que é típico deste governo CTRL-C CTRL-V.

Não se iludam, eles sabem muito bem o que estão fazendo.

22 de abr. de 2020

Sua Majestade


Não recordo bem a primeira vez que tomei contato com Prince, lembro vagamente do clipe de '1999' passar num programa da TV Cultura chamado SOM POP mas isso há séculos, pré-internet, CD, streaming, antes de tudo.

Na época sinceramente não me lembro de ter ficado impactado ainda que tenha achado a música boa do alto de toda a sabedoria dos meus anos imberbes. Como tantos outros, virei fã dele após PURPLE RAIN, quem não? Só se você possui alguma deficiência auditiva ou sensorial grave.

Depois desse disco foda, fui atrás do que ele havia feito antes e aí sim fui descobrir, entender e me encantar com discos absurdamente foda como '1999', 'CONTROVERSY' e 'PRINCE' sem contar o que veio depois de PR, quando todos esperavam que ele soltasse algo tão ou mais comercial e ele veio com 'AROUND THE WORLD IN A DAY'.

Prince não seguia modismos, ele os criava. Prince não seguia a indústria, fazia a sua própria. Prince não ligava se seus discos vendessem cem ou cem mil cópias. Prince não ligava se a gravadora reclamava, ele fazia sua música como queria e sem deixar ninguém interferir.

Arrisco dizer que ele talvez fosse a reencarnação de Mozart, se você acredita nessas coisas afinal, ele compunha, arranjava, escrevia as letras, produzia, gravava, tocava praticamente todos os instrumentos e muitas vezes, eram suas todas as vozes em uma canção, as bandas que o acompanhavam eram apenas coadjuvantes ainda que sempre compostas por músicos de elite, você não podia ser mais ou menos para trabalhar com Prince.

Há quatro anos ele se foi, morte besta, sem sentido. Ele não era perfeito, tinha seus defeitos, momentos de estrelismo e certamente cometeu seus erros mas sua carreira segue intacta e praticamente irretocável, mesmo em seus momentos menos brilhante, Prince era um gênio e deixava no pó boa parte de todos os artistas de sua época e que vieram depois dele.

Sua influência é extensa passando por Frank Ocena, Justin Timberlake, Beyoncé, Lenny Kravitz, Beck, Rihanna, Alicia Keys, Usher, Cyndi Lauper e muitos outros que beberam de sua fonte para construir suas carreiras.

É impossível ouvir um disco ou alguma música de Prince e sair ileso, se você não sentir nada, como ele mesmo disse em uma de suas letras 'honey i know, ain't nothing wrong with your ears?'. Além de seu legado próprio, deixou uma herança de canções que ganharam vida própria na voz de outros artistas sendo o caso mais notório Sinead O'Connor e 'NOTHING COMPARES 2 U', se você olhar com atenção, descobrirá muitas canções que eram dele e que você tinha certeza de que não eram, tamanho era o talento dele.

Reza a lenda que no estúdio/casa/templo Paisley Park erguido por ele em sua cidade natal, há um cofre comumente referenciado como 'THE VAULT' - O COFRE onde há material inédito guardado para garantir aos que administram seu espólio uma aposentadoria tranquila já que é suficiente para umas duas ou três vidas sem repetir nada, apenas material inédito.

Verdade? Quem sabe? Prince era conhecido por ser prolífico, as gravadoras viviam as turras com ele pois mais de uma vez ele tentou lançar álbuns triplos, quádruplos ou mais de um álbum por ano deixando os executivos em pânico.

Só sei que com sua perda e de outros da mesma estatura dele, vivemos num mundo mais sem graça, chato e sem cor mas, eu sigo ouvindo seus discos e, com sorte, na outra vida poderei ouvir suas músicas, seus discos e, se ele deixar, bater um papo sobre como ele foi importante para mim.

May we all live 2 C a better dawn.

21 de abr. de 2020

O povo sem rumo


O povo sem rumo vivia no país sem nome.

Era um pais muito engraçado, não tinha fronteira, não tinha espaço. Ninguém sabia morar ali porque o país não era nação e o povo sem rumo vagava de um lado para outro sem saber ao certo o que faziam, onde iam ou porque estavam ali.

Não havia cidades, estados ou qualquer outra coisa, alguns lembravam de que isso existira um dia mas eram apenas o mais velhos, sobreviventes de tempos difíceis e, conforme morriam, com eles era enterrada essa ideia absurda de que, um dia, aquilo fora um país.

Ninguém acreditava muito nisso, principalmente os mais jovens, achavam que eram histórias senis contadas a beira do fogo para distrair crianças e pregar sustos mas, eventualmente, eles encontravam durante suas andanças, coisas que os idosos chamavam livros e que apenas estes sabiam interpretar. Lá, diziam eles, estavam as provas de que sim, um dia aquilo fora um país mas como apenas eles entendiam o que diziam os tais livros, julgavam que fosse coisa de velhos e não lhes davam atenção.

A vida do povo sem rumo era muito simples, eles simplesmente se fixavam num lugar até esgotar tudo que ele tivesse a oferecer movendo-se, em seguida, para outro que pudesse lhes fornecer sustento e assim por diante. Grupos errantes se cruzavam pelo país, às vezes pacificamente, às vezes nem tanto, principalmente quando grupos identificavam coisas que necessitavam ou cobiçavam, desde alimentos, roupas ou até mesmo pessoas e então, lutavam, muitas vezes até a morte ou submissão do grupo perdedor.

Os anciões lembravam de tempos em que tudo era fácil de conseguir, havia fartura e não era preciso brigar por nada, diziam aos seus que tudo se resolvia com um tipo de papel ou plástico que tinha valor e que podia ser trocado por comida, casa e até mesmo gente. Obviamente, ninguém acreditava, seguiam rindo e dizendo ser coisa de gente velha, contos para entreter as pessoas em noites mais frias e escuras.

O povo sem rumo às vezes encontrava prédios antigos, já meio combalidos e tomados por mato ou até mesmo florestas mas se recusavam a entrar e habitá-los, havia uma superstição comum a todos os grupos de que tais edifícios eram assombrados por fantasmas do tempo de antes, quando todos viviam numa coisa que alguns ainda chamavam de sociedade e que, segundo a mística dos grupos, fora a razão do povo ter ficado sem rumo e do país ter perdido seu nome.

O povo sem rumo seguia vários deuses, cada grupo na verdade possuía suas próprias divindades e não eram poucas as ocasiões em que grupos se digladiavam por conta de suas crenças. Os anciões diziam que também era assim antes e que muita guerra fora travada antes do país deixar de ser país, tudo por causa de deuses diferentes e lamentavam que o povo ainda brigasse por conta disso mas, nada podiam fazer, ninguém ouvia seus lamentos.

O povo sem rumo não tinha em seus grupos líderes, às vezes uma pessoa parecia assumir tal papel mas quase ninguém lhe dava atenção, agiam em bando, como algum tipo de consciência coletiva. Quando algum líder se destacava ou um novo grupo era criado como algum tipo de coletividade afinada com o comportamento de um líder, matava-se o líder pelo bem comum, era um consenso que lideranças eram ruins e que apenas o grupo podia tomar decisões por si e matar um líder era aceito sem reservas.

Os anciões diziam que isso também era devido ao que acontecera antes, nos tempos que ninguém mais se recordava exceto eles. Diziam que antes do povo ficar sem rumo e do país perder seu nome, houve uma grande luta, em todos os lugares do país sem nome, provocada por um líder que alguns chamavam de 'O Capitão' e que parecia ter exercido algum tipo de poder sobre muitos grupos.

Ninguém nem mesmo os anciões sabem ao certo o que aconteceu ao Capitão, uns dizem que morreu pelas mãos de seu grupo, outros que fugiu do país antes que ele perdesse seu nome levando toda sua família consigo, há quem diga que ele ainda vaga pelo país feito um messias pregando sobre tempos que jamais voltarão. Todos riam dessas histórias e pediam aos velhos que parassem de falar bobagens. Os anciões calavam e ficavam ensimesmados, uns choravam, diziam lamentar pelo que tinha acontecido com o povo e com o país cujo nome nem eles lembravam mais.

O povo sem rumo foi vivendo assim no país sem nome até o dia em que o último ancião morreu e com ele, a última lembrança dos tempos de antes. Ninguém chorou a morte do último ancião, ninguém se comoveu, ninguém deu atenção, era dos anciões morrer, não se esperava outra coisa deles além de histórias para entreter o grupo. Enterraram o ancião em um canto qualquer do país sem nome e seguiram sem rumo como sempre haviam feito.

Há uma lenda entretanto que sobreviveu e que alguns passaram adiante incorporando às crenças do povo sem rumo. Dizem que o último ancião, em seu leito de morte, balbuciou um nome que ninguém conhecia ou jamais ouvira mas que estranhamente soava familiar, feito algo que é sussurrado através de um sonho.

Ninguém sabia o que significava a palavra que o ancião proferira com seu último suspiro e, dizem alguns, que parecia sorrir quando disse com seu último fôlego a palavra 'Brasil'.

20 de abr. de 2020

O ódio que você plantou

Eu te odeio.

Sim, eu te odeio.

Nunca pensei que falaria isso para alguém porque durante minha vida, o ódio quase sempre foi um sentimento que vinha de fora e que eu tinha de lidar da melhor forma possível mas, não permitia que ele fizesse morada em mim pois o amor sempre é mais forte, deixar o ódio vencer era abrir mão do amor que fui obrigado a esconder e viver sem dizer o nome e eu nunca abriria mão do amor porque ele é tudo que nos salva e que nos resta.

Mas vocês conseguiram, tiraram o amor de mim, levaram ele embora e eu acho que nem me dei conta. Foram aos poucos substituindo ele pelo ódio e eu nem percebi, como isso aconteceu? Onde foi parar meu amor que levei tanto tempo para construir? Para onde vocês o levaram? Que fizeram com ele? Quais torturas o submeteram?

Hoje eu me pego odiando e é uma sensação horrível, me vejo desejando o mal a quem conheço e não conheço, rompendo laços que julgava eternos e cuspindo na face de quem eu julgava querer bem, quando isso aconteceu? Porque deixei que vocês me tornassem esse poço de ódio que nunca pensei sentir?

Essa é a sua vitória, roubar de nós o amor, a esperança, o desejo de que podemos ser mais, de que aprendemos com nosso passado, que a história nos ensinou algo e que não repetiremos os erros grosseiros que nossos antepassados cometeram.

Vocês venceram, roubaram de nós o país, o hino que talvez eu nunca mais tenha coragem de cantar, a bandeira que não serei capaz de honrar, as cores que jamais serei capaz de vestir, o orgulho que quase tive e a esperança que nem vi nascer. Vocês roubaram de mim um país e agora, sou um nômade, um sem teto, sem pátria, sem destino, sem nada.

Eu odeio vocês, Essa é a herança que vocês nos deixaram, o ódio, mataram nosso amor e colocaram o ódio no lugar porque apenas o ódio é o que vocês entendem, o genocídio, a exclusão, não pode haver quem ame porque se há, vocês estarão errados em odiar então vamos todos odiar porque no ódio  nos tornaremos irmãos, eu odiando você e você odiando a mim. Viva o país! Pátria Amarga, Brazil!

Eu odeio vocês. Vocês amam odiar então, através de uma lógica nefasta, quando dizem EU TE ODEIO dizem EU TE AMO então, se eu odeio vocês eu amo e está tudo bem porque odiar é IN, é bom, é moda é faz bem vide o presidente de fel que foi eleito para odiar a todos com a caneta na mão.

E vamos odiar! Vamos sair em carreata buzinando e pedindo a volta da ditadura porque foi o ápice do ódio então nada melhor para ensejar os dias de hoje. Vamos bloquear acessos a hospitais e outros serviços para demonstrar nosso ódio, como ele é forte, como é horrendo, como é altivo, como nos une e nos aproxima.

Vamos pedir um AI-5 porque democracia é para quem ama e quem ama é fraco e tem de ser eliminado, somente o ódio nos torna fortes. Vamos pedir fechamento do Congresso, Senado, STF e tudo mais porque são instituições que zelam pelo amor e pela justiça e o ódio não pode ter isso em seu governo. O ódio só pode ter um mandatário e ninguém ou nada pode se dispor contra ele.

Vamos gritar contra todos os que falam contra o presidente mito porque ele é um enviado de Deus mas não o Deus amor mas o pai patrão que veio para castigar e punir, espalhar as sementes do ódio entre seu rebanho raivoso. Vamos agredir, ofender, perseguir e humilhar todos que não pensam como nós pois são inimigos da nação, querem o fim da pátria, são comunistas e esquerdopatas desejosos de tingir a bandeira de vermelho e acabar com a família transtornada brasileira.

Vamos odiar! Porque o ódio alimenta quem o possui e quem tem posse manda, onde já se viu um país de amor onde todos são tratados de forma igual e podem se beneficiar de direitos iguais. Como é possível que o serviçal tenha direitos? Essa quarentena me tirou os direitos básicos de ter uma empregada, babá e outros que tem por obrigação manter as coisas funcionando enquanto os cidadãos de bem decidem o futuro da nação, não importa se esse futuro não será bom para todos, será bom para a parcela que merece e isso basta!

Vamos odiar! Vamos odiar porque o capitão soltou a ordem do dia e ela é vocês contra todos porque ele está certo e vocês também e quem se colocar no caminho, paciência, não se pode fazer um país justo sem quebrar algumas cabeças melhor ainda se for durante a pandemia porque velhos e outros doentes estão apenas atrasando o messias e seu plano para o Grande Brazil. Todos vão pegar o vírus, oras! Então se alguns milhares vão morrer que seja, desde que sobrem os eleitos, os que merecem fazer parte da utopia neo-fascista do clã Bolsonarista.

Odiemos sem medo! Sem fronteiras! Sem controle! Apenas o ódio pode construir um grande país!

E eu te odeio, ah, como eu te odeio, meu patriota! Debaixo dessa bandeira de sangue eu te odeio como um irmão, quero te odiar até o dia em que morrer e, se houver vida após, te odiarei de lá. Essa é a dádiva que você me deu, odiar sem limites, eu te agradeço por abrir meus olhos, por me fazer ver que o amor é uma farsa, um engodo, que apenas o ódio pode nos levar a algum lugar.

Obrigado pelo ódio que estou sentindo, pela benção de odiar hoje e poder odiar amanhã, por ter me tornado esse cancro de fel que todo dia destila seu veneno pestilento sem medo ou remorso. Já nem me lembro de quando amei, de como era amar, para que servia ou como era, o ódio preencheu tudo e o presidente merece créditos pois foi o grande arquiteto desse ódio descomunal que nutrimos uns pelos outros e por tudo mais.

Mas, eu tenho uma dúvida, meio besta até e peço que você não me odeie menos por isso. Quando esse ódio acabar e ele vai acabar porque o ódio tem o péssimo hábito de consumir a si próprio, que faremos? Lembraremos de como é amar? Ou colocaremos outra coisa no lugar, um outro ódio ou presidente? Como vai ser?

Não sei.

Só espero que ao acabar tudo isso e o ódio se for, ainda nos lembremos como amar caso contrário, seremos todos criaturas vazias vagando por uma terra desolada que um dia se chamou Brazil,

17 de abr. de 2020

E agora, José?

E agora, José?
A quarentena terminou
A conta venceu
O dinheiro findou
O emprego sumiu
A comida acabou
E agora, José?
E agora, José?
Você que é sem conta
Que é sem prumo
Que é apenas um número
Que tem nas costas o arrimo do mundo
E agora, José?

Está sem governo
Está sem remédio
Está sem hospital
Está sem saúde
Está sem trabalho.

Já não pode falar
Nem reclamar
Já não pode bater
A panela no ar
Já não pode pegar
O ônibus, não dá
Já não tem pandemia
Para te sustentar
E agora, José?
E agora, José?

Perdido no mundo
Sofrendo
Mudo
Pasta moída doída
No chão
E agora, José?
O gol foi na trave
Ultraje
A vergonha de ser
Um anão de nação

E agora, José, e agora?
Agora, José, tem de ser
Agora já foi virou ontem
Depois
Agora sou futuro
Do pretérito que foi, José
E agora?
E agora?

Larga o mundo, José
Vasto imundo que se nos chamássemos
Raimundo
Seria apenas um nome
E não solução

16 de abr. de 2020

Carta aberta ao COVID-19

Sr Corona eu ando aqui pensando em que faremos quando o senhor nos deixar porque com o senhor ainda temos um inimigo que joga limpo e que, a grosso modo, está apenas fazendo o trabalho que a natureza lhe designou. 


Eu sei que o senhor não faz o que faz por gosto e mais porque, igual aquela fábula do sapo e do escorpião, está em sua natureza, tudo bem! Mas, quando senhor for embora teremos de seguir vivendo com o Bolsovid-17 e contra o qual não achamos até o momento qualquer vacina ou tratamento porque esse vírus se instala nas pessoas e as transforma em mortos-vivos que mugem MITO sem parar e não param de usar as redes sociais. 


Eu fico apreensivo sabe, Sr. Corona, porque assim, o senhor está cobrando um preço alto mas logo vamos encontrar um meio de conviver consigo enquanto a pandemia Bolsonaro é meio que sentença de morte para todos sem qualquer grupo de risco. 


Não sei se o senhor teve tempo de ouvir os pronunciamentos dele ou acompanhar suas redes sociais, entendo que esteja assoberbado de trabalho no momento mas, se tiver um tempo, peço que gasta uns minutos com isso só para entender em que buraco o senhor se meteu e nos meteu fazendo valer aquela máxima de que nada é tão ruim que não possa piorar mas, honestamente, o senhor poderia ter esperado mais un três anos ou a queda do mito para chegar por aqui não é? Ou fizemos algo muito ruim (sem contar a eleição do messias) para tamanho desagravo? Sei que não devíamos reclamar, veja o Egito que teve aquelas pragas mas, elas vieram em intervalos e nós recebemos tudo de uma vez, não me parece muito justo, só acho. 


Enfim, gostaria de saber se o senhor pretende ficar muito tempo só para ter uma ideia do que fazer e quando entrar em pânico, se for ficar muito tempo a gente se ajeita como der, somos um povo acostumado a ser tratado como esgoto então de boa mas, se for mesmo ficar mais tempo como perguntei, queria saber se o senhor poderia fazer uma visitinha lá para o Bolsonaro e sua família, sabe como é, prestar seus respeitos e tal, acho que seria de bom tom de sua parte e ajudaria a gente porque o senhor já estamos sabendo como tratar mas o Bolsonaro está meio complicado. 


Um abraço!

Inspirado pelas publicações de João Silvério Trevisan em sua página no Facebook

15 de abr. de 2020

Tratamento de choque

Ela entrou, olhou ao redor, a sala estava cheia, aproximou-se do balcão onde uma atendente quase displicente mexia em alguns papéis e perguntou se a espera seria longa. A atendente olhou para ela e, por um momento, ela sentiu que se compadecera de seu estado, sabia estar doente mas não imaginava que tanto assim.

Não muito, disse a atendente, há apenas dois na sua frente, pode sentar-se que já lhe chamamos, tem hora?

Sim, disse ela, marquei há algum tempo já, deveria ter vindo antes mas não foi possível.

Entendo, respondeu a atendente, não se preocupe, há muitos aqui na mesma condição, peço que sente e aguarde, o doutor lhe atenderá em breve.

Ela agradeceu e foi sentar-se, procurou lugar afastado dos demais que ali estavam esperando atendimento, não queria conversar, ouvir lamentos de outros, problemas já os tinhas aos milhões e não carecia de aguentar os alheios.

Achou um lugar próximo a uma janela. Do lado de fora, o universo parecia calado, quieto e em paz mas ela sabia, era apenas uma impressão, havia via de morte acontecendo a cada segundo e as luzes que ela via no céu eram o testemunho silencioso de mortes há muito ocorridas, sentiu certa pena mas pensou que o universo era acima de tudo um lugar cruel, justo, mas cruel.

Absorta em seus pensamentos, não percebeu que a atendente lhe chamava. levantou-se e foi até o balcão.

Desculpe, estava distraída, disse.

Não tem importância, respondeu a atendente, o doutor remanejou alguns casos e a senhora pode entrar agora, ele a aguarda na sala sete. E apontou na direção de uma porta à esquerda onde um cartaz dizia 'APENAS PESSOAL AUTORIZADO'.

Agradeceu e passou pela porta para um corredor ladeado de portas com números e foi andando até encontra a sala sete. Bateu levemente a porta e lá dentro saiu um 'entre', abriu a porta e entrou. O doutro estava sentado e não se levantou para recebê-la, olhava para um monitor e acenava a cabeça de tempos em tempos como se chegasse a alguma conclusão muito importante.

Sente-se, por favor, disse sem tirar os olhos do monitor.

Ela sentou-se e ficou aguardando em silêncio num misto de apreensão e conformismo.

Bem, disse o doutor soltando um chiado fundo, estava olhando aqui sua ficha. Já faz um bom tempo desde sua última consulta, a senhora sabe que deve fazer consultas periódicas, não?

Ela baixou o olhos e aquiesceu envergonhada.

Hummm, disse ele, vejamos como a senhora está, alguma queixa desde a última vez em que nos vimos? Algo diferente? Como tem se sentido?

Bem, disse ela, quase na mesma porém, tenho notado muito mais dificuldade em respirar, como se meus pulmões tivessem diminuído ou fossem incapazes de prender o ar, o senhor entende?

Sim, disse ele, prossiga por favor.

Também tenho problemas estomacais, parece que tudo que como me faz mal, provoca queimação e até vômito algumas vezes. Meu intestino também não anda funcionando bem, às vezes tenho diarreia, às vezes passo dias sem ir ao banheiro.

Teve febre? Perguntou o doutor.

Sim, a mesma febre de sempre, vem aumentando muito de uns tempos pra cá e nada parece fazê-la baixar, respondeu ela.

E sua visão, audição e outros sentidos? Bem? Perguntou ele.

Em partes, disse ela, a visão fica bem ruim às vezes, o olfato já não sinto há algum tempo e o paladar anda bem ruim também. Tenho dificuldade para andar e o tato fica dormente também.

Entendo, disse o doutor. Mais alguma coisa?

Caroços, disse ela.

Caroços? Disse ele.

Sim, em várias regiões, veja disse ela e levantou a fina camada de roupa que lhe cobria exibindo vários pequenos caroços feito tumores que pareciam se espalhar pelo corpo todo.

O doutro levantou-se e aproximou-se dela, examinou atentamente os caroços, auscultou sua respiração, mediu sua temperatura, pressão e pulsação. Pediu que colocasse a língua para fora e fizesse ah, olhou dentro e emitindo um hum sonoro voltou a sentar-se.

Levou alguns segundos que mais pareceram a ela séculos até finalmente dizer algo.

Bem, a senhora sabe qual é seu problema, não?

Acho que sim, disse ela.

Não são muitos que vem aqui e tem casos iguais ao seu, a maioria reclama de outras coisas, falta de vida, falta de ar, falta de luz, falta de água e talvez até desejassem ter seus problemas.

Eu entendo, doutor, disse ela. Mas, o senhor já viu um caso tão grave assim? Digo, igual ao meu?

Bem, disse ele, a bem da verdade, não. Seu caso é realmente raro.

Pois então, disse ela, há alguma cura possível? Algum tratamento? Ou remédio?

Ele balançou na cadeira e olhou novamente para o monitor como se buscasse alguma resposta ou já a tivesse e não desejasse compartilhar com ela.

Veja, disse ele, em casos como o seu e vi poucos em toda a minha carreira, em casos de uma infestação assim tão grave, descontrolada e nociva, o ideal seria decretar a morte do planeta e começar novamente, talvez com mais sorte...

Ela baixou os olhos e suspirou.

Não haveria outra saída? Perguntou. Sabe, eu meio que me apeguei a eles, eles não fizeram por mal, entende?

Nunca fazem, disse ele, mas acabam fazendo, não é mesmo? A senhora não é o primeiro planeta que vem aqui com um caso assim tão grave como já disse ainda que seja um dos piores caso de infecção humana que tenha presenciado.

E o que podemos fazer? Perguntou desolada.

Em casos assim tão graves, disse ele, recomendo que a senhora elimine todos esses parasitas se pensa em ter alguma chance de sobreviver. Pode parecer algo drástico mas, se posso lhe dar um exemplo, um familiar seu, Marte, sofreu da mesma doença e sobreviveu.

Mas ele agora é estéril! Disse ela.

Depende do que a senhora considera estéril, há vida lá apenas não igual a que infesta a senhora.

Entendo, disse ela resignada. Não haveria outra saída?

Infelizmente, para o grau de infestação humana que a senhora apresenta, não, eu lamento, concluiu.

Eu entendo, disse ela, e quando poderíamos começar o tratamento?

Bem, disse o doutor, considerando sua idade, relativamente jovem e o estado avançado da infecção, diria que precisamos iniciar o quanto antes, diria que dentro de alguns meses não mais que um ano.

E o tratamento é agressivo? Perguntou ela.

Um pouco, disse ele, mas a senhora não deve se preocupar pois os efeitos colaterais são passageiros, já para a infestação humana, não posso dizer o mesmo se é que me entende.

E eu ficarei bem, digo, ao final de tudo? Disse ela.

Absolutamente! Disse ele. Nova em folha! Como se tivesse acabado de sair de um berçário estelar, poderia até trocar de nome se quiser, sempre achei Terra um tanto estranho.

Bem, disse ela conformada, se não há outra opção, sigamos então com o tratamento. Eu tentei sabe, doutor, de verdade! Tentei lidar com isso da melhor forma mas acho que cheguei ao meu limite, não estou mais suportando, o cansaço me devora e. Parou de falar, sentia que as lágrimas viriam feito oceanos.

Não se preocupe, disse o doutor sendo afável, eu compreendo e a senhora não deve sentir-se culpada por nada. Sabemos que a senhora não fez nada disso e nem causou e estamos aqui para ajudá-la agora, se a senhora puder conversar com minha assistente na recepção, ela irá informar todo o procedimento e agendar o início do tratamento, tudo bem?

Claro! Eu agradeço sua atenção, doutro, de verdade.

Não por isso, disse ele.

Ela então levantou-se e saiu do consultório, foi falar com a atendente para agendar os detalhes do tratamento e bem lá no fundo, ainda que sentisse uma certa tristeza, um pequeno fio de esperança começou a aparecer.

14 de abr. de 2020

Deus está morto?

O Deus combalido, fraco e falido acordou de seu sono quase eterno encharcado num suor de galáxias e zonzo de outros universos.

Havia tido um pesadelo horrendo. Ainda incerto de estar realmente acordado ou ainda preso naquele horror onírico, chamou pelos outros Deuses para lhes contar o que sonhara e pedir que lhe interpretassem, dessem algum sentido, ordem ou significado pois mesmo sendo Deus, quando nos domínios do sonho ainda se submetia aos desígnios de divindades muito mais antigas, anteriores e há tempos esquecidas e mortas salvo na mente dos Deuses novos que ficaram em seu lugar sem saber se eram filhos desses Deuses de antes ou Novos Deuses que criaram a tudo que existia.

Cercado já dos outros Deuses, começou a contar-lhes seu pavoroso pesadelo mas antes, perguntou por quanto tempo havia dormido. Os Deuses não sabiam responder ao certo, alguns diziam apenas dias, outros horas, uns diziam que talvez milênios ou milhões de anos mas o consenso era que não se podia dizer já que o tempo para Deuses fluía de forma distinta.

Conformado com tal ignorância, o Deus começou seu relato.

Não se lembrava de como tinha adormecido mas apenas de, sem razão aparente, ter sentido um sono incontrolável e dormido quase que instantaneamente. Deuses dormem ainda que seja um fato muito raro e que deva ocorrer, para colocar em termos humanos, como se uma pessoa dormisse durante todo o decorrer de sua vida apenas duas vezes antes do sono permanente que nem mesmo Deuses podem escapar ainda que para eles, tal sono seja outra coisa.

O Deus lembrou-se de que de início não havia notado nada anormal, Deuses sonham mas são cuidadosos ao sonhar pois às vezes, de seus sonhos podem surgir realidades inesperadas e incontroláveis. Disse que primeiro apenas sonhara, nada fora do comum, sonhos de Deuses são de certa forma parecidos com o humanos, mudam apenas em escala.

Lembrou-se de que tudo parecia correr bem enquanto sonhava até, em certo momento, passou do sonho ao pesadelo onde pessoas eram criadas a sua imagem e habitavam um lugar idílico onde tudo era permitido e concedido e a inocência reinava lado a lado com o conhecimento mas, a criação divina parece não ter ficado satisfeita com aquilo e queria algo chamado liberdade e acabou se rebelando e o Deus, ressentido, expulsou a todos do lugar concedendo a liberdade que almejavam mas advertindo que ela não viria sem um preço.

Dali em diante o pesadelo foi piorando pois as criaturas e o Deus nunca mais se entenderam e pensavam sempre novas formas de ofender um ao outro acarretando guerras, desgraças, fome, doenças, morte, extinções, horrores jamais imaginados e tudo só fazia piorar ainda que, de tempos em tempos, houvesse algum período de distensão como um tipo de fôlego que se toma antes de mergulhar novamente a cabeça na água.

O Deus lembrava-se de que mesmo tendo feito de tudo para ajudar as criaturas, sua relação com elas seguia deteriorando e cada vez mais tanto ele como elas estavam descontentes e sem encontrar uma solução para a relação já desgastada. Havia gente qua ainda tentava fazer com que as duas partes se falassem mas eram arremedos de profetas e enviados e só faziam mais mal do que bem até que, depois de uma doença que dizimou quase todas as criaturas e que não fora do feitio do Deus porque ele, apesar de tudo, amava as criaturas e apenas enviava castigos proporcionais a ofensa que um filho comete a um pai eternamente amoroso; o Deus resolveu que era tempo de encerrar aquele experimento falido e num estalar de dedos dizimou todas as criaturas e foi nesse momento em que acordou.

O Deus terminou seu relato e pediu aos outros Deuses que lhe interpretassem o sonho. Sem saber o que dizer, os Deuses ficaram olhando uns para os outros buscando algum tipo de informação que permitisse responder ao questionamento feito mas sem encontrar.

O Deus ficou impaciente ante a mudez dos Deuses e exigia que lhes dessem uma explicação para aquele sonho inquietante até que, entre os Deuses, um se levantou e aproximando-se do Deus pousou a mão esquerda em seu ombro e disse.

Mas Deus está morto! Nós não somos Deuses mas seus companheiros neste sanatório há anos já! Você morreu faz tempo e nós também morremos há tantos anos que nem mais sabemos contar mas seguimos vivos e sonhando que somos Deuses e que você é Deus porque estamos vivos nas mentes de quem ainda lembra de nós mas, fomos trancafiados aqui porque não somos mais do que lembranças mesmo e ninguém lá fora quer viver delas salvo esses poucos que nos mantém vivos. Nós morremos juntos faz muito já, apenas não fomos enterrados mas trancados vivos aqui para irmos aos poucos definhando até deixarmos de ser...

O Deus olhou para o Deus com olhar perdido e um pequeno fio de saliva correu do canto de sua boca, talvez fosse uma lágrima que incapaz de encontrar caminho pelos olhos acabou saindo por ali e, engolindo em seco disse.

Deus, estamos aqui então? Vamos morrer assim?

Todos acenaram com a cabeça e o Deus então deitou-se, encostou a cabeça no travesseiro e voltou a dormir.

13 de abr. de 2020

Velha roupa colorida


Que a morte vai chegar não resta dúvida, independente de cor, classe social, posses, orientação sexual, identidade de gênero, idade, nacionalidade ou o que for.

A hora de passar a régua e encerrar a conta vem de qualquer maneira.

Mas de tempos em tempos, somos confrontados com situações que nos fazem encarar a hora final com mais frequência e urgência queiramos ou não, como esses tempos de pandemia quando vidas humanas são ceifadas em baciadas sem dó ou piedade.

A bem da verdade, antes de tudo isso que estamos vivendo, pessoas morriam de moléstias diversas, algumas completamente curáveis mas cujos doentes não tinham acesso devido a barreiras sociais, políticas ou econômicas, outras sem cura independente do quão rico fosse o doente e, infelizmente, morriam por fome, inanição ou causas não naturais que, em tese, a humanidade deveria ter deixado para trás há séculos.

O que deixa a todos espantados e assustados é velocidade com que estamos morrendo agora e a incerteza de nossa invulnerabilidade ante o avanço inexorável da doença. A morte antes acenava como algum tipo de visita distante que ia acenando cada vez mais perto até não ser mais possível ignorar sua presença. A morte era um problema do outro, lamentávamos que ela havia chegado, cumpríamos os ritos de despedida e enterrávamos junto com o falecido nosso medo de que poderíamos ser os próximos.

Com a pandemia, esse medo passou a dividir a mesa conosco e, em quarentenam temos de dormir e acordar com ele ao nosso lado, fazer as refeições, tomar banho e fazer de conta que ele não está lá. A urgência da morte veio e fez casa e não parece que vai embora tão cedo e com ela, veio o pânico de que o outro pode ser o agente mortífero e não o outro que sempre enxergávamos como imbuído de más intenções e desejoso de nos ferir para compensar qualquer desejo patológico ou desfavorecimento social. O outro na pandemia adquiriu um ar mais soturno de amigo que repentinamente ficou perigoso e precisamos manter afastado.

Talvez passada a pandemia nunca mais sejamos os mesmos uns com os outros, ingressaremos na era do pós-social, não sei mas sei que se há algo que aprendemos ou deveríamos estar aprendendo com isso é como tratamos nossos idosos.

Já por costume e tradição, nós ocidentais tendemos a enxergar os velhos como um fardo, algo que deve ser descartado e colocado de lado. Nossa sociedade preza a juventude e o novo como bálsamos insubstituíveis, o que é velho deve ser posto num museu e esquecido, inscrito nos livros de história para ninguém mais ver e ouvir falar.

Com o advento da pandemia e durante o vigente governo de agenda neoliberal ficou claro que as vidas idosas são um preço aceitável a ser pago para manter a roda girando e a sociedade funcionando afinal, eles já cumpriram seu papel, deram sua contribuição e precisam agora dar espaço aos jovens que tem de construir a pátria arrasada Brazil. O governo certamente agradece esse sacrifício já que promoverá um fôlego nas contas públicas sem que seja preciso posar de vilão ante a sociedade.

As vidas idosas passaram a ser moeda de troca no jogo político e social, se antes eram um incômodo encarado por muitas famílias como obrigação da qual se incumbiam sob o medo do julgamento social, com a pandemia passaram a ser artigo de exposição e justificativa para expressões de descaso das autoridades e até mesmo entre familiares que antes estariam pouco se lixando para elas.

Na verdade, esse valor súbito das vidas idosas vem do medo que a pandemia - como está se mostrando - não se retenha nelas e passe a devorar outras vidas com a mesma voracidade. Se um velho morre por que sua vida se extingue naturalmente ante o desgaste e fragilidade impostos pelo tempo não há problema afinal, é o curso natural das coisas mas, quando uma doença agressiva começa a ceifar essas vidas e mostra que pode clamar por outras mais jovens, entregamos as vidas velhas como oferenda para ver se a doença se sacia e nos deixa em paz.

Já ouvi e creio que tenham ouvido também comentários de que deveríamos deixar os velhos morrerem e focar no salvamento dos mais novos porque os velhos já estão no fim mesmo, qual a utilidade de gastar recursos com eles? Isso diz muito sobre nós como sociedade e espero que saíamos disso com outra concepção de valor da vida humana e de como tratamos nossos idosos.

Não vai adiantar muito passarmos por isso tudo e nossos idosos seguirem abandonados em asilos e largados a própria sorte porque não tem mais qualquer utilidade para nós nem para a sociedade. Sairemos de uma pandemia apenas para entrar em outra que sempre vivemos.

10 de abr. de 2020

A epidemia que podemos curar


Estamos em distanciamento social ou isolamento, como preferir mas o fato é que é compulsório, era isso ou deixar a doença espalhar feito fogo rasteiro e ceifar vidas até cansar ou alguém aparecer com alguma cura.


Mas antes da pandemia e de sermos forçados a ficar em casa, reassinar ideias de trabalho e contato social e reentender o que é viver, já vivíamos isolados e distantes socialmente.


Sim.

Fazíamos isso quando optávamos por desver as pessoas que precisam de nosso apoio não apenas em momentos como esse mas em todos os momentos da vida.

Quando fazíamos de conta que os problemas de outros não eram os nossos, o que arde nos olhos alheios é brisa nos nossos.

Quando falávamos coisas bonitas nas redes sociais mas fechávamos as portas quando a ajuda tinha de ser real.

Eu espero que essa pandemia sirva ao menos para que, ao final dela, sejamos pessoas mais conscientes e presentes nas vidas uns dos outros e dispostas a apoiar, incentivar e valorizar quem enfrenta uma pandemia social há tempos.

Então, já que estamos todos imbuídos desse sentimento cívico trazido pelo afastamento da pandemia, um jeito meio torto e bruto de nos aproximar, que tal prestigiar o trabalho de gente capacitada, que batalha, que luta e que precisa da sua ajuda para seguir na batalha diária contra um vírus muito mais mortal que esse de agora, o vírus do preconceito para o qual ainda não temos cura infelizmente.

E não deixe esse sentimento passar com a pandemia, implante ele no seu coração e em sua mente, faça com que ele perdure e valorize o humano porque a vida passa rápido demais para deixarmos que ela seja maculada por preconceito, fobias e qualquer coisa que não seja o amor.




9 de abr. de 2020

O medo de nós mesmos

Enquanto Bolsonaro articula seu auto-golpe espalhando seus factóides e emparedando a democracia um tijolo por vez, nós seguimos isolados compulsoriamente até que a normalidade decida dar as caras novamente.

Talvez o COVID tenha apenas derrubado uma ilusão de liberdade e autonomia que pensávamos ter envoltos em nossas batalhas diárias por uma vida que nunca foi nossa e que agora descobrimos não ser a que queríamos.

Já vivíamos em isolamento feliz sem reclamar disso, fechados em nossas casas, trancafiados atrás de portas, fechaduras, travas e cadeados vendo o mundo passar pelas telas do computado, celular e TV e aceitávamos isso como parte da modernidade facilitadora da vida, benesses tecnológicas facilitadoras.

Quantos de nós efetivamente sabiam como foi o dia uns dos outros, tinha uma genuína preocupação com isso para além de curtir ou repostar uma foto ou comentário? Aquele bom dia que não saía da boca, aquele aperto de mãos que não vinha nunca, aquele olhar que jamais chegava. A imersão digital que nos alimentava a vida supria com folga a necessidade de toque e contato humano relegando este a ocasiões específicas e pontuais.

Ainda nos víamos, conversávamos, sorríamos e olhávamos uns para os outros mas sempre sob um olhar on-line considerando aquela pessoa a nossa frente algum tipo de emulação de seu eu digital, nos perguntando intimamente se aquela simulação era parte do feed das redes e concluindo, de forma nada empírica, que por dentro o que havia era um pão há muito bolorento.

A pandemia colocou abaixo esse simulacro de civilidade forçando nossa vista para o interior jogado para baixo do tapete da vida, acabamos confrontados com nós mesmos e com o outro e descobrimos que nem ele, nem nós éramos quem imaginávamos ser. Trancados dentro de nossas casas, acabamos tomando uma consciência de que nosso corpo é finito em si, suas necessidades são outras totalmente diferentes das que o cotidiano externo clamava e nossas vidas independem de algum tipo de fé irrestrita numa ideia vaga de que as coisas são como são e de que tudo se resolve por si.

Confrontados com a clausura forçada, descobrimos que há vida dentro da vida que tínhamos, uma vida que não sabíamos, que desaprendemos, que esquecemos e tivemos de reaprender a usar. Seremos os QUARENTENIALS, os filhos da pandemia e sairemos dela com outros modos e hábitos. Talvez sejamos testemunhas do pós-internet pois se por um lado a rede ajudou muitos de nós a não enlouquecer, acabou mostrando nossa dependência um do outro e como a hierarquia social que julgávamos justa era apenas uma falácia.

No melhor cenário, sairemos disso com algum tipo de noção renovada da importância do convívio humano ainda que, num primeiro momento, temerosos de ter essa contato. No pior cenário, passaremos a ser criaturas isoladas e que valorizarão a individualidade real e virtual ainda mais concluindo que o suficiente para sermos felizes é termos apenas a nós mesmos o que, grosseiramente, não está assim tão longe da verdade.

O que não morrerá e certamente aumentará é o medo que temos uns dos outros, esse medo não apenas pela violência social que nos aparta e afeta mas o medo congênito de que o outro sempre é uma ameaça de algum tipo a nossa integridade, sanidade e autenticidade enquanto indivíduos. Se antes vivíamos esse medo de forma comedida e um tanto educada, polindo as arestas sociais que nos afetavam e tolhendo o contato com pessoas que se apresentassem como potencialmente nocivas, no mundo pós-pandemia teremos de somar a esse medo o medo de que esse outro competindo pelas mesmas coisas que nós também pode ser arauto de doença e morte e por isso mesmo deve ser isolado e afastado tanto quanto for possível.

A herança da pandemia será essa, o medo desnudo e irrestrito, justificado do outro que passa a representar uma ameaça real e não mais imaginária e desse medo nascerá o homo pandemicus que saberá lidar com essa convivência virótica melhor que seus antecessores.

A ver.

8 de abr. de 2020

MADE IN CHINA

O ego inflado e inflamado dos patriotas agora ataca a China como grande vilã da pandemia. demandam pedidos de desculpa e até mesmo que indenizem a todos por ter espalhado essa doença.

Entendo.

Como não podem culpar seu mito que, cambaleante, tenta achar um meio de lidar com a crise sem deixar de ser quem é, identificam um culpado de fora e nele jogam toda a sua frustração e ódio, melhor que assumir para si e publicamente que estão sob o mando de um presidente incapaz, inepto e que foi alçado ao governo sem saber bem como faria aquilo.

Atacar a China expõe o lado mais frágil e pernicioso dos patriotas, o sentimento de que o Brazil é uma super potência saída diretamente dos tempos saudosos da ditadura, celeiro do mundo, pulmão do planeta, o mundo precisa de nós e não o contrário então, podemos nos dar ao luxo de desprezar qualquer potência mundial.

A China é a segunda economia mundial e responsável por grande parte de nossas exportação principalmente de soja e carnes. Um governo que se preocupa tanto com a economia a ponto de não se importar em sacrificar vidas humanas para manter a balança comercial funcionando deveria, em tese, tentar a todo custo manter excelentes relações com um de seus principais parceiros comerciais ainda mais em tempos de crise mas, não é o caso do (des)governo Bolsonaro que  prefere ceder aos rompantes de sua base ideológica.

Por mais de uma vez, o 'gabinete da confusão' promoveu crises graves com a China e a última, causada pelo Ministro (?) da Educação (??) em conluio com os rebentos esquizofrênicos do messias, pode render prejuízos graves se os bombeiros de plantão não agirem rápido - Mandetta correu para desfazer o mal estar afinal precisamos da experiência da China em lidar com a pandemia e de seus insumos e equipamentos médicos.

Como se não bastasse o governo confuso que joga com a desinformação, seu séquito de nacionalistas compraram a briga e, nas redes sociais, passaram a subir um boicote a tudo que for que de origem chinesa e, como disse mais acima, demandar um pedido formal de desculpas.

Lamento dizer que esse boicote, se pegar, vai deixar poucas opções de compra para vocês já que praticamente tudo que consumimos tem algo vindo ou com a participação da China em sua feitura ou composição. Outro ponto interessante, se vão mesmo boicotar produtos chineses, sugiro então pararem de comprar naquelas galerias de lojas box onde tudo que é vendido é de origem chinesa, aqueles produtos que vocês não tem como comprar os originais mas adoram ostentar as cópias como se assim fossem, aquelas capinhas de celular e todo tipo de bugiganga que vendem ali, passem a comprar os produtos de revendedores autorizados e mesmo assim, ao mirar no verso ou etiquetas vocês darão de cara com um MADE IN CHINA.

Também parem de frequentar a Rua Santa Ifigência e adjacências afinal 99,9% do que se vende lá vem do país comunista que vocês odeiam e culpam pela pandemia. Não comprem mais roupas no Brás nem na José Paulino, não comprem mais nada e parem de consumir macarrão, empinar pipa, pedir porte de arma que usa pólvora e esqueçam fogos de artifício na virada do ano.

E se for para pedir desculpas, que tal pedir a Holanda que se retrate por ter inventado a escravidão? Que tal pedir aos EUA que se desculpem pela crise de 1929 e de 2008 e pela bomba de Hiroshima? E a Alemanha por meter o mundo em duas guerras seguidas? E Portugal por ter mandado para cá somente os degredados? Que tal pedir a França que se desculpe pelos massacres nas guerras coloniais? E pedir ao Brasil que se desculpe aos índios e negros pelos séculos de assassinatos e exploração?

Que tal, para encerrar, vocês que votarem nesse demente que está nos levando para o abismo cantando o hino nacional, nos pedirem desculpas por terem colocado a todos nessa roubada?

Só acho. 

7 de abr. de 2020

BRASOC


Nunca um livro me pareceu tão real quanto 1984 de George Orwell.

Duvida? Vejamos então.

Temos um governo que renega e deseja ardentemente reescrever e reinterpretar o passado sob a luz de sua ideologia fomentando o negacionismo e que seus opositores deturparam a história em benefício próprio.

Confere.

Temos um governo que está desmontando a educação e cultura rengando qualquer manifestação cultural ou educacional que seja contrária a seus ideais de sociedade, desestimulando a ciência e qualquer área de estudo que seja relacionada ao pensamento, crítica social ou humanidades dando prioridade a outras áreas que sejam mais 'produtivas' e tragam um benefício real a nação.

Confere.

Temo um governo que unificou toda uma parcela considerável da sociedade contra um inimigo inexistente mas que está sempre alerta para derrotar a nação e acabar com o modo de vida que conhecemos. Essa luta é inexorável, 24x7 e não pode jamais arrefecer.

Confere.

Temos um governo que promove 'minutos de ódio' diariamente nas redes sociais contra os inimigos da pátria, do povo, da família e da sociedade angariando uma turba ensandecida que está disposta a matar ou morrer pelo seu país.

Confere.

Temos um governo que condena e renega a imprensa livre porque a considera vendida, não isenta, tendenciosa, mentirosa e suja. É a maior fonte de notícias falsas que existe mas nega tudo com veemência mesmo quando pegos em flagrante e botam a culpa na imprensa pérfida que distorce todos os fatos e conclamam a sociedade a não lhe dar ouvidos, apenas às fontes chanceladas pelo governo.

Confere.

Temos um governo que promove a desigualdade social como liberdade, cada um tem um papel na sociedade e deve desempenhá-lo com orgulho pelo bem da pátria sem desejar ser o que não é e nunca poderá ser.

Confere.

Temos um governo que vai na direção oposta de qualquer fato comprovado e que controla sua narrativa com mão de ferro desmerecendo, humilhando, descredenciando, ofendendo e ameaçando quem se opõe a ele ou fala verdades inconvenientes.

Confere.

Temos um governo centrado numa figura mítica que representa o ideal supremo da nação, o mito, o salvador, o messias, uma figura acima de qualquer julgamento e que deve ser seguida sem questionamento ou argumentação.

Confere.

Viu como estamos vivendo já na BRASOC?

Você que não se deu conta ainda....

6 de abr. de 2020

Eu te amo meu Brasil

Hino Bandeira Flâmula Brios Velório Caixão.

Brasileiro é algo saído de um laboratório estranho, de alguma combinação misteriosa que deu um povo meio nem lá nem cá mas que sabe seu lugar sem igual no mundo.

Carlota bateu as tamancas ao sair daqui para não levar da terrinha nem um mísero grão de pó e nós que descendemos de quem ficou estamos até hoje batendo essa mesma poeria de nossos sapatos.

Nunca tivemos assim um senso de nacionalismo tipo o Made in USA salvo na sazonalidade de eventos como copas do mundo, olimpíadas e afins quando a nação vira canarinho e parece lembrar que vive debaixo da mesma bandeira. Passado isso, voltamos a viver em pequenos brasis.

Durante a ditadura - e sim, foi uma DITADURA por mais que seu presidente diga o oposto - num frêmito ufanista, todos cantávamos EU TE AMO MEU BRAZIL EU TE AMO, era a época do AMEO-O OU DEIXE-O que ajudava o regime a manter o povo em rédea curta e exaltava os valores nacionais mascarando as barbáries que os milicos cometiam debaixo do verde e amarelo onde rios de sangue corriam mansos.

Agora, vivemos a mesma coisa repaginada através do desgoverno Bolsonaro, BRAZIL ACIMA DE TUDO-DEUS ACIMA DE TODOS com a adição desse conteúdo teocrático apavorante. Fustigando as massas com fervor nacionalista, Bolsonaro vai enfiando goela abaixo sua agenda neoliberal, conservadora e 'cristã', PÁTRIA ARROMBADA BRAZIL.

O mais triste nisso tudo é que se antes já éramos um povo tímido e até mesmo envergonhado em ostentar símbolos nacionais, expressar nosso amor ao país que nos pertence, com a eleição do messias fomos exilados de vez dessa prerrogativa.

Há de entender - e não sou eu que irei explicar isso, há gentes mais capacitadas para isso - porque nunca tivemos esse orgulho nacional salvo em ocasiões isoladas. A melhor explicação penso que a deu Nelson ao nos alcunhar de eternos vira-latas mas, acho que nossa vergonha anda de mãos dadas com nosso orgulho porque ao mesmo tempo em que achamos brega usar as cores nacionais, batemos no peito e adoramos o reconhecimento de sermos brasileiros.

Temos orgulho em sermos brasileiros mas não em sermos do Brazil porque ser brasileiro é uma ideia, um conceito que vai além de fronteiras, bandeiras e cartas magnas enquanto o país é algo obscuro e fadado a ser associado a coisas menos edificantes e de que sim devemos nos envergonhar ou seja, somos brasileiros mas não somos do Brazil, renegamos essa associação como se brasileiro fosse algo alem da pátria, uma condição eterna que independe de fronteiras, um estado de espírito.

Essa dissociação de pátria/nacionalidade nos persegue e creio que nos perseguirá durante muito tempo ou para sempre, quem sabe? Não existe um Brazil mas vários e digo isso não de maneira sociológica ou antropológica mas com a ideia de cada um nós carrega um país dentro de si que é totalmente distinto do conceito de nação que deveríamos ter como um todo.

E o pior é o roubo que o conservadorismo fez de nós mesmos, do orgulho em sermos brasileiros como disse mais acima. Deturparam de tal modo que passamos a associar nossas cores, bandeira, hino e tudo mais a moralismos, religião e vertente ideológica a ponto de execrarmos tais símbolos pátrios como se fossem parte de um rito de exorcismo.

Acho que passou da hora de roubarmos de volta esses símbolos que eles nos tiraram e deturparam mas, para isso, precisamos que o Brazil em mim possa falar com o Brazil em vocês e que todos esses Brazis possam falar entre si e numa só voz gritar BASTA!

3 de abr. de 2020

Canção para fim de quarentena

Quando acabar essa doença toda eu quero sair pra ver a rua que a rua não me vê se é que um dia me viu.

Quero ficar doente de gente , infectado de nós, contagiado de sexamor e gozopleno, humanovirus.

Quero uma quarentanós entre quatro paredes até que a gente acabe lambendo os ossinhos um do outro.

Quero inficção de livros, de prosa, de verso, de métrica, de réplica, de sexofaladofeitoaquatromãos.

Quero teste de contágio da contagem de beijos e orgasmos que vou ter e quero contraprova de todos os falsos posinegativos que me disseram que eu não iria mais tocar ou deixar tocar.

Quero o gosto do gozo que falo que quero que preciso sentir porque andei na quarentenoia, abstinência, falta, peru frio e tremedeira pós pandemia.

Quero dar meu amor pra quem pedir, minha boca de quarentena seca e pronta pra molhar, jorrar, lamber todos os lábios e buracos que eu nem lembro mais onde estão.

Quero sair de mim e entrar em nós, quero sair de nós e entrar em loop, por as pessoas no shuffle e sair beijando e abraçando até que eu seja a pandemia.

2 de abr. de 2020

O mundo de amanhã

Poucas vezes vi uma pessoa tão sensata quando o cientista Atila Iamarino entrevistado do último Roda Viva.

De maneira didática, simples e direta, explicou o tamanho do problema que enfrentamos, como há tempos já se previa que poderia acontecer sem que nenhum governo tomasse qualquer providência e, sem expressar qualquer ideologia que pudesse ser usada para desacreditar seu discurso (obviamente que os Bolsonaristas irão achar qualquer resquício de socialismo e esquerdoapatia em sua fala) teceu cenários claros de como passaremos e sairemos dessa pandemia.

Acima de tudo, considerando o Estado Teocrático que já vivemos e o desmonte - que já vinha de  anos e anos - pregado pelo atual governo da ciência em detrimento de estudos, formações e profissões que representem um 'ganho' efetivo e imediato para o país a saber, médicos, advogados e engenheiros, aquelas profissões que toda a família branca, hetero, cis gosta de ter em seus quadros, enfim, tudo isso posto, é na ciência que temos a única esperança de solucionar esse problema.

Não em igrejas, templos ou afins. Em laboratórios. Esses mesmos que estão sucateados e largados a própria sorte e que agora, precisam tirar do ar uma vacina para curar a todos.

Mas, o que mais me preocupa na fala de Atila e vem me preocupando com frequência é como sairemos dessa crise. Não digo a saída em si pois sei que ela está lá e que iremos encontrá-la, me refiro a como sairemos dela enquanto pessoas porque o mundo que deixamos para trás quando entramos em quarentena não existe mais.

Ainda é cedo para entender como será isso, como faremos e como lidaremos com esse novo mundo que se abrirá e tenho certeza de que durante as próximas décadas, muitos estudiosos estarão debruçados sobre essa crise tentando entender os impactos dela em nosso modo de vida.

Fico matutando em como será quando a quarentena for suspensa ou encontrarmos uma vacina ou tratamento para essa doença. Voltaremos ao mundo como se nada tivesse acontecido? Retomaremos nossa rotina como sempre foi? Teremos os mesmos hábitos e costumes? Seremos essencialmente os mesmo?

Pessoalmente, acho que não.

Somos criaturas sociais ou anti-sociais conforme o caso, não fomos feitos para o isolamento, qualquer animal confinado adoece do corpo e da alma além de ser extremamente perigoso. Esse período que estamos passando pode ser benéfico ou nocivo conforme você decida encarar, talvez precisássemos dele para rever alguns conceitos, reavaliar nossas vidas e perceber que a imersão numa equação trabalho-casa-trabalho-sem tempo irmão não tinha uma solução que não considerasse a nós como o X da questão.

Passamos a entender que o tempo pode sim correr em outros ritmos e que cada um de nós possui tempos diferentes. Começamos talvez a valorizar mais o trabalho de cada um de nós entendendo que sem ele, o nosso pouco faz sentido. Algum tipo de empatia e simpatia parece ter nascido quando, trancados em casa, começamos a notar o quanto nossas vidas são cheia de coisas vazias e como pouco conhecíamos uns aos outros tendo vivido juntos por tantos anos.

Talvez tenhamos começado a entender que não precisamos estar em todos os lugares ao mesmo tempo, comprando tudo que não precisamos ao mesmo tempo e usando a internet para algo útil. Demos férias ao planeta que está finalmente descansando de nós, quem sabe não voltamos para ele com outros olhos, mais humanos, mais coletivos, mais sensatos.

Tomara que passemos a dar mais valor aos poucos e mágicos momentos que temos uns com os outros pois a epidemia mostrou a todos nós que a vida é um sopro, um vento que passa, um ar. Quem sabe não aprendamos a eleger melhores representantes, pessoas mais dedicadas ao bem comum e não a ideologias ou partidarismos.

E talvez saiamos disso com um senso melhor de pressa e urgência.

A vida pós-pandemia ainda é uma incógnita, estamos todos apenas especulando, jogando ideias ao vento para ver qual vai vingar. Pode ser que nada disso que escrevi aqui aconteça e que saiamos disso tudo ainda piores do que entramos, teremos cicatrizes obviamente, histórias a contar por alguns anos mas a grande questão imediata é, o que faremos com tudo isso que estamos passando?

1 de abr. de 2020

Discurso para um país que vai ser

Boa noite.

Hoje, dia Primeiro de Abril, celebramos o aniversário da Gloriosa Revolução de 1964 quando nossos militares patriotas livraram a nação do perigo socialista e também o aniversário da Revolução Patriota de 2020 quando logramos vencer os inimigos da pátria e devolver o país aos Brasileiros.

Nessa data tão importante para a história da nação, reiteramos nosso compromisso com a pátria, família, Deus e tradições seculares que fizeram de nosso país um bastião para os cidadãos do bem, que prezam pelo trabalho, honestidade, honradez, bons costumes e valores familiares.

Asseguro a todos vocês, patriotas, que nossa luta iniciada em 1964 e retomada em 2020 segue firme, inabalável e incansável para que todos os Brasileiros possam ter orgulho de seu país e de viverem em uma pátria temente a Deus e que sempre colocará os interesses do povo acima de qualquer ideologia ou propaganda da esquerda perniciosa.

Nosso combate aos inimigos da nação é diário, nossa vigilância ostensiva e nossa vontade, de ferro. Não vamos esmorecer ou baixar nossa guarda enquanto houver qualquer tipo de ameaça socialista ou ideológica aos cidadãos de bem de nosso Brasil. Nosso país jamais será um lar para as pessoas que não temem a Deus e não se encaixam em nosso projeto de construir uma nação sólida, unida e ungida pela vontade divina em se tornar uma grande pátria para todos os seus filhos.

Lembramos também nesta data os patriotas tombados durante a grave crise da pandemia causada pelo socialismo e que, com a graça de Deus e apoio da população brasileira, logramos vencer. Tivemos muitas baixas nesse combate e esses heróis que deram sua vida pela nação jamais serão esquecidos e para sempre serão louvados em nossos hinos e bandeira.

O sangue de nossos heróis segue nas mãos dos esquerdistas, socialistas e da imprensa pérfida que ainda resite em alguns focos isolados mas lhes asseguro, descansaremos apenas quando o último par de mãos desses inimigos da pátria forem trazidos a luz da Justiça de Deus e dos Homens para que seu sangue possa lavar o sangue dos patriotas que de seus túmulos clama por Justiça e vingança.

Celebrem esta data festiva com suas famílias, irmãos e irmãs, com seus amigos e em paz tendo a certeza de estaremos aqui sempre zelando pela segurança de todos os patriotas e lembrem-se, é papel de cada um de nós construir um Brasil mais forte, mais seguro, mais justo e melhor e para isso, a atenção deve seguir sempre ante os inimigos da pátria.

Que Deus abençoe nossa Pátria Amada!

Brasil acima de tudo, Deus acima de todos.

Uma boa  noite.

lembranças aleatórias não relacionadas com a infância

Lembrança #10 Lembro de uma festa ou rave ou balada que eu ajudei um amigo a organizar num tipo de sítio eu acho. Estava separado do meu nam...